Em entrevista à Lusa, o bicampeão mundial e atleta do Sporting Clube de Portugal, Jorge Fonseca, não podia ser mais claro: “Preciso das duas medalhas, de campeão da Europa e campeão olímpico, acho que tenho capacidade para isso”.

Em vésperas de ter nova oportunidade para ser campeão da Europa, Fonseca, que conseguiu ser medalha de bronze em 2020 nos Europeus de Praga, recordou a prova em Lisboa, no último ano, assumindo que sentiu a pressão de lutar em casa, o que pesou num resultado aquém das expectativas (sétimo classificado). “Não soube lidar com a pressão, queria dar aos portugueses uma grande alegria, porque nunca me viram lutar em Portugal, era um grande campeonato da Europa, estava eufórico, treinei bastante, nem dormia, estava sempre a treinar, queria ganhar aquele campeonato”, assumiu, com frustração, recordando ter mudado a sua forma de encarar o judo para “ser o melhor do mundo”, num percurso em que passou a contar, após o primeiro título, com orientação psicológica.

A mudança aconteceu após o primeiro título mundial, em 2019, em Tóquio, uma conquista inédita no judo português, com Jorge Fonseca a chegar ao patamar mais alto em -100 kg e a pedir apoio ao Comité Olímpico de Portugal (COP). “Tento fortalecer-me dentro e fora do combate e consigo estar de forma completamente diferente, é um Jorge completamente diferente (…)”, disse ainda o judoca, justificando o processo que lhe mudou a forma de pensar e agir. Para isso passou a contar com o apoio da psicóloga Ana Ramires, que o ajudou no caminho, em que olha para si e deixa de ver um miúdo com vontade de dar show, mas antes um atleta focado, que quer ganhar, mas não tem medo de falhar. “O Jorge, literalmente, já não é aquele miúdo de show, é um Jorge atleta e antigamente não o era. Consigo definir o que é um atleta, um superatleta, um lutador, consigo ver a definição. Ao longo do tempo era um lutador, lutava para sobreviver. Um atleta não luta para sobreviver”, argumentou.

Uma mudança que o coloca no auge da carreira e é aí que quer permanecer, fiel a um guião que diz funcionar. “Não quero que as coisas falhem, estou no auge da minha carreira e vou manter esse método até ao final, é isso que me faz conquistar medalhas, ser um homem, dentro e fora do tapete, ser um bom pai, ser um bom marido, ser tudo”, adiantou o medalha de bronze em Tóquio 2020, referindo ter orgulho da pessoa feliz em que se tornou.

Para Jorge Fonseca existe ou antes e um depois de 2019, e agora vive o seu melhor momento, com alegria no que faz, tendo revalidado o título mundial em 2021, admitindo que ainda existe muito a conquistar e que só depois de chegar ao título olímpico é que pode equacionar a saída dos tatamis. “O meu objetivo é ser campeão olímpico, se for em Paris acho que fico por ali, e vou procurar dedicar-me a um após carreira. Se as coisas correrem mal em Paris, aí vou ter de continuar no desporto, vou ter de continuar até onde der, porque tenho capacidade para isso”, defendeu.

“Olho para o meu treino, olho para o ranking mundial, olho para o animal que estou a construir dentro de mim, não vejo ninguém que me meta em perigo, então estou a calcular as coisas para não ter falhas, não cometer erros, não perder o meu foco. Uma coisa de cada vez, neste momento quero ser campeão da Europa, quero ser campeão olímpico e estou a trabalhar para isso”, acrescentou. Em mente continuam estas duas medalhas que considera especialmente em falta, a mais valiosa que pode ter num Europeu, em que competirá já no próximo domingo em Sófia, na Bulgária, e a mais importante, que também ambiciona, nos ainda distantes Jogos de Paris2024. “É a única coisa que me falta para poder dormir em paz, meter a cabeça na almofada e dizer ‘fogo já posso acumular as minhas medalhas e dormir com elas’ na almofada e dizer que já conquistei o que me faltava”, insistiu.

Os Europeus de judo em Sófia, na Bulgária, decorrem entre amanhã e domingo, com Portugal a contar com Jorge Fonseca (-100 kg), Catarina Costa (-48 kg), Joana Diogo (-52 kg), Telma Monteiro (-57 kg), Bárbara Timo (-63 kg), Patrícia Sampaio (-78 kg), Rodrigo Lopes e Francisco Mendes (-60 kg), João Crisóstomo (-73 kg), João Fernando (-81 kg) e Anri Egutidze (-90 kg).