Pela segunda conferência de imprensa consecutiva, Rúben Amorim assumiu o papel de director financeiro e de director desportivo, partindo para explicações em áreas relativamente às quais deviam ser outros a dar a cara.

Sim, não é novidade que Amorim, além de treinador, seja a voz do clube no que toca a futebol, mas, como todos bem sabemos, colocar às costas do “mister” essa tarefa e essa constante exposição, é meio caminho andado para que, primeiro, a coerência de comunicação possa perder-se, e, segundo, que o desgaste da imagem aconteça de forma muito mais rápida. Preocupa-me, sinceramente, que a cobardia de quem devia dar a cara possa prejudicar aquele que conseguiu começar a endireitar o futebol profissional leonino.

Ao dar a cara por temas que devia deixar para outros, Amorim acaba por deixar-nos a pensar em várias questões. Vou focar-me numa que me parece essencial e que, embora tenha uma base financeira, passa muito pela gestão dos activos: estamos esticadinhos, não temos mais um euro, e assumimos o risco de ter apenas um homem de área.

Penso, desde logo, que Amorim continua equivocado se considera Paulinho um homem de área. Raramente ganha a dianteira a um defesa para o ataque à bola (e que dor isso me provoca tendo em conta que há Pote, Edwards, Rochinha ou Trincão a meter bolas que pedem um ponta com sede de golo); raramente ganha um duelo aéreo, raramente consegue posicionar-se para ficar com a baliza à mercê.

Deixando esse pensamento de lado, até porque Amorim percebe infinitamente mais de futebol do que eu, sinto que deve ser colocada uma questão em cima da mesa: se estamos sem dinheiro, porque motivo conseguimos “despachar” todos os activos que, com mais ou menos qualidade, podem ser solução para marcar golos?

Assim, de repente, saco da cabeça nomes como Pedro Marques, Pedro Mendes, Tiago Tomás ou o próprio Jovane, que não sendo um homem de área é gajo para acertar umas quantas vezes na baliza. Tudo gente com compromisso, tudo gente feita de Sporting. É melhor “arriscar” do que tê-los a ajudar?

Depois, temos casos diferentes. Slimani foi o que foi e é pena que ninguém ceda, pois a solução ainda cá está, Sporar, ao que consta, tinha um ordenado demasiado alto, Tabata saiu com a ideia parva que nos tentaram vender de que o dinheiro que vamos receber permite que Matheus Nunes cá fique (como se se um Liverpool da vida cá chegar isso resolva alguma coisa), Luiz Phellype lesionou-se na pior altura e nem teve oportunidade de tentar lutar por uma vaga.

Há, ainda, os miúdos. Amorim falou, ontem, em Chermiti, miúdo que foi para estágio e até teve oportunidade de jogar. Também falou em Gabriel (penso que o Silva), como podia ter falado em Skoglund. Esqueceu-se, estranhamente, de Rodrigo Ribeiro. Não sei o que se terá passado, mas nem minutos na pré-época, nem lugar no banco. Em Braga, por exemplo, não tínhamos um homem de área no banco e, opinião minha, Rodrigo parece-me mais do que pronto a assumir esse papel. O que se viu, no final da época passada, quando teve oportunidade de ir entrando, abriu o apetite. Porque motivo parece ter deixado de contar?

Resumidamente, se estamos esticadinhos, se não podemos tentar contratar o Ricardo Horta (ficou claro que Amorim gostava, esqueceu-se foi que não é homem de área), se temos que arriscar… valia a pena olhar para dentro e perceber que existem soluções para diminuir esse risco, poupando-nos ao discurso do “pobrezinho”.