Belíssimo sunset à chuva em Alvalade, com o Sporting a receber o Braga e a passar factura do desperdício de há quinze dias. Uma mão cheia de golos, com os reforços de inverno, Quaresma e Trincão a darem o mote para o início de um ciclo louco de jogos que em muito vão decidir a época 23/24

Diga-se o que se disser, havia contas a ajustar. Não que a Taça da Liga seja o mais desejado troféu, mas perder um jogo que deveria ter terminado em goleada e ainda ter que levar com o Artur Jorge a dizer que a sua equipa dominou a partida nos mais variados aspectos e mereceu ganhar…

Ora, diga-se em abono da verdade que nesse jogo de há 15 dias, que o Braga ganharia por 1-0, o domínio do Sporting foi muito mais avassalador, um pouco à imagem dos últimos 20 minutos desta partida em Alvalade. A diferença é que, hoje, as bolas não bateram nos postes, no redes e no raio que parta.

Artur Jorge quis deixar os dois centrais livres para policiarem Gyokeres, pedindo a Moutinho e a Vitor Carvalho para estarem sempre de olho em Pote e num renascido Trincão que respira confiança e que abriria o marcador depois de um momento Esgaio do lateral arsenalista, Gomez: passe de merda para o meio, bola nos pés do 17 leonino, remate seco e rasteiro, à entrada da área, para o 1-0. Ao primeiro disparo, primeiro golo, numa inversão completa da história do último embate.

Quaresma e Inácio aproveitavam as preocupações dos médios adversários para sair a jogar desde trás, sempre em busca do envolvimento dos laterais, Geny e Nuno Santos, com o moçambicano quase sempre a derivar para dentro, de pé trocado, em busca de espaço para o remate banana que esteve quase a dar o segundo golo.

E foi numa dessas subidas, que Quaresma escreveu a bonita página que há muito milhares de nós esperávamos que escrevesse. Arrancou, como se fosse aquele senhor alemão que foi um dos melhores centrais de sempre, mas que não se pode dizer o nome porque virá sempre alguém estupidamente questionar, “estás a comparar?!?”. Fode-te! Lá foi o Quarenbauer por ali fora, galgando metros de relva como potro feito liberdade, dando para Trincão, vendo Pote ser abalroado na área, sempre com a noção que o seu trabalho ainda não tinha terminado. E quando a redonda ficou livre, ele passou-a de um pé para o outro, tirou o defesa da frente e, olhando o redes nos olhos, disse-lhe: vai buscá-la!

Que festa, que alegria pelo puto, que desta vez não chorou, mas festejou de forma libertadora e contagiante! Aliás, a festa foi tal que pareceu que toda a equipa tinha descomprimido e assumiu que merecia relaxar, salvo no momento em que Coates quis imitar Maradona e foi por ali fora até ser desarmado já na meia lua da área adversária. O jogo foi-se arrastando para o intervalo, e no recomeço o Braga entrou melhor. Teve uma oportunidade de bola parada, teve “a oportunidade” de bola corrida, num falhanço incrível de Djaló, numa altura em que Alvalade se agitava de incómodo e eu berrava a Amorim para trocar o Trincão pelo Edwards.

Felizmente eu estou demasiado longe para o mister me ouvir, felizmente na cabeça dele isso estava fora de questão, porque, de repente, o Chico voltou a dizer que estava em campo, como se tivesse precisado de 20 minutos para pôr as baterias à carga. Lançado em profundidade por Quaresma, derivou para dentro, esperou, veio ainda mais para o meio e meteu nas costas da defesa, a pedir a entrada dele mesmo, Gyokeres. O sueco fez o que tão bem sabe fazer e toma lá: remate de primeira, numa meia volta meio torta, mas com força suficiente para as luvas de Mateus apenas amortecerem a chegada da redonda ao conchego da rede.

Ora, se há 15 dias o Sporting não soube lidar com a injustiça de sofrer um golo quando tinha desperdiçado quase duas mãos cheia deles, ontem os arsenalistas vieram a rebolar pela escadaria da Sé de Braga quando levaram o terceiro numa altura em que ameaçavam reduzir!

Veio o quarto, do Daniel Bragança, veio o quinto, do Nuno Santos, e podia ter vindo mais um ou dois, até porque a besta escandinava tinha acordado e arrastava com ele os centrais e todos os que se atrevessem a tentar parar a fúria do deus do trovão!

E, assim, se construiu mais uma goleada leonina na época 23/24, com contributo fundamental de dois inesperados reforços de inverno: Quaresma e Trincão, dois rapazes que devem sentir-se orgulhosos por terem conseguido dar a volta a destinos que pareciam desviar-se mais e mais da estrada verde e branca. Uma estrada que, nas próximas semanas, precisará deles e de todos nós.

I have faced my fearsNow, I can move in the right direction