Acabou a época dos seniores masculino e vou tentar passar a minha visão da época com um cheirinho do futuro. Há vários temas importantes de serem falado. Como não dá para falar de tudo, seguimos por estes:
Como correu a época?
Há espaço para a continuidade do Gersinho?
Como é para o ano?
A verdade é que a época foi má. Os números explicam isso: 43J – 26v – 17d. Chegar à final do campeonato só foi bom porque, a determinado momento, já ninguém acreditava nisso. Quando as expetativas são tão baixas, qualquer coisa de inesperado se torna sobrevalorizado. O exercício é simples neste caso. Se no início da época nos dissessem que tínhamos chegado às meias-finais da Taça de Portugal e à final do campeonato, isto era um sucesso? Evidente que não.
Há aqui um mérito de superação de uma equipa que caminhava, rapidamente, para um abismo. Considero que houve 3 momentos chave:
– Pré-época:
O planeamento da época, ao nível das contratações, foi terrível. Chegámos à Supertaça com o SL Benfica ainda a contratar. O Tom tinha chegado há pouquíssimo tempo. Já tínhamos fechado com o Leon e o Masso, mas eles continuavam (e continuariam por mais semanas) em Cuba à espera de documentação. A contratação do Tom, teoricamente, foi interessante. Conseguimos ir buscar um internacional australiano! A realidade mostrou que nunca conseguiu ser uma opção para a titularidade, ou sequer para 3º opção de zona 4.
Outro risco corrido foi o segundo distribuidor. Havia um “bolo de salário” para esta posição e a opção foi colocar a maioria do orçamento num jogador e tentar “sacar” um miúdo com qualidade. A aposta no Gelinski foi brilhante, é um craque! O Fred e o Vinha não são jogadores para um candidato ao título e basta comparar com o distribuidor suplente do SL Benfica.
A vinda do Barth e Tiago Pereira foram, também, as melhores contratações da época. Se olharmos, exclusivamente, para a vertente desportiva, o Masso também entra neste lote.
– Saída do PV
O nosso oposto titular chegou a dezembro e foi dispensado. Segundo consta, teve problemas graves de indisciplina que levaram a uma decisão surpresa destas. Eu nem tenho nada a dizer senão concordar e aplaudir. Eu odeio indisciplina! Eu não nasci em berço de ouro, o dinheiro não me cai do céu e os meus pais sempre me ensinaram que a disciplina/educação/trabalho são as armas de quem é pobre. Posto isto, sou sempre a favor destas medidas, seja ele o melhor jogador da equipa ou pior. Desportivamente, a equipa estava a ter uma má 1ª fase e o ambiente parecia pesado. A saída do PV aliviou o ambiente, notou-se imediatamente, no entanto percebia-se que não tínhamos soluções para o substituir. O Masso estava muito verde (foi evoluindo muito bem) e o Tom foi testado com insucesso. Entretanto, o cubano começou a crescer muito rapidamente, agarrou o lugar e tornou-se no melhor pontuador da equipa.
Posso só ficar estranho com a gestão do processo PV e lanço questões. Quando a época começa em setembro e se dispensa em dezembro, será que ele devia, sequer, ter começado a época? Estes casos de indisciplina nunca começam de um dia para o outro, são sempre processos de mudança de comportamento, já viria da época passada?
Estabilização emocional e tática
Em meados do mês de fevereiro estabilizamos definitivamente e foi aí que começou o caminho até à final do campeonato. Se no passe nunca havia dúvidas, Gelinski era dono e senhor, já na saída tivemos a surpresa da evolução do cubano Masso. Com os jogos e os treinos, o seu ataque cresceu muito e a equipa soube acompanhar este sucesso. Altíssimas performances de eficácia de ataque e uma personalidade pouco abalável, tornava-o num jogador de segurança para o distribuidor. A partir dos 20 pontos no set, baixava bastante a eficácia de ataque, mas faz parte do crescimento.
No centro de rede tivemos a continuidade nas boas prestações da surpresa (para mim) do Barth. Fez uma grande época! Depois o Victor Hugo perdeu o lugar para o Gallego ao mesmo tempo que este se tornou no 2º oposto da equipa. Foi um “perdeste o lugar, mas eu dou-te um novo”. Apesar do argentino não ter estado soberbo, foi cumprindo bem e mereceu a titularidade.
Nos atacantes da entrada de rede a luta começou por ser dura. O Tom, pelo currículo, era o favorito, o Leon também era internacional cubano, o Bob era o capitão e o Tiago Pereira iria tentar jogar um pouco. Este era o cenário do início da época. Em fevereiro tínhamos o melhor reforço do ano, Tiago Pereira, a abraçar o lugar com a sua explosão de ataque e garra. Também o Bob, porque é um extraordinário jogador recebedor, a completar a dupla. O Tom pouco contava e o Leon, apesar de algumas oportunidades, nunca conseguiu estar na forma física ideal para agarrar o lugar.
Restam os líberos. O Gersinho insistiu no João Fidalgo como líbero único no início da época. Depois teve de ceder a recepção ao Gil Meireles. A partir de fevereiro, estes dois jogadores foram alternando a presença em campo. Já se percebeu que o Gersinho prefere ter um líbero apenas com capacidade para as duas dimensões, recepção e defesa, mas no Sporting CP não foi possível. Entretanto, foi comunicada a saída do João Fidalgo que abrirá espaço para uma contratação. Saiu o último jogador campeão da época de estreia.
Futuro
O meu discurso é o mesmo desde há 2 anos, defendendo a continuidade do Gersinho. Apesar disso, desta vez com colocar 2 nuances para o continuar a fazê-lo e achar que é a pessoa certa para ser o treinador do Sporting CP. Se alguma destas duas premissas não acontecer, será difícil defendê-lo mais.
1º ponto: Reforços
O Gersinho é um treinador potenciador de jovens. A sua carreira é marcada por isso e foi nessa base que foi contratado. Se este ano, novamente, andarmos a contratar trintões por uma época apenas é porque não há projeto. E não havendo projeto, não vejo motivo para ter um treinador com tantas credenciais. Na minha visão, ou contratamos jogadores com médias de idades inferiores a 25 anos, com contratos de 2/3 anos, através de uma boa capacidade de scouting, com mais 2 ou 3 mais veteranos, ou então temos de mudar de perfil de treinador.
2º ponto: Masso
Para mim é evidente que o Masso vai renovar. É um acto de gestão desportiva básico fazê-lo porque é um jogador jovem, com uma ascensão técnica elevada e barato comparado com as trutas que aí andam no mercado. Agora o cubano não fica para ser suplente de ninguém. Renovar será dar-lhe a titularidade assim limpinho porque ele está “cheio de si” e, sem essa garantia, o empresário mudava-o de clube facilmente neste momento. Ora, será que o Masso tem a capacidade de levar uma equipa a um campeonato nacional como um Gaspar, Angel Dennis, Theo? Com a sua renovação o que estamos a dizer é que a nossa ambição é diretamente proporcional aquilo que o Masso faz. No meio desta vertente técnica, temos também um jogador com tiques de desrespeito com adversários como foi tantas vezes acontecendo. E ainda, um bon vivant, como se vai ouvindo.
Se o seu comportamento holístico se mantiver e o Gersinho não fizer nada quanto a isto, também deixa de ter a minha confiança. Já disse anteriormente neste texto que odeio indisciplina por isso sou sempre a favor de mão pesada. Quando um treinador é permissivo, então fica lógica a minha vontade.
Resumo Final:
É desta que teremos horizonte de futuro no voleibol masculino? Para uma base, sou a favor da continuidade do Tiago Pereira, Tiago Barth, Gelinski, Fred ou Vinha, Kelton e Gallego. Parece que João Fidalgo já foi dispensado, mas teria negociado a continuidade do Bob como líbero da equipa. Veremos o que o verão nos reserva.
*quando vê uma aberta no meio campo adversário, o Adrien S. puxa a bola bem alto e prega-lhe uma sapatada para ponto directo.
18 Maio, 2022 at 18:48
Boa posta!
Para mim é importante ler a tua opinião, especialmente no masculino que sigo com muito menos atenção – porque gosto menos do Voleibol masculino do que do feminino, com a agravante de que a equipa não tem conseguido motivar-me a segui-la.
Confio na tua sabedoria de pessoa interessada na modalidade, acima do normal. 🙂
Mesmo no feminino, que já sigo com mais atenção, e que também acompanho um ou outro jogo fora do universo do Sporting, também tenho sempre em atenção a opinião de quem sabe. 🙂
Aguardo com espectativa a opinião sobre a parte feminina. 😉
Foi uma pena, e acabou tornando-se uma desilusão, a parte final da época, porque no geral estiveram bem.
18 Maio, 2022 at 19:31
Obrigado.
Isto é sempre apenas um ponto de vista. Há outros que, bem argumentados, valem o mesmo. A questão do treinador e dos jogadores a continuar não é, de todo, consensual.
Das meninas falarei nos próximos dias. No entanto, ja resumiste a minha opiniao.
18 Maio, 2022 at 20:00
Adrien, apenas para perceber o verdadeiro poder dos nossos rivais.
Será tão superior o plantel do Benfica em comparação ao nosso, para justificar tanta diferença entre as equipas?
Depois, também já ouvi dizer que ter um Matz como treinador é outro diferenciador que faz a diferença. É que desde que chegou ao Benfica em 2018/2019 substituindo o Jardim, foi sempre campeão.
Obrigado!!!
18 Maio, 2022 at 21:01
Estamos sempre na lógica da especulação. Eu acho que o Matz é bom e soube criar uma onda de apoio dos adeptos, pelo que se liga a eles.
A equipa do SL Benfica é a mais cara e tem os melhores jogadores. Tem também as melhores condições tecnológicas de apoio ao jogo e ao treino. E ainda tem uma equipa tecnica (scout e adjuntos) melhores. O Gersinho muda de staff todos os anos.
Posto isto, o Matz é bom? Sim. Tem a melhores condições do país? Sim. Perdeu a taça de Portugal o ano passado? Sim.
18 Maio, 2022 at 21:02
Ja agora, o distribuidor suplente do SL Benfica seria titular em todas as equipas da liga excepto na deles. No Sporting CP também é complicado de assunir como garantido isso.
19 Maio, 2022 at 10:02
Eu sei que “é só” a tua opinião e não a “verdade universal”.
Mas eu gosto de saber a tua opinião porque reconheço que sabes do que falas – mesmo quando, eventualmente, não temos a mesma opinião!
É só isto e é simples. 🙂
Outros achariam que “te achas o Guru do Voleibol” e “que tens a mania” mas, isso também faz parte da vida… 😀 😀 😀
19 Maio, 2022 at 11:13
isso é verdade. A consensualidade não existe e ainda bem. O limite da argumentação está na educação.
Miguel, no fundo até é bom sinal, quando andávamos (tu incluído, claro) aqui a comentar os jogos da 2ª div., aí o voleibol ou a opinião pouco interessava.
Abraço.
19 Maio, 2022 at 17:40
Miguel, mas este teu comentário vem a que propósito?
serviu para quê mesmo? Para fazer ruido? Para ficarmos a saber quem és aqui Tasca? És quem mesmo? Podemos sempre pedir ao Cherba para teres um tempo de antena. Sabes escrever? não é o nosso forte não é? bem me parecia. Exato isso também faz parte da vida…
18 Maio, 2022 at 21:22
Não sendo um especialista partilho da opinião do Adrien, Gersinho sim mas com jovens e um projecto a 3 anos. Com a filosofia destas ultimas épocas não faz sentido alguém com o perfil dele
18 Maio, 2022 at 22:20
Bom resumo do que foi a nossa época só faltado falar, na minha opinião, da falta de apoio dos adeptos, que para minha surpresa em pouco ou nada se alterou na fase das decisões, mas que infelizmente é transversal a praticamente todas as modalidades amadoras.
Nós apenas podemos constatar e lamentar esse aparente “divórcio”. Cabe a quem gere reconhecer que algo está errado e trabalhar para resolver o problema.
Entre uma foto e outra com os troféus ganhos pelo Basquetebol, seria bom saber o que pensa Miguel Afonso do actual estado das modalidades, que têm falhado a conquista de títulos, e o que está a ser feito para recuperar os adeptos “desaparecidos”. Esperemos que no final da época faça esse balanço num editorial no Jornal Sporting, por exemplo.
Quanto ao Voleibol confesso que tinha uma pontinha de esperança em conquistar o campeonato. Mas a verdade é que chegados aqui, mais uma vez ficamos dependentes de um jogador, Masso, que se apresentou neste final de temporada desgastado e limitado fisicamente. Vencer apenas um set em 3 jogos não é azar.
Em relação a um projecto para o Voleibol, se ele existe não o vejo.
Enquanto que no Andebol consigo perceber o que está a ser feito, e que com “ajustes” pontuais poderemos fazer em breve coisas bonitas (como vencer títulos!), no Voleibol fica a sensação de que iremos uma vez mais contratar outra palete de jogadores na esperança de encontrar uma equipa com a “química” e competência necessária para voltar a acreditar e a vencer.
Não sei dizer se a culpa é exclusivamente de Gersinho, mas na minha opinião o treinador é o principal responsável. Ao aceitar continuar, e ao lhe renovarem o contrato, tenho a certeza que a direcção tentará encontrar as melhores soluções, dentro das limitações orçamentais que temos, para que Gersinho possa construir uma vez mais uma equipa com a tal química capaz de superar os períodos menos bons da época e puxar pela massa adepta, outro factor influenciador do sucesso. Se não for capaz, será tempo de iniciar outro ciclo.
Obrigado por mais um post e fico, como o Miguel, a aguardar com expectativa a opinião do Adrien S. sobre a época das nossas Leoas.
18 Maio, 2022 at 23:51
Gosto muito de ler os posts do Adrien, além da sua opinião há muita info interessante.
Aprendemos sempre.
Eu resumo o meu comentário a isto:
Sai camião, entra camião? Ou vamos construir uma equipa para depois contratar cirurgicamente?
19 Maio, 2022 at 0:00
Manter Gersinho, sim.
Manter Gelinski, penso que irá sair….
Quanto à reestruturação da equipa, faço a mesma sugestão, por vezes a solução está mais perto do que parece….
Por exemplo na praia da vitória na terceira, moram, Velásquez, Bermudez e Antony…. Distribuição, Oposto e Zona 4, será que não gostariam de experimentar as nossas cores?
19 Maio, 2022 at 13:45
Vamos ao site Volleybox, pesquisamos por Sporting Clube de Portugal (aqui – https://volleybox.net/pt/sporting-clube-de-portugal-t3581) e vemos as grandes figuras que jogaram no clube: Maia, Dennis, Agamez, Leonel Marshall, Nikolov, Wallace, Ivan “La Bomba” Marquez, etc…
Depois olhamos para os nossos planteis dos últimos 2 anos. Acho que explicação mais simples não existe…