Num dos melhores jogos realizados até agora na Liga 23/24, o Sporting perdeu, por 3-2, em Guimarães, e perdeu a oportunidade de se isolar no topo da tabela, mas isso é apenas um pedacinho do muito que há para contar sobre o final de tarde na cidade berço 

Não é fácil digerir uma noite como a de ontem, nomeadamente depois de Amorim ter dito que a equipa tinha mais estofo, pois, no final, o que fica é a incapacidade de lidar com um conjunto de situações que não são novas e que saturam o comum adepto.

Podemos começar pelo disparate que é insistir em colocar Esgaio como terceiro central, à direita. Podemos começar pelo facto de uma equipa que não abdica de jogar com três centrais, ter apenas três que dão garantias. Podemos começar pelo não querer ver que temos um problema na baliza, até porque a opção está longe de ser solução. Podemos começar pela escassez de opções para o miolo, ou pela ausência de um abre latas para a ala canhota. Podemos começar pelo banco que o Sporting apresentou, num jogo que podia valer tanto ponto, com o regresso do duplo guarda redes, com a ausência de opções e de aposta num único puto da B ou dos sub23.

E podemos começar, obviamente, pelo facto de todos sabermos que a nomeação de João Pinheiro era cirúrgica e que ia ser um obstáculo maior do que o próprio Vitória. E foi. É impossível passar ao lado do que aconteceu em cima do intervalo, a fechar uma primeira parte com 22 homens em campo a darem tudo o que tinham e o que não tinha, com duelos constantes, correrias, bola de pé para pé, às vezes de forma frenética, e poucas oportunidades de golo.

Pote tinha visto Varela evitar um golaço, ainda antes dos dez minutos, Gonçalo Inácio, a cinco do intervalo, tinha agradecido a Morita o bailado japonês com que enganou um defesa para fazer a bola chegar ao pé direito do central canhoto. Estava feito o 0-1 e só se ouvia o rugido que as gentes de verde e branco vestidas lançavam da bancada.

Pote faria o tal golaço que sido defendido, agora lançado em profundidade para uma chapelada bem medida, mas o 0-2 foi invalidado pelo VAR, com uns cirúrgicos 8 centímetros. Logo depois, o mesmo VAR não foi capaz de dizer a João Pinheiro que o penálti que ele havia assinalado devia ser transformado no segundo amarelo para o jogador vimaranense, por simulação. E é complicado estar a falar de futebol jogado, quando a partir desse momento o jogo ficou adulterado, num dos lances que vai marcar a Liga 23/24, na mesma jornada em que há um penálti do tamanho de uma catedral, de Otamendi, e é perdoada uma expulsão clara a Pepe.

Ao intervalo, Amorim tirou Esgaio, colocou Nuno Santos, e a equipa rearrumou-se com Diomande central pela direita, Matheus Reis central pela esquerda e Inácio ao meio. Depois, Hjulmand e Edwards haveriam de sair, para dar entrada a Paulinho e a Trincão, com Pote a baixar para junto de Morita. No fundo, era o Sporting a arriscar e a ir atrás de uma vitória que valia mais do que três pontos.

Gyokeres falhou a emenda a um cruzamento de Catamo, Trincão, num penálti em movimento, conseguiu acertar no redes, o mesmo que Jota faria do outro lado, permitindo a intervenção de Adán, com a bola a sobrar para André Silva rematar e ver Morita desviá-la para a própria baliza. Durou pouco a festa vimaranense, pois Pote descobriu Nuno Santos e com um passe brilhante meteu a bola redonda por cima da defesa, para o canhoto fuzilar o desamparado redes Varela. 2-2.

O jogo estava completamente partido, e acabaria por tombar para o lado do Vitória, quando Dani Silva rematou e deixou Adán, que neste momento apenas parece dar garantias no que toca a saídas e manchas, muito mal na fotografia. Seguiu-se um cerco à área montado pelos Leões, que em nada valeu.

No final, o Sporting perdeu o jogo e perdeu a possibilidade de sair de Guimarães líder isolado. A estrada é longa e é dura, como cantam os Black Sabbath, e na próxima segunda feira à noite há uma nova paragem daquelas que podem valer mais do que três pontos: recepção ao FCP, que tem os mesmos pontos que nós, na mesma jornada em que o Braga recebe o Benfica.

A derrota na Luz e em Guimarães, a que podemos juntar o empate em Braga e a incapacidade de ganhar à Atalanta, colocam em causa a ideia de “equipa com mais estofo”, defendida por Amorim, mas uma coisa é certa, como Nuno Santos fez questão de lembrar no aplauso aos adeptos que estiveram em Guimarães: “estamos em primeiro, caralho! Bora lá!”. E eu vou.