Começo este resumo por um vídeo. Esta jogada de Travante Williams, que o Cherba referiu, e bem, nos comentários do NBcÁ da semana passada, resume, a meu ver, aquilo que foi o Sporting em termos ofensivos, em dados momentos deste jogo. Sorry Travante! Nothing personal.

E, se num jogo frente ao último classificado, isto não tem grande influência, frente a boas equipas, isso tem o seu custo, como já vimos anteriormente.

Já escrevi várias vezes que o Sporting baseia o seu momento ofensivo em processos simples; um ou outro bloqueio, leitura de jogo do posicionamento defensivo adversário e tentativas de tirar partido de missmatchs interiores e/ou exteriores. Isto representa a grande maioria do nosso volume atacante. Depois, temos as segundas bolas ganhas em ressaltos ofensivos, as finalizações em contra-ataques e, claro, algumas jogadas organizadas e trabalhadas nos treinos (algumas das quais também já trouxe para aqui).
A vantagem deste jogo mais “individualista” é que pode causar alguma incerteza a quem defende. Se quem ataca joga com aquilo que a defesa lhe dá (o que faz depender da leitura de jogo e dos “artistas” em questão), a defesa terá que ser extremamente coesa e não dar nada, de forma a dificultar quem ataca. E foi precisamente isso que aconteceu, em alguns momentos do jogo frente ao FC Porto.

O Sporting acabou por ter algum ascendente na primeira parte, sobretudo no 2º período, fruto da capacidade individual de Travante Williams e James Ellisor, tirando muito partido dos duelos individuais e de uma defesa bastante agressiva. O regresso de Fields (que não jogou frente ao Porto na final da Taça) deu uma grande ajuda no jogo interior para combater Eric Anderson, Tanner Mcgrew e Miguel Queiroz na luta pela área pintada. Ao intervalo, 6 pontos separavam as duas equipas, com o Sporting na liderança por 35-41.

O 3º período foi terrível! O Sporting, se quer ganhar jogos, não pode sofrer um parcial de 22-9! Que me lembre, isto só tinha acontecido uma vez, e até foi bem pior, quando vencemos o Benfica no Pavilhão João Rocha (na 1ª volta deste campeonato). Na altura, no 2º período, a mudança para defesa à zona, por parte do Benfica, levou-os para um parcial de 24-7! Este tipo de períodos em jogos equilibradíssimos, com equipas de valor e valia semelhantes, é quase impossível de recuperar!

Porém, se há equipas que conseguem este tipo de recuperações é o Sporting! Com uma nova atitude e uma equipa mais móvel em campo, o Sporting conseguiu um parcial de 12-0 a abrir o 4º período e regressou ao comando do jogo por 62-57. O restante período foi bastante equilibrado, mas sempre com um ascendente do Sporting, o que lhe permitiu, nos minutos finais, acumular uma vantagem que ia variando entre os 6 e 8 pontos, sendo que, a 1:16 minutos do fim, era de 6 pontos. “O jogo já não foge!”, pensariam alguns…

E aqui reside outro dos meus motivos de preocupação: o Sporting não tem sabido gerir vantagens, porque, nestes momentos, continua a praticar o seu jogo simples de leituras de jogo e base individual, o que, a meu ver, é errado!

Nestas alturas, pede-se calma, boa gestão da posse de bola e do tempo de ataque e, sobretudo, colectivismo: é nestas alturas que o “playbook” devia ser utilizado! Até porque, após estar um jogo inteiro a defender de uma forma, a equipa adversária, neste caso o Porto, teria que se adaptar a outro tipo de jogo (um pouco como, por vezes, as equipas mudam para uma defesa à zona para baralhar momentaneamente o ataque) e isso pode trazer grandes vantagens para quem ataca! A introdução de novas variantes e novas soluções obriga a outra equipa a reagir e adaptar-se rapidamente e, não conseguindo um triplo convertido, por exemplo, pode significar uma diferença no marcador de 8 para 11 pontos (e todos sabemos que aquela barreira dos 10 pontos pesa muito na parte psicológica de quem está atrás no marcador).

O prolongamento acabou por ser um prolongamento (passe o pleonasmo) do que foi a parte final do 4º período, com o Porto a ser mais lúcido em certos momentos, o que lhe acabou por valer a vitória final, por 81-78.

Algumas notas soltas:
– Este jogo viveu muito dos missmatchs, como já disse; se por um lado Ellisor tinha vantagem sobre Riley no ataque, sobretudo nas zonas interiores, o pequeno americano tinha vantagem sobre quase toda a gente quando o Porto atacava (fruto da sua rapidez e capacidade de lançamento). Isso obrigava Travante a encarregar-se da sua marcação, o que deixava Ellisor com Larry Gordon. Gordon fez um jogo monstruoso, com 30 pontos e 10 ressaltos, tendo marcado quase sempre em momentos chave!
– Fields ficou de fora da parte final do tempo regulamentar. Eu percebo que foi com uma equipa mais móvel que o sporting voltou ao jogo, mas necessitávamos de Fields para fechar aquela área pintada e dar maior poder de fogo na luta pelas tabelas.
– Estatisticamente foi tudo muito equilibrado, com o Porto a levar vantagem na percentagem do “tiro” exterior (31% contra 22%) e nós a cometermos menos turnovers (17 contra 25) e a conseguirmos bem mais roubos de bola que o nosso adversário (15 contra 4)!
– Nota final para mais um “jogo grande” em que a nossa percentagem de lançamento de 3 pontos foi abaixo dos 30% (neste caso bem abaixo)! E se os triplos dão jeito em jogos deste tipo…

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Na quarta-feira, recebemos no pavilhão João Rocha o último classificado da Liga Placard, o Barreirense. E o que dizer de um jogo que, no final do primeiro período, o Sporting já vencia por 34-5?
Estes jogos podem ser encarados de uma de três formas: 1) Aproveitar para dar minutos, de forma consistente, aos menos utilizados; 2) Aproveitar para ensaiar jogadas, variações táticas e missmatchs ofensivos e defensivos, sem grande preocupação com a diferença do marcador; 3) As duas anteriores.

O Sporting entrou fortíssimo em termos defensivos, face a um Barreirense que entrou demasiado relaxado. O resultado foi, como disse acima, um parcial de 34-5, que foi sendo gerido e aumentado ao longo de todo o encontro. O senão? Os jogadores/equipa técnica preocuparam-se demasiado com o resultado e em dar minutos, ao invés de testarem coisas novas e diferentes. Em certos momentos do jogo, era de tal forma fácil entrar para o cesto e concretizar, que o Sporting nem sequer se preocupou em organizar o seu ataque. O resultado vê-se depois em jogos mais competitivos, com o Sporting a sentir mais dificuldades no 5×5 em meio campo!

O Sporting vencer o Barreirense por 101-50, como aconteceu, pouco me diz, se desse jogo não se retirar nada de positivo, para além dos minutos consistentes aos menos utilizados, como Jorge Embaló, Francisco Amiel, Diogo Araújo, Jeremia Manjate e Pedro Catarino (que já está num patamar acima dos restantes citados). Destaque para os 16 pontos de Embaló. Optámos por rodar a equipa, dando o merecido descanso a alguns atletas, pensando na recta final desta 1ª fase do campeonato e nos playoffs, mas, a meu ver, faltou a outra parte.

Daqui até final desta fase regular do campeonato temos agendados 7 jogos. A saber:
Dia 13 de Março – Lusitânia (c) – Campeonato
Dia 19 de Março – Benfica (f) – Campeonato
Dia 21 de Março – Esgueira (c) – Campeonato
Dia 28 de Março – Guimarães (f) – MF Taça
Dia 03 de Abril – Ovarense (f) – Campeonato
Dia 17 de Abril – Oliveirense (f) – Campeonato

Como se pode ver, jogos difíceis, alguns num curto espaço de tempo e que vão exigir uma equipa em boas condições físicas e mentais. Resta saber se também estarão em boas condições técnico-táticas, porque as minhas preocupações mantêm-se…

*quando o nosso Basquetebol entra na quadra, o Tigas dispara um petisco a saber a cesto de vitória sobre a sineta