Acaba o jogo do nosso Sporting CP e, pouco tempo depois, surgia a notícia da partida da Sara Tavares. Pelo gosto enorme que tenho na sua voz e pela belíssima memória que todos os semi velhos, como eu, têm do seu início, o título só podia ser este. O jogo foi mesmo um “Ponto de Luz”.

Eu saí, completamente, de mim. Com o meu filho a fazer-me o favor de adormecer às 18h30 e a minha filha a ser aquilo que o pai deseja – uma santa – deixei-me levar pela emoção. Saltei, deitei-me no chão, gritei em mute, emocionei-me a pensar no quão maravilhoso o voleibol do Sporting CP é. Eu cheguei a aproximar-me da minha esposa portista, em desespero, e pedir que dissesse: “O Sporting vai ganhar. Diz por favor. Ajuda-me”. O pavilhão ao rubro, mas fora dele estava tudo a ferver também. Eu trocava infinitas mensagens com amigos, para me tentar aproximar mais (ainda mais!) deste sportinguismo que nos envelhece. Eu queria estar ali!! A Joana perdoar-me-á a inconfidência, mas a melhor sequência de mensagens foi dela. Dizia de forma certeira: “ESTOU MORTA; Morrida; Matada; Só me apetece chorar. Nem acredito que viramos isto. Estou anémica”. Tive de começar a escrita com esta emoção toda porque ainda fico nervoso de pensar na sensação do jogo. 

Vamos à racionalidade possível sobre o jogo. A equipa vinha de uma sequência de jogos desgastante, onde até duas jogadoras ficaram na Sérvia retidas. Com um cansaço colossal, aparecia este dérbi. Partilho-vos duas verdades que tive no sábado depois do jogo do Fiães, após a flash do mister Rui Costa. Em primeiro, o seu discurso foi de revolta e raiva, voltando a defender o voleibol feminino, o Sporting CP e, em especial, a equipa. Com as continuas dificuldades internas que se vão sabendo e as externas que já são culturais, o treinador Rui Costa chamou a si a agregação. Desde a ponta do cabelo (que não tem) às unhas dos pés, o modo guerreiro estava ativado. Era necessário perceber se as meninas acompanhavam. Em segundo, só íamos ganhar ao SL Benfica com o coração. O tempo de descanso não existia, a rotação da equipa não aconteceu, a preparação tática não houve tempo de existir e, acredito eu, estávamos animicamente mal pelo andar da época. 

E antes de ACONTECER SPORTING CP, passou-se o que eu estava à espera. O SL Benfica faz 2-0 em sets e 13-5 no 3º set. Nesse momento, só havia 4 pessoas no mundo capazes de acreditar em algum tempo de reviravolta: o Rui Costa, a Luana, a Liza e a Solange. Sim, em direto disse que ainda acreditava nesta equipa. (Acreditasse o marido tanto como ela e se calhar a situação geral seria outra). Lamento, mas não acredito que mais alguém imaginasse tal desfecho.

Agora o que aconteceu taticamente no momento decisivo porque também tem piada ver. O adversário em P3 com uma frente com a distribuidora, Alice e Garcez. O Sporting CP em P4 com Aline, Lauren e Luana. A Aline estava fresca porque tinha entrado pela Amanda. Estávamos, depois, com a melhor formação de defesa com a Dani e Bruzza. O Rui Costa pede serviço na Alice, ponto mais instável, trancando a Fernanda em zona 1 e fugindo da libero. Entra o 1º serviço e o SL Benfica quase que encosta a Alice a um pequeno pedaço do campo, assumindo a Fernanda e a Rizzo. O Rui Moreira pede tempo e mexe trocando a Fernanda pela Ellen. Continuamos a servir na Alice que não segura a recepção e, fora de sistema, o SL Benfica não fazia ponto. O treinador adversário coloca a oposta a bater em zona 6 para ter mais campo de ataque e virar o jogo. Continua a não funcionar. E aos 14-11 aparece a nossa querida, doce, simpática, POTENTE e em quem eu tenho tantas esperanças – Lauren Fucking Matias!! Parte o bloco em força e segue o jogo. Depois de muitas mexidas por parte do Rui Moreira, aos 16-14 a Liza falha o serviço. No entanto, não há nada a dizer, o trabalho tinha sido muito bem feito!

O jogo continua potente e chegamos a abrir 3 pontos. Aos 20-19, depois de uma sequência menos positiva, o treinador Rui Costa, devolve a Ozzy e a Paquete ao jogo para vencer. A partir daqui não vos chateio com tática porque basta dizer que só deu verde. 

Continuo a achar que foi um jogo do coração, onde a emoção superou a razão. Ainda bem que foi para nos puxar todos para o lado certo do apoio. Parece-me importante dizer que o jogo podia ter acabado com um 3-0 e há um caminho grande de trabalho pela frente. No entanto, há momentos transformadores como o discurso do treinador em Fiães, o PJR ao rubro e uma equipa que recuperou aquilo que é. Aquela que é a sua génese porque o legado foi deixado pela Daniana, Maria Maio, Rafa, Gabi, Carrijo, Bia, Cristiana, Bárbara, Matilde, Sara e tantas mais que permitiram que a equipa de HOJE possa disfrutar de um amor incondicional proporcionado pelos seus adeptos.

Vamos às jogadoras:

Ozzy: A sua felicidade na vitória (depois da carreira que fez) colada à sua qualidade faz agradecer infinitamente à alma que se lembrou de a contratar para o Sporting CP para me/nos fazer feliz. 

Luana: Melhor performance até hoje no clube. Acreditou mais que eu.

Paquete: Vamos colocar a situação assim, no dia que a Paquete sair do Sporting CP será um dos dias mais tristes desta seção. Quando festeja a bater no peito tira-me o centro.

Liza: Ganhou o jogo. O contrário de medo é confiança e eu gostava que tatuasse isso algures porque a qualidade tem de sobra.

Jady: Esta é a Jady que conhecemos! Benvinda à época 2023/2024. 

Amanda: O jogo não estava a correr como de costume e a saída fez bem ao nosso jogo. No entanto, está a fazer uma época excelente e é titular de caras nesta equipa.

Timm: O seu poder de ataque faz tremer blocos e defesas. Voltou a acontecer! Também para ela benvinda à época 2023/2024.

Lauren: Na flash disse: “I am definitely falling in love with volleyball again” e depois caracterizou como maravilhosa a experiência de jogar no Sporting CP. Quando entrou no jogo, tornou-se imparável. É dela que precisamos. 

Bruzza: Definam perfeição numa palavra – Bruzza. Agora em duas palabras – Thaís Bruzza. Em três? Thaís Bruzza Saraiva.

Dani: Quando a melhor jogadora do campeonato está em campo somos uma equipa com melhor receção, melhor defesa, sem paleios amigáveis com o adversário, com foco na bola, com raiva vencedora a sair pelos poros do corpo. Acabou o jogo a puxar pelo PJR para gritarem, todos, SPORTING. Eu também gritei em casa Dani, ok?

Rui Costa: A consensualidade em relação a uma pessoa pode tornar-se aborrecida e monótona. Por isso, há os que gostam do Rui Costa e os que não percebem de voleibol. 

Por fim, um abraço forte às 3 pessoas que tanto sofrem enquanto trabalham lá trás dos placards. Eles são como nós, mas a trabalhar – Team manager, scout e preparadora física.

Termino, realçando que estou muito contente pelo resultado. Dificilmente acredito que o excesso de confiança suba à cabeça, especialmente porque a equipa é constituída pela Daniela, Ozzy e Rui Costa. No domingo foi um volte face na época, mas ainda falta muito trabalho de todos: equipa, diretor e departamento de comunicação. Estes dois últimos tiveram uma semana particularmente infeliz. Um de organização e planeamento e outro pela fraca divulgação ao jogo.

Obrigado pelas emoções, equipa.

 

 

*quando vê uma aberta no meio campo adversário, o Adrien S. puxa a bola bem alto e prega-lhe uma sapatada para ponto directo.