Chegou envolto em estardalhaço, ficou envolto em estardalhaço, vai fazer as malas envolto em estardalhaço.
No fundo, a passagem de Shikabala pelo Sporting é uma espécie de resumo do que tem sido a sua carreira, com a diferença de, em Portugal, o egípcio não ter conseguido transformar-se na estrela pop que é no seu país.

Não faltaram, no entanto, ocasiões para nos questionarmos do porquê de Shika não jogar. Os vídeos do youtube deixaram-nos com água na boca, os treinos que se podiam ver mostravam um jogador com uma técnica muito acima da média. Faltava o resto. E esse resto não era pouco. Aos 27 anos, Shikabala tinha menos noções tácticas que um puto de 14 que cresce na Academia. Podemos questionar as amarras tácticas que têm transformado o “joga bonito” num claim romanceado, mas a verdade é que Shikabala apareceu em Alvalade como um jogador de Playstation. Um gajo edita o ProEvo, mete-o de verde e branca e, no meio de amigos, festeja cada golo como se do sistema sonoro do estádio se ouvisse o «walk like an egyptian», das Bangles.

No mundo real, tudo era diferente. Bruno de Carvalho “apaixonou-se” pelo egípcio e viu em Shika um daqueles jogadores capazes de entusiasmar a plateia. É capaz de não ter andado longe da verdade, se atentarmos, por exemplo, no delírio que assolou Alvalade quando, no último jogo da época, o “craque” saltou do banco para fazer uns números de circo. O problema estava na forma como os domadores olhavam esses números do novo leão. Primeiro, Leonardo Jardim, com aquele seu ar entre o estou tão fodido que te dou uma naifada e o se me fazes uma careta desmancho–me a rir. Para lá de não ser a favor da contratação de Shika, imagino-o a ter pesadelos com a possibilidade de um outro careca vir arruinar-lhe a máquina táctica que tinha conseguido implementar. Depois, Marco Silva, menos preso a rígidas concepções de jogo e com tempo para ver Shikabala durante uma pré-época. Ao fim de um mês, uma certeza: este gajo pode desequilibrar, mas não faz a mínima ideia do que é fazer uma compensação e jogar em equipa. Era um desafio acrescido: moldar Shika.

Mas quereria o próprio ser moldado? Não, tacticamente, muito menos em termos de personalidade. Shikabala está no seu pleno direito em querer ser uma estrela e sentir-se como tal. Tem uma nação que mete as cuecas para lavar de cada vez que o seu nome é proferido. Mas para se ser estrela é necessário entender que o futebol mudou. Longe vão os tempos em que, por exemplo, o Maradona treinava quando queria ou aquecia a fazer malabarismos com a bola. Hoje, mais do que nunca, o “joga bonito” rima com “isto é pra fazer guito”. E o único guito que Shika deu ao Sporting, foram 300 mil euros de uma jogatana amigável. A mesma que, ao que parece, foi usada pelo jogador para se esquecer dos documentos e ficar dois dias de férias no seu país. É para lá que, com um enorme carimbo, o extremo deve ser devolvido, deixando como legado grandes vídeos no youtube, fotos engraçadas no instagram e um boost impressionante de likes na página oficial do Sporting, num CV que faz de Shikabala o rei das redes sociais.