Num jogo de sentido único, apenas a falta de acerto na finalização fez com o que o Sporting tivesse que esperar até festejar. Trincão fez um golo de YouTube e os Leões aproximaram-se dos lugares que dão acesso à Champions 

Vou ser muito sincero: neste momento, estou-me nas tintas para se o Sporting pratica um futebol que me entusiasma. Se preferirem, deixei de esperar isso desta equipa, tal a mecanização de processos que a torna previsível e que, vezes sem conta, parece provocar nos jogadores uma ausência de vontade de arriscar, de mandar o conceito de xadrez visitar o boda, de fazer aquilo que leva pessoas ao estádio (sendo que em Alvalade são cada vez menos, mas isso até dá jeito a quem se esconde).

Ora, depois do fcp perder surpreendentemente em casa, com o Gil Vicente, e numa noite onde as minhas zandinguices apontavam para escorregadela do Braga em Guimarães, como veio a acontecer com mais um tratado de arbitragem, a única coisa que importava era somar mais três pontos.

A posse de bola era total, o Estoril mostrava o porquê de, se não arrepiar caminho, ir cantar para a segunda Liga, mas foi preciso esperar cerca de 15 minutos para Nuno Santos trocar o habitual cruzamento por um remate cruzado, tirado a partir da quina da área. Depois, Paulinho, de cabeça, obrigou o redes à defesa do jogo, antes de Edwards tentar fazer magia, colocando a bola em arco a fazer cócegas ao poste.

A água mole em pedra dura, acabaria por furar à conta da atrapalhação de um defesa, que na ânsia de limpar o lance acabou por meter a redonda nos pés de Bellerin, com o lateral direito a dizer toma lá disto sem pensar duas vezes. 1-0 mais do que justo a cinco minutos do intervalo.

No recomeço, Trincão, que tinha passado praticamente ao lado do jogo para irritação de quem continuava sem perceber o porquê de Pote estar a jogar ao lado de Morita quando o puto Tanlongo pede minutos e oportunidades, resolveu imaginar que estava num treino. Fintou um, o segundo teve medo de fazer penalti, o terceiro e o quarto foram ultrapassados pelo meio, e na cara do redes surgiu o remate sem qualquer hipótese. Golaço!

Foi como se, após esse lance, Trincão encarnasse uma qualquer outra pessoa, e ficasse liberto das amarras que parecem prender os nossos jogadores. Rematou de primeira para nova defesa do redes, depois ensaiou mais uma arrancada para outra grande defesa, acabando a ir à linha para a última oportunidade de golo, nos pés de Chermiti, já depois do Estoril, a oito minutos do final e após um canto, ter feito o primeiro e único remate, que acertou na base do poste.

Valeu pelos três pontos, valeu pelo golo, e valeu por ver o rapaz querer libertar-se e jogar à bola. De quando em vez, alguém de verde e branco vestido lembra-se de fazer isso, e de dizer ao mundo que isto do futebol jogado em equipa e com basculações colectivas é muito giro, mas um molotof sem doce de ovo não passa de claras cozidas, e não há relação de amor que resista sem umas dentadinhas.