Banho de realidade para os Leões, goleados em casa pelo Arsenal na quinta jornada da Champions League. Se com o City tudo tinha corrido bem, frente aos londrinos aconteceu exactamente o contrário

Primeira derrota na Champions 24/25, primeira derrota em casa ao fim de não sei quantos meses, primeira derrota nos 90 minutos. A estreia de João Pereira na Champions, como treinador do Sporting Clube de Portugal, não podia ter começado pior, como se quisesse copiar o 1-5 por nós sofrido na estreia de Amorim nessa mesma prova.

A primeira parte foi horrível, ou, se preferirem, foi como se o Sporting não estivessem em campo, quase parecendo que a análise à forma de jogar do Arsenal tinha sido inexistente. A ala esquerda, com Maxi e com Edwards, foi uma autêntica via verde para os ingleses (com Matheus Reis, Geny e Bragança no banco), com destaque para Bukayo Saka, que aproveitou o facto de Edwards não se dignar a recuar uma única vez para infernizar a vida ao uruguaio. Morita ainda tentou ser bombeiro, mas isso tornou tudo ainda pior no miolo, onde mesmo com o japonês e com Hjulmand já estávamos sempre a jogar 2 contra 3 e, várias vezes, contra 4 (já lá vamos).

Foi por ali que apareceu o primeiro, o segundo, e foi sempre por ali que eles carregaram, como se tivessem sempre mais jogadores do que nós. Gyokeres foi entregue à sua sorte, nunca lançado no espaço, até porque o Arsenal vinha com a lição bem estudada e tinha a defesa pouco subida, numa tarefa facilitada pela lentidão de processos dos Leões. Quenda tentou uma buja de revolta, mas esse assomo de raiva foi traído por um inexplicável terceiro golo, no último lance da primeira parte, num canto onde há quatro jogadores do Sporting a marcar o homem invisível, três ingleses, bem visíveis, sozinhos ao segundo poste, e Franco Israel aos papéis.

Um murro no estômago a abrir, um murro no estômago a fechar, zero mudanças na equipa ao intervalo. Mudou, pelo menos, a atitude, e logo aos dois minutos do segundo tempo Gonçalo Inácio aproveitou um canto e reduziu. Renascia a esperança, nem que fosse em alcançar o empate, mas esse colocar em cheque no domínio dos ingleses nem ajuda do karma teve (e o merdas do Gabriel precisava tanto dele) e seria traído por mais um erro defensivo e um penálti que daria o 1-4 (e, sim, o lance começa numa falta clara sobre Hjulmand). O jogo terminou nesse momento, matando qualquer esperança verde e branca, e, pese a atitude de luta até final, o resultado ainda saltaria para 1-5, após mais um erro de Israel, ontem completamente desastrado na baliza, lançando novamente a questão sobre se algum dos nossos redes está à altura de algo mais do que consumo interno.

Depois da épica e inesperada goleada ao City, o Sporting levava um bofetão de realidade, que custa muito a engolir, mas que não deverá, nunca, para colocar tudo em causa ou colocar a João Pereira um rótulo de falhado quando ainda nem tempo teve para treinar todos os jogadores.

Bem pelo contrário, a noite de ontem será um óptimo ponto de partida para respirar e analisar, por exemplo, o porquê de, uma vez mais, termos ignorado tudo o que estes jogos europeus já nos mostraram. Aconteceu com o Ajax, aconteceu com o City, aconteceu com a Atalanta, aconteceu com o PSV (e só estancou porque Bragança entrou), aconteceu novamente com o City, sim, nesse mesmo jogo onde ficámos loucos com o 4-1, mas em que podíamos ter lavado um tratamento igual ao de ontem (era só os citizens terem a pontaria afinada como os gunners tiveram).

Contra essas equipas, nesses jogos, fomos completamente dominados pela inferioridade do nosso miolo. Pote ainda tenta disfarçar isso, recuando algumas vezes para se juntar aos dois médios (é esse um dos segredos para a grande segunda parte que fizemos contra o City, há 15 dias), mas com Edwards é para esquecer completamente. Assim, quantas mais vezes vamos precisar perceber que Bragança deve juntar-se a Hjulmand e a Morita na titularidade? Sim, eu sei que com a venda de Mateus Fernandes ficamos sem um “médio potencialmente titular no banco”, mas não será à toa que João Pereira tem chamado João Simões e Arreiol. Não podemos é continuar a fazer estas figuras patéticas e a passar 45 minutos atrás da bola.

Apesar da derrota, dura, bem analisada pelo capitão Hjulmand, continuamos a dois ou três pontos de confirmar o playoff da Champions, e continuamos com possibilidade de estar nos 8 primeiros que passa directamente à fase seguinte.

Agora, é respirar. Respirar e apoiar, sábado, às 20h30, frente à sensação Santa Clara. Esse é o primeiro de quatro jogos que têm que resultar em 12 pontos, consolidado uma liderança no campeonato que deve ser a nossa prioridade.
Agora, é preciso ter calma.