Os sorrisos são raros. As palavras escassas. A personalidade recatada, fechada e introvertida, acompanha-o desde a infância e contrastou quase sempre com o futebol entusiasta, alegre e divertido, que rotulou Marcus Edwards de craque desde os primeiros pontapés.

Curiosamente, alguns anos depois, ainda tenta contornar esse feitio, combater a timidez, de forma a integrar-se socialmente com maior facilidade. A chegada a Alvalade motivou, por isso, um tratamento algo diferenciado. Tudo para acelerar a sua integração. Primeiro com a língua portuguesa. Os leões têm um programa para quem não domina o idioma, no qual Edwards foi prontamente integrado.

Mas então o que faz deste inglês, reservado fora do campo e explosivo dentro dele, tão especial? A BOLA foi procurar respostas e quase todas elas se resumem a uma palavra: talento.

Detetado com apenas oito anos em Enfield, na Academia do Tottenham, potencial fantástico no drible, baixo centro de gravidade, excelente relação com a bola (e a baliza), a carreira de Edwards começou por ficar marcada (como em muitos outros casos) por uma comparação perigosa. Sobretudo quando saiu de Mauricio Pochettino, referência dos spurs, após assistir a alguns jogos na formação. «As qualidades de Edwards, é apenas aparência, mas a sua questão física, a forma como joga, lembra um pouco o início de Messi», disse na altura o técnico argentino. Edwards saiu do anonimato e todos os holofotes ficaram centradas sobre ele. No melhor e no pior…

A estreia e a lesão grave
A pressão aumentou e, no dia seguinte a este elogio, Edwards estreou-se pela equipa principal do Tottenham. Estávamos em setembro de 2016 e aos 75 minutos Edwards entrou na vitória por 5-0 sobre o Gillingham, para a FA Cup. Foi a única aparição entre os grandes. Uma lesão no tornozelo e uma operação às amígdalas hipotecaram-lhe os sonhos e nem a confiança do Tottenham, que lhe renovou o contrato durante essa longa ausência, lhe abriria novamente as portas da equipa principal.

Pesadelo de Norwich
Seguiu-se uma penosa experiência no Norwich. Um empréstimo que durou três meses e apenas… seis minutos de utilização até regressar aos spurs. Curta passagem, mas marcante pela negativa. Daniel Farke, técnico alemão, foi duro nas críticas.

Descida no Excelsior
Duas épocas depois daquela curta estreia na equipa principal do Tottenham, Edwards tentou a sorte noutra liga. A explosão de outros jovens ingleses, que saíam de Inglaterra para se afirmarem, como Jason Sancho ou Adama Lookman, serviram de inspiração. Somou 30 jogos, dois golos, quatro assistências. Impressionou mas a equipa haveria de descer de divisão e não foi suficiente para ganhar uma posição no Tottenham, que lhe perdeu o rasto e não mais voltaria a olhar para ele.

Redenção em Guimarães
A má experiência, sobretudo a nível coletivo, nos Países Baixos, abriu as portas a Edwards… no campeonato português. Uma oportunidade de mercado que Carlos Freitas, então diretor desportivo do Vitória de Guimarães, não desperdiçou. As muitas observações feitas nas seleções jovens e a garantia de que seria peça importante numa equipa jovem foram suficientes para convencer o jovem inglês.

Colocou ponto final na ligação ao Tottenham (decisão muito contestada pelos adeptos dos spurs nas redes sociais) e em Portugal ganhou o impacto que procurava em Inglaterra desde os 17 anos. Os números? Em duas épocas e meia, 96 jogos, 20 golos e 9 assistências.

Na senda de Sancho e Madueke

Edwards está na senda de outros jovens talentos que despontaram recentemente em Inglaterra. Nos bairros do sul de Londres, de onde surgiram, curiosamente, outros dois nomes que hoje brilham na Europa. Jadon Sancho, uma das estrelas emergentes do Manchester United, e Noni Madueke, mais um dos valores fabricados no Tottenham mas que só explodiu no PSV, estando prestes a mudar-se para um gigante europeu. Todos jovens que subiram escalões nas seleções jovens britânicas.

Quem o conhece de perto e o viu despontar no futebol não tem dúvidas. «Em termos de caráter é tudo menos um jogador difícil. Agora, não é igual a outros jogadores, porque todos são diferentes. Logo, terá de ter tratamento diferente para lhe podermos retirar o maior potencial possível. É um rapaz extremamente introvertido, muito na onda dele, desde que tenha uns phones e um telemóvel para ele está tudo bem. O telemóvel é uma espécie de extensão do braço», conta a A BOLA uma fonte próxima do inglês, reforçando uma ideia: «É um profissional inatacável. É alguém que nunca foi multado por chegar atrasado a um treino ou a uma refeição da equipa. É, aparentemente, uma pessoa muito fechada mas para quem conhece melhor consegue abrir-se. Desde que tentem…»

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