A frase tem tanto de lírico como, nalguns casos, de maldade. Se uns o afirmam a quente, depois de um resultado menos conseguido e desejosos, como qualquer adepto, de ver a sua equipa recheada de craques, outros fazem-no com o único intuito de destilar veneno e lançar dúvidas sobre a política seguida pela actual direcção.

Mas tentemos perceber, de uma vez por todas, o porquê de Nani ter voltado a equipar de Leão ao peito. Contou, obviamente, a vontade de jogador e a ligação que tem ao Sporting, bem como a capacidade negocial de Bruno de Carvalho. Depois, contou o facto de termos um activo, Marcos Rojo (ainda há quem defenda que era descartável?), que o Man United muito queria. Por último, pormenor incontornável, contou o facto do clube inglês estar a suportar bem mais de 90 por cento do vencimento de Nani. E é deste pormenor que, parece-me, muito boa gente se esquece: sem essa conquista do ordenado pago pelo United, seria impossível termos um jogador do nível de Nani. Mas pensemos, então, num central, num médio criativo e num avançado no nível de Nani. Estamos a falar de nível mundial, atenção. Experiente, mas com muito para dar. E a receber cinco milhões por época. Ok, eu facilito. Troquem os cinco milhões por três milhões. Vá, têm, hummmm, dez minutos. Porra, é tempo para criar uma equipa no FM!… tic… tac… tic… tac… tic… tac… tic… tac… tic… tac…

Atenção, temos a primeira resposta! «Veja-se o que o Porto fez com o Aboubakar! Deu três milhões por 30% do passe e ficou com um belíssimo avançado que encaixava no tipo de jogo que Marco Silva gosta!» (deixem-me lá respirar fundo). Ora bem, caro concorrente, eu diria que anda um tanto ou quanto desfasado da realidade. Sabe quanto ganha o Aboubakar? Não sabe nem lhe interessa, não é? Por certo até acredita naquelas notícias que dizem que o Júlio César, que ganhava 5 milhões/época, veio para o Benfica receber apenas 1 milhão, portanto o mais certo é o Aboubakar estar no dragão a ganhar, epá, deixa ver, uns 500 mil euros por ano?!? Vá lá, sejamos sérios! Só para ter uma ideia, caro concorrente, o Quaresma, entre ordenados e prémios, está a ganhar cerca de 1,6 milhões por época. O senhor concorrente sabe, porventura, qual o tecto salarial do Sporting?!? Desculpe, não percebi? Os fundos?!?  (deixem-me lá respirar fundo. Outra vez). Mas o senhor é mesmo adepto do Sporting?!? É? Então deixe-me dizer-lhe que deve ter estado a hibernar nos últimos tempos, pois se há luta que a direcção do Sporting está a travar é, precisamente, contra os fundos e contra a forma como a lógica do futebol está subvertida. Aliás, o caro concorrente até devia saber que um dos principais objectivos da direcção do seu clube, é resgatar percentagens de passes de jogadores como William, Carrillo ou Adrien.

Face à resposta do primeiro concorrente, permutam-me sublinhar o seguinte: tão ou mais importante do que termos paciência para esperar que os mais de setenta remates à baliza, feitos em quatro jogos, se traduzem em mais do que quatro golinhos, é percebermos o que é o Sporting actual. É percebermos que se acabou essa postura de comprar “a meias” com os fundos. É percebermos que acabou essa postura de encher a barriga a empresários gulosos. É percebermos que, ao contrário do que fez o fcp, por exemplo, nós não vamos montar uma equipa de milhões que visa o sucesso imediato. Não há dinheiro. Ponto. E o que há é para investir numa política a longo médio prazo (também dava jeito percebermos que as cláusulas, apelidadas de ridículas, têm como objectivo darem-nos hipótese de manter jogadores jovens e com elevado potencial o tempo suficiente para crescerem e conduzirem o clube ao sucesso).
Quem não quiser perceber, pode continuar a berrar que nós temos é que ser campeões já, que sem sucesso desportivo não há projecto que aguente e que «deviam eram ter vindo mais três como o Nani!»*

* e, já agora, um treinador experiente, como também já ouvi dizer. Qual Jesualdo, qual carapuça! Tipo Guus Hiddink. Os fundos ajudam.