Toda a gente anda dizer que estas eleições para a Liga foram um “espectáculo degradante”. Ora, eu acho precisamente o contrário. Acho que estas foram, quiçá, as primeiras eleições verdadeiramente democráticas e livres que tivemos desde que há Liga. E passo a explicar.

Estávamos todos habituados a eleições calminhas, sem mediatismo, tudo muito “cool”. Ora isso é que degradava o nosso futebol porque servia os interesses de quem manipula esta merda de forma a ninguém levantar ondas na eleição da marioneta desejada. Desta vez foderam-se. Pela primeira vez na história do nosso futebol vi os assuntos verdadeiramente importantes a serem discutidos e, finalmente, meteram os nomes aos bois. E, acima de tudo, vimos um indivíduo que não se vergou perante o poder instalado. Não vejo nada de degradante nisto, bem pelo contrário.

O que degradou isto tudo foram as diversas demonstrações de pressão sob a forma de declarações e comunicados que antecederam e precederam o acto eleitoral. Toda a gente percebeu as razões das listas rejeitadas estarem incompletas na Comissão Disciplinar e Arbitral, era aí que os peões seriam colocados à posteriori. Também se percebeu o porquê de tanta hostilidade contra um pobre coitado que, imagine-se, a única coisa pela qual combate é a centralização dos direitos televisivos e uma distribuição mais justa das receitas daí provenientes. Os dirigentes dos clubes pequenos deviam ter vergonha na cara. O homem conseguiu o alargamento, a liguilha e bate-se pela possibilidade desses clubes terem acesso a mais dinheiro.

Faço um aparte para falar do sujeito em questão. Nunca fui à bola com o Mário Figueiredo. Para além das orelhas de hobbit e penteado à mafioso, nunca concordei com o alargamento que propôs já com a época em curso. Mas, apesar de não concordar, compreendo a sua ideia. Era preciso oferecer um rebuçado aos clubes pequenos para garantir a sua eleição e iniciar a batalha hercúlea contra a Olivedesportos, o seu verdadeiro objectivo. E aqui era preciso escolher: ou se alinhava com o Sistema/não se candidatava ou entrava no esgoto com uma promessa que não serve o futebol português. Entre termos mais clubes numa Liga já excedentária e termos uma Olivedesportos a manipular sem qualquer tipo de oposição, prefiro a segunda. Também não gosto da forma como o homem foi manipulado pelo Orelhas, o mentor da sua estratégia para encavar o Oliveirinha. Porém, não me esqueço que foi da Comissão de Inquérito que faz parte da sua estrutura que saiu o parecer favorável ao Sporting no caso do atraso da Taça da Liga. E num futebol onde toda a gente tenta foder o Sporting, esta Liga esteve a favor da verdade desportiva e, consequentemente, a favor da penalização dos Fruteiros. Não me esqueço disto.

Assim sendo, compreendo e aceito a votação do Sporting favorável à lista do MF. Neste momento, era a única opção viável. A sua candidatura, não tendo um autoclismo suficiente para descarregar a merda toda, tem um desentupidor de canos. A merda continua lá a boiar e não passa toda de uma vez mas, pelo menos, há alguém a tentar limpar os canos. Se os processos contra s Olivedesportos tiverem um desfecho favorável à Liga, o Oliveirinha terá de indeminizar os clubes e os contratos serão anulados. Ou seja, os canos ficam limpos e pode-se, finalmente, puxar o autoclismo.