Há algum tempo que frequento a tasca, agora com as obras tenho vindo à roulotte, mas sou do tipo discreto, entro, peço uma mini e observo. Oiço as opiniões e os comentários, se me agradam aceno com a cabeça positivamente, se não concordo, franzo o sobrolho. Depois volto para casa tranquilamente. Contudo, é algo que me faz bem, vir à tasca ou à roulotte reforça o meu sportinguismo.

E a vida corre-nos bem, andamos contentes, o Sporting respira saúde e parece que encontrou o rumo tanto tempo depois. Temos a Sporting TV, vamos ter o pavilhão, o nosso presidente é uma fera e trata os lampiões e os outros lá de cima com o desdém que merecem. Temos um treinador promissor, os jogadores andam felizes e não querem sair, o Gauld promete crescer e espalhar magia, o Slavchev é um ‘granda’ boi e vai arrasar quando estiver em forma, o Dier está feito um cavalão, o Slimani, se ficar, vai comer relva todos os jogos, beijar a melhor camisola do mundo sempre que marcar um golo e rezar a Alá pela sorte que tem em jogar no Sporting. (O jogo com o Twente é já passado e vamos aceitar a justificações habituais de pré-época, até porque perder agora nem é mau e custa menos). Enfim, por tudo isto e muito mais, gosto de vir à roulotte, por isso, hoje, resolvi ficar mais um pouco.  Cherba! Uma mini e uma bifana s.f.f.

Não sei se já fizeram as contas, mas não vamos a Alvalade desde maio. Para mim é muito tempo. Na verdade, durante a época quando ficamos três semanas sem jogar em casa, sinto logo qualquer coisa na barriga, agora desde maio à espera é já demasiado. Falta-me o verde, o arrepio ao entrar, o ambiente, a alma, os cânticos, os petardos da Juve Leo, os cachecóis e as bandeiras ao vento… falta-me tudo isso. A ânsia é muita, as espectativas estão altas, mas controladas, somos uma força em movimento e esta máquina quando embala é imparável, ainda por cima temos lá o Inácio que sabe muito bem como isso se faz. Quero ver os calções verdes de um lado para o outro, embora confesse que, como muitos, não me atiro ao chão com a escolha porque nestas coisas sou um bocado tradicionalista, mas rapidamente esqueceremos isso quando a bola começar a rolar a sério.

A época vai ser longa, muito longa, mais do que devia ser com a idiotice de aumentar o campeonato para 18 equipas, vamos sofrer, e muito, e quando começarem os jogos a sério também vamos ter desilusões e sentir tristeza e revolta e raiva, porque nada é perfeito e faz parte do caminho. Mas ainda é cedo, para já só quero regressar a Alvalade e terminar com esta ânsia que me atormenta todos os anos por esta altura e é claro, mostrar aos italianos como é que se joga à bola! Eu já estou a ver o filme.
– João Mário tira dois com uma finta de corpo, põe em Rosell que passa a William (sim são compatíveis e podem jogar ao mesmo tempo), que faz um passe a rasgar para a direita, Cédric cruza com conta, peso e medida para Super Slim que…

 

Texto escrito por Milton Silva

*às quartas, a cozinha da Tasca abre-se a todos os que a frequentam. Para te candidatares a servir estes Leões, basta estares preparado para as palmas ou para as cuspidelas. E enviares um e-mail com o teu texto para [email protected]