Num dérbi intenso e de final incerto, o Sporting foi à Luz empatar 2-2 e defender o 2-1 trazido da primeira mão, para chegar ao Jamor, onde terá lugar a final da Taça de Portugal 

 

Imagina que estiveste a trabalhar, tendo que espreitar os primeiros 20 minutos do jogo numa tv afastada. Viste o Hjulmand de boca aberta, perguntado aos deuses nórdicos como foi possível não cabecear a bola para a baliza, ainda o jogo se espreguiçava antes dos dez minutos. Viste o nórdico adversário picar a bola sobre o Israel, levando a redonda à trave, e viste o Israel fazer uma mancha gigante aos pés de um Di Maria que ia tendo tempo e espaço para nos infernizar a vida.

Imagina que corres para o carro, tudo contado na ideia de “fazer uma cena rapidamente, para chegar a casa durante o intervalo”, com aquela irritação de estares a ver a tua equipa incapaz de sair a jogar, pressionada, sem alas capazes de esticar o jogo, um por incapacidade física (tocado na Amadora, pisado na Luz, Nuno Santos), outro por incapacidade total (Esgaio), com um Trincão a perder-se em fintas, com a nossa dupla de meio campo a perder claramente na intensidade e na ocupação de espaços para a dupla adversária. Vai valendo Israel e Coates, o tal que muitos acham que “já deu o que tinha a dar”.

Imagina que na viagem de regresso a casa, percebes que o jogo acalmou, percebes que a equipa aguentou a tempestade, que vai para o intervalo com a vantagem trazida da primeira mão, e que apesar de estares a fazer tudo rápido não consegues ver a segunda parte de início.

Ficas feliz por ouvir que Amorim mandou uma sapatada no tabuleiro, fazendo três substituições ao intervalo, trazendo Reis, Catamo e Juste para os lugares de Nuno Santos, Esgaio e Diomande, que entre a CAN e o ramadão ainda só fez dois bons jogos em dois meses. Imagina que estás a chegar onde vais estacionar e que na rádio te berram, “está lá dentro!”. Paras a manobra, pára o tempo, gela-te o sangue até ouvires, “é do Sporting!”. Caraaaayyyyyyy, que até entras em modo Rocky Balboa nos festejos com o volante, mesmo sem ter visto o quão golaço foi aquele golaço!

Imagina que acabaste de estacionar e ouves o golo do adversário. “Foda-se… estupidez do caralho… bem, que se foda, continuamos em vantagem”, pensas enquanto ouves uns parolos quaisquer a disparar um foguete ao longe. Pegas na tralha, dobras a esquina e uma berraria conjunta, vindo de um dos cafés abertos. Paras de andar, pára o tempo, gela-te o sangue, sacas do telefone e mostras os dentes ao mundo da felicidade, como se fosses o Paulinho!

Finalmente no sofá, com a tua mulher, a tua filha e um cão que se está nas tintas para a bola e quer toda a atenção de quem acabou de chegar, vês o Gyoekeres que alguém vai dizer que esteve no bolso de um qualquer Tó desta vida limpar meia defesa e mandar uma buja ao poste. Depois, vês a nossa defesa ficar a ver jogar, antes do Rafa encostar para o 2-2 e dos lampiões continuarem na sua saga de mergulhos dentro da área, quando o Rafa tropeça no pé do Coates que já lá estava e oferece a Roger Sonso a possibilidade de continuar a choramingar arbitragens.

Israel voa para parar o arco de Di Maria, Paulinho e Gyokeres fazem o que querem da defesa adversária numa tabelinha em modo futebol praia, com o remate do primeiro a proporcionar grande defesa ao tal do Trubin. Mais seis minutos de desconto, com direito a dois ou três passes na queima da nossa parte, como se fosse giro “brincar com a sorte”, quando na Luz já só se ouviam os cânticos que vinham da nossa bancada, e se contavam os segundos para sermos uma espécie de Dave Grohl e Louise Post, num daqueles momentos de comunhão que explicam esta paixão.

 

And I wonderWhen I sing along with you
If everything could ever be this real foreverIf anything could ever be this good again