Às 23h, hora a que muitos putos já tinham sido vencidos pelo sono, um puto um pouco mais crescido dava a vitória ao Sporting e corria para os braços dos adeptos que tinham feito questão de desafiar os horários lesa futebol da Liga portuguesa. É a crónica do Rio Ave vs Sporting 

Pode um jogo de merda deixar-te com um enorme sorriso? Pode, claro, nomeadamente se o golo da vitória for apontado por um puto da formação, a passe de outro miúdo vindo da Academia, e se o puto que marcou o golo desate a correr em direcção à bancada onde estão os adeptos com as suas cores. Esse momento, já passava vergonhosamente das 23h em Portugal Continental, é uma espécie de manifesto contra tudo o que a Liga e a Sporttv têm feito para diminuir as assistências nos estádios de norte a sul.

Além do horário a uma segunda feira à noite, o que se viu no relvado do Estádio dos Arcos também pouco ou nada contribuiu para a promoção da modalidade. Depois de uma enorme exibição frente ao Braga, em Alvalade, carimbada com um justíssimo 5-0, o Sporting voltou a ser aquela equipa aborrecida, lenta, sem ideias que costuma ser na maioria das vezes que joga fora de casa. Aliás, se fosse pelos pontos conquistados longe de Alvalade, o Sporting estaria fora dos lugares que dão acesso à Europa, e isso explica muito do que tem sido esta época.

Até ao minuto da felicidade (84), o Sporting apareceu duas vezes: primeiro, num remate de Morita à entrada da área, ainda no primeiro tempo; depois, numa bola de craque rematada por Pote, com a redonda a beijar a barra em vez de se aconchegar na rede. Pelo meio, Adán foi o único redes a ter que fazer uma defesa, e que defesa, com uma tremenda mancha que impediu os vilacondenses de inaugurar o marcador logo a abrir o segundo tempo.

A entrada de Arthur, Trincão e Jovane em nada acelerou os processos dos Leões, sempre enleados na malha defensiva e no bloco médio baixo do Rio Ave. Talvez Fatawu tivesse agitado a partida, mas aquele que é o espelho da gestão destrambelhada do plantel, ontem nem no banco esteve.

Até que Gonçalo Inácio descaiu à esquerda e fez a bola cruzar meio campo, na ânsia de encontrar o pé de Youssef Chermiti, o menino de 18 anos que vai ocupando a vaga do castigado Paulinho. Ninguém interceptou a redonda, e ela foi mesmo tem com o camisola 79 que dominou, ajeitou e disparou meio enrolado, ainda assim suficiente para escrever daqueles capítulos que todos gostamos de poder dizer que vimos, e o que fica é uma equipa a correr atrás de um gaiato, ansioso por cair nos braços dos adeptos. Isto é futebol, seja a que horas for.