O Sporting voltou a não conseguir vencer o Famalicão e perdeu os dois primeiros pontos do campeonato. De forma justa, diga-se, com as equipas a equivalerem-se nas oportunidades de golo e a equilibrarem-se entre o monstro Adan e a inoperância ofensiva leonina

matheus famalicão

Não deve ser fácil gerir uma equipa, numa altura em que se misturam convocatórias para a selecção com notícias de fecho de mercado. O foco está demasiado disperso e isso foi visível na forma como o Sporting se apresentou, ontem, em Famalicão. É verdade que os Leões até podiam ter passado para a frente logo no primeiro minuto de jogo, não fosse Jovane ainda estar a espreguiçar-se, mas aquela ideia de que se calhar é melhor não forçar muito que o golo acabará por aparecer foi-se enraizando ao longo dos minutos e conjugada com a cabeça cheia de tanta coisa deu total razão à canção eternizada por António Variações.

O mais afectado foi claramente Matheus Nunes, passando completamente ao lado do jogo (até esteve demasiado tempo em campo). Disso se ressentiu o Sporting, tanto a defender, até porque Palhinha cedo ficou condicionado por um amarelo ridículo num lance em que apenas corta a bola, como a atacar, pois faltava a ligação entre sectores. Sem esse elo, Coates via-se obrigado a um constante jogo directo para um desacompanhado Paulinho, para um Jovane sem capacidade para explorar as diagonais de fora para dentro e para o Peter Potter que parece ter deixado a varinha em qualquer lado.

Claro que o Famalicão também teve mérito. Começou com as linhas mais baixas e foi-se esticando à medida que prendia o Sporting e o obrigava a jogar quase sempre pelo meio. Ricardo Esgaio tornou-se inexistente ofensivamente, Nuno Mendes não tinha tempo para respirar e ia perdendo a cabeça em picardias e já se sabe que sem o papel activo dos seus laterais o Sporting perde a sua imagem de marca. Depois da perdida de Jovane, logo a abrir, Pedro Gonçalves teve um daqueles remates que costumam acabar dentro da baliza, rasteirinho, a fugir do redes, mas acabou ao lado. Na baliza contrária, o Famalicão começava a conseguir explorar as costas dos centrais e por duas vezes Adán teve que tornar-se na figura do jogo (a primeira defesa, desfazendo o chapéu, é incrível), garantindo o 0-0 numa altura em que os da casa estavam claramente por cima dos acontecimentos e o meio-campo leonino não conseguia nem segurar para atacar, nem estancar para defender.

A segunda parte começou exactamente da mesma forma: com o Famalicão a cheirar o golo e com os Leões incapazes de segurar a irreverência de Ivan Jaime (quando se fala na necessidade do Sporting tem um abre latas…). Amorim não deu mais tempo ao que só nos fazia perder tempo e trocou Jovane e Esgaio por Nuno Santos e Porro. Bastaram dois minutos para o sinal de mudança que, quando a mim, é o momento do jogo: arrancada fantástica de Porro pela direita, cruzamento e enorme remate de primeira de Nuno Santos que leva a bola a embater no poste. Os Leões levavam as mãos à cabeça e pior ficariam logo a seguir, quando aquele buraco no meio-campo que Amorim teimava em tapar permitiu, uma vez mais, que Ivan Jaime fosse por ali fora e desse origem à continuação do momento estrelinha famalicense: ressalto em Fedal que tira a bola de Coates, ressalto em Adán, corte de Inácio que apanha Nuno Mendes em corrida e o lateral mete-a na baliza. Incrível e 1-0 para os da casa.

Cinco minutos volvidos sobre esse soco, Matheus Nunes e Feddal dão lugar a Bragança e Tiago Tomás, com Nuno Mendes a passar a completar o trio da defesa e oferecendo todo o corredor a Nuno Santos. O Sporting ganhou posse de bola e critério na gestão da mesma, mas continuava a tentar mais com o coração do que com a cabeça. Até que veio um canto e veio o golo de Palhinha, a cerca de dez minutos do final. Mesmo de forma atabalhoada, a equipa deixava claro que aquela alma que a conduziu ao título ainda existe e os minutos que se seguiram foram de total assalto à área famalicense, com destaque para um remate de TT e para aquela cabeçada de Paulinho que levou ao desespero todos os Sportinguistas.

Vieram mais oito minutos de descontos, Coates foi fazer o seu papel de terceiro ponta de lança do plantel, Adán fez mais uma defesa do caraças, Pote tentou de meia distância e Paulinho mandou para o País de Gales a última oportunidade de um jogo de futebol entretido para quem o viu e com um resultado que se aceita por tudo o que se passou em campo.