Neste “merecer ganhar, mas não ganhar”, houve de tudo um pouco: erros já antes vistos, falta de qualidade individual já antes vista, enorme qualidade individual já antes vista, ganas já antes vista, falhanços inacreditáveis já antes vistos, bolas no poste que se repetem. O Sporting empatou em Bérgamo e perdeu uma enorme oportunidade de quebrar o enguiço dos jogos para as competições europeias disputados em Itália

Posto isto, acaba por ser fácil contar a história deste Atalanta vs Sporting, para o qual as equipas partiam com estados de espírito diferentes: aos italianos bastava empatar com os Leões, para garantir o primeiro lugar do grupo e evitar o Playoff da Liga Europa; os nossos, entravam em campo sabendo que ir directamente para os oitavos da prova dependia de uma vitória.

O jogo começou como se fosse uma espécie de repetição de Alvalade: a pressão da Atalanta deixava o Sporting sem capacidade para sair a jogar, mesmo que tivesse a bola, e as bolas metidas em Scamacca iam furando as linhas defensivas leoninas, deixando o avançado na cara do redes uma e outra vez, sempre em fora de jogo, incluindo na primeira vez em que meteu a bola na baliza (mérito para o acerto da linha defensiva a sair a tempo).

St Juste era aposta para segurar a velocidade de Lookman, e resultava, mas para furar a teia em que os italianos nos prendiam… só metendo em Gyokeres, a nossa besta nórdica, que ali por volta dos 20 minutos deu um valente nó a Kolasinac, foi por ali fora sozinho e rematou a fazer cócegas ao poste.

O mesmo Gyokeres, quinze minutos volvidos, foi ao choque com quem o quis confrontar, ganhou a bola e meteu-a redondinha nos pés de Pedro Gonçalves, que isolado resolveu fazer sabe-se lá o quê e meter a bola nas mãos do redes.

Pelo meio, o tal Scamacca, farto de estar em fora de jogo, aproveitou a única vez em que conseguiu ter espaço fora da área e mandou uma buja que deu o 1-0, com Adán a ficar muito mal na fotografia, numa espécie de filme já visto desde a época passada.

Íamos a perder ao intervalo, e a boa notícia era a saída de Esgaio e de Trincão, sobre os quais já cansa dizer o que quer que seja, por tudo o que não acrescentam à equipa. Entraram Marcus Edwards e Geny Catamo, como, lá está, como se estivéssemos a rever o filme de Alvalade, com a diferença dos nossos falhanços na primeira parte.

Os dois “reis da ginga” voltaram a fazer em farelos a cabeça dos italianos, e logo aos 47’ combinaram para o primeiro aviso. Do outro lado, Scamacca apareceu isolado em frente a Adán e resolveu imitar Pedro Gonçalves, naquela que seria a única oportunidade de golo italiana ao longo da segunda parte, pois a partir daí só deu Sporting.

Gyokeres, claro, aguentou a pressão de três italianos e desmarcou a diagonal de Marcus Edwards, que na cara do redes não tremeu e fez o empate. Faltava meia hora para jogar e o inglês, saído de um aparatoso acidente de viação na véspera, dizia a tudo e todos que era possível capotar e ficar em pé.

Pedro Gonçalves era o homem a quem o destino queria entregar a cambalhota, mas primeiro por azar (puta da bola que bate num poste, desfila na linha, bate no outro e roda para fora, quando já estavas a fazer a reserva do quarto de hotel), depois por displicência (brilhante passe de Morita, para remate ao lado quando só havia redes e baliza pela frente), esfumou-se aquela que seria a primeira vitória do Sporting em solo transalpino.

Noutro estádio, o Rakow ganhava ao Sturm Graz, e oferecia ao Sporting um rebuçadinho de mentol para curar a azia:  o segundo lugar do grupo ficou confirmado, o que permitirá rodar a equipa à vontade entre a ida a Guimarães e a recepção ao FcPorto. O Playoff da Liga Europa fica para Fevereiro e pode ser que nessa altura, Pedro Gonçalves nos ofereça um deja vu diferente, daqueles a fazer lembrar o que vimos em Londres.