Alvalade voltou a ter público nas bancadas e o Sporting começou a época como terminou a anterior: a ganhar de forma convincente, tendo em Peter Potter a figura maior. O regressado Vizela abrilhantou os três pontos conquistados, numa noite em que o Campeão vincou de forma clara que está pronto para defender o título

foto: Patricia de Melo Moreira

foto: Patricia de Melo Moreira

As saudades de futebol com adeptos nas bancadas de Alvalade eram muitas, tantas que, diria um sorridente Pedro Gonçalves no final, no início da partida o som dos adeptos foi algo a que os jogadores tiveram que voltar a habituar-se. Fez orelhas moucas o Vizela, até porque com aquela vergonha chamada “cartão de adepto” os seus ficaram em casa, apresentando-se de peito feito em casa do Campeão para o jogo inaugural da Liga 21/22.

A equipa que há dois anos jogava no Campeonato de Portugal chegava a Alvalade e insistia em sair a jogar com passe curto, em ter bola e em tentar variar o flanco até encontrar espaço para atacar algum espaço que surja na zona central. Cassiano, pronto a mostrar o porquê de ter sido o melhor marcador da segunda liga, mete a bola na baliza de Adán, mas o sorriso morre em algo a que não estava habituado: a excelência com que a defesa leonina executa o fora de jogo, mesmo quando os dois laterais campeões, Porro e Nuno Mendes, dão lugar a duas contratações certeiras essenciais para o modelo de Rúben Amorim, Esgaio e Vinagre.

E será precisamente pelas laterais, nomeadamente pela ala canhota, que o Sporting, depois desse susto inicial de 15 minutos, vai chegando lá à frente e começando a deixar o Vizela apenas agarrado à vontade de fazer algo que depois não consegue. A culpa deste virar de mesa vem dos homens do miolo, Matheus Nunes e Palhinha. O primeiro, intratável na capacidade de receber e rodar sobre si, virando-se para um meio-campo a aguardar cavalgadas e verticalidade; o segundo, apresentando-se como um monstro de força com pés de agodão doce, surpreendendo tudo e todos com a forma como vira o jogo e faz passes a mais de 30 metros.

Com isto, as situações de um para um começaram a acumular-se e os lances de golo espreitam. Paulinho, de cabeça, é o primeiro a ameaçar; Jovane tenta roubar-lhe o protagonismo e conquista um penalti que tenta marcar ao ângulo e acaba com a bola em Telheiras, fazendo com que o jogo vá 0-0 para o intervalo.

No recomeço a toada não muda, mas o Sporting é ainda mais efectivo na forma como desafia o adversário a pressioná-lo de forma a, depois, variar a bola para o lado onde se abre espaço. E quando a perde, o conjunto verde e branco é extremamente agressivo na pressão e recuperação, tentando fazê-lo cada vez mais longe dos seus centrais, uma das imagens que ficou da partida de ontem e que parece ser um dos objectivos tácticos de Amorim para este ano.

Estamos nós nesta conversa e Paulinho volta a ter um daqueles momentos em que insiste em dizer-nos que está feito um senhor pivor e um impressionante ponta de lança de equipa (grande jogo do camisola 21, nomeadamente nos movimentos de apoio), apanhando a bola recuperada por Palhinha e indo por ali fora até deixar no espaço onde está Pedro Gonçalves. O que se segue é tão simples quanto incrível, com o melhor marcador do campeonato 20/21 a fazer questão de apontar o primeiro golo da nova liga com um remate em folha seca. E se os adeptos estavam a elogiar esse momento, o que dizer do que veio uns quinze minutos depois, quando Esgaio tem recepção de classe, cruza ao segundo poste onde Peter Potter mata na coxa e como se fosse a coisa mais natural do mundo reamata cruzado, em arco, com a violência perfeita para piscar o olho ao ângulo da baliza. 2-0.

Paulinho ainda marcaria o terceiro e muito merecido golo a nível pessoal, metendo lá para dentro um cruzamento perfeito de Nuno Santos a concluir uma jogada de contra ataque a régua e esquadro, com o Vizela já incapaz de parar uma vez que fosse aquele carrossel leonino que já se havia visto frente ao Lyon e na conquista da Supertaça, frente ao Braga.

No final, Amorim diria que todos os dias pede para não sair nenhum jogador. Para fechar esta crónica, este que vos escreve com carinho diz que, não fazendo ideia do que o mercado nos fará até ao final de Agosto, uma coisa é certa: esta equipa está pronta para defender o título conquistado até ao último suspiro e isso é magia maior do que aquelas obras de arte que o mais impactante jogador da Liga vai acumulando com o Rampante ao peito.

(clica aqui que vale a pena ouvir)