Afundado numa crise financeira em 2005, o Borussia Dortmund conseguiu reconstruir-se, redefinir a sua existência e, por fim, reerguer-se como um dos grandes emblemas da Alemanha e da Europa. Esta é a história de um clube dilacerado por profundas dificuldades económicas que, através de um longo processo de recuperação financeira e desportiva, conseguiu fugir ao fantasma da falência e regressar à ribalta. No fundo, este é, com as devidas distâncias socioeconómicas, o caminho que o Sporting tentará seguir nos próximos anos para alcançar o tão desejado regresso aos títulos.

O plano de resgate pensado por Bruno de Carvalho para os Leões, encontra vários paralelismos naquilo que o Dortmund foi obrigado a fazer para recuperar a autonomia financeira: tal como o clube leonino, também os alemães acertaram a reestruturação da dívida – que na altura ultrapassava os 170 milhões de euros –, diminuíram os custos com o pessoal e reduziram drasticamente o orçamento para transferências. A tudo isto acrescenta-se a entrada em cena de factores externos: a atracção de investidores (a cedência do naming do estádio à Signal Iduna e a parceria com a Evonik, por exemplo, foram formas do Dortmund aumentar as receitas), o direito oriundo dos direitos televisivos (cerca de 40 milhões de euros por época) e, acima de tudo, a participação activa dos adeptos no dia a dia do clube. Este último ponto tem sido, aliás, um dos “cavalos de batalha” de Bruno de Carvalho, que desde o primeiro dia apela ao aumento do número de sócios e a uma maior presença no estádio (a média de adeptos do Dortmund no Westfalenstadion é impressionante: 80.558 espectadores, num estádio com lotação de 81.266).

A juntar a tudo isto, há duas figuras incontornáveis nesta história de sucesso – uma espécie de Bruno de Carvalho do Dortmund – e Jurgen Klopp. A contratação de um treinador jovem, sem experiência em grandes clubes, mas profundamente conhecedor do contexto do seu campeonato, tem em Marco Silva e Klopp exemplos perfeitos; a atenção a mercados paralelos para a contratação de menos conhecidos – casos de Lewandovski e Slimani – teve efeitos imediatos; a aposta em mercados emergentes e populosos (Egipto e Japão) e a aposta e valorização de activos formados no clube (Götze e William Carvalho) sustentam a redefinição do contexto desportivo.

O Dortmund iniciou este processo há cerca de dez anos e, para lá de ter chegado à final da Champions em 12/13, conquistou dois campeonatos, duas Taças da Alemanha e duas Supertaças germânicas. Tudo isto batendo o pé ao todo poderoso Bayern, um clube que tem o dobro do orçamento para transferências e o dobro para salários. Por seu lado, o Sporting deu o tiro de partida no projecto de recuperação há apenas uma época e, como principal feito, voltou à fase de grupos da Liga dos Campeões. O caminho é longo e estará recheado de obstáculos. Mas o Dortmund é o exemplo perfeito de que o dinheiro ajuda… mas não é determinante para o sucesso desportivo.

comparativo

(artigo publicado, hoje, no Record)