Cherba, uma pequena precisão (a que junto algumas “memórias”).
Antes da Coca-Cola e da Pepsi, em Portugal, havia a Spur Cola. A Canada Dry era a “alternativa” em Portugal à Fanta.
O mais “interessante” é que estas “substituições” resultavam do quase monopólio da distribuição de retalho em Portugal na SPAL-s.a., detida maioritariamente por um dos homens fortes do regime de Salazar, o Almirante Henrique Tenreiro. A Coca-Cola, a Pepsi-Cola, a Fanta, a Lewi’Strauss, a Wrangler, a Lois foram algumas das marcas proibidas em Portugal, para beneficiar o negócio da distribuição e do retalho, muito concentrado em homens do regime (o retalho de vestuário era dominado pela Maconde); as blue-jeans americanas tiveram as suas primeiras vendas em Portugal, já no final da “Primavera Marcelista” (chamar de primavera áquilo é pintar as flores de cinzento) numa loja que se havia tornado icónica, desde a sua inauguração na Baixa Lisboeta, em Dezembro de 1965, na rua da Vitória 55-63, por vender roupa de moda jovem (calças boca de sino e pata de elefante- min-saias, camisas coloridas e estampadas, cintos, lenços e bijuteria diversa trazidos ou copiados das lojas da Soho londrina começando a quebrar o cinzentismo dos costumes lusos) a preços acessíveis; as suas empregadas usarem todas mini-saia, o que foi o primeiro chamariz da Loja.
Para se perceber o impacto da “moda” Por-fí-ri-os Contraste na tentativa de “libertação da mulher” portuguesa, recordo uma professora da minha pré primária, no Colégio Francês, que era perseguida por muitos dos pais e mães dos seus alunos, por vestir saia acima do joelho, pentear-se à Jackie Kennedy e conduzir um Fiat Cinquecento.
O “sobrenome” Contraste foi para se distanciar la loja mãe, a Por-fí-ri-os da Rua de Santa Catarina, (fundada nos anos 50 e conhecida como Porfírio das Meias, por ser o artigo mais vendido), do patriarca Porfírio de Araújo, loja muito mais convencional, mas com alguma inovação na política de “preços populares”. A Por-fí-ri-os Contraste era gerida pelos irmãos Luis e António Porfírio que iam frequentemente “actualizar-se” a Londres e aos certames de moda de Berlim, Paris e Milão; ainda no final dos anos 60 inovam mais uma vez ao introduzir no ambiente escuro das lojas luzes psicadélicas e ao colocar música pop em alto som para atrair a clientela jovem; em 1973, vão mais longe e são os primeiros a romper a proibição de vendas de blue-jeans americanas em Portugal, a promoção foi de tal maneira impactante, que nos primeiros dias se acumulavam multidões em filas de espera que davam a volta a toda a Rua da Vitória e os stocks tinham de ser renovados com base diária durante mais de 3 semanas.
Um abraço e saudações leoninas