Entrar como se o jogo tivesse que ser resolvido na primeira parte. Foi isso que o Sporting fez, e o resultado final foi um 2-0 que deveria ter sido pelo menos o dobro, tal o caudal ofensivo dos Leões, quase sempre sob a batuta do mestre Morita 

 

É fácil gostar, muito, de Hjulmand, o dinamarquês que veio para remendar as saudades que temos de Palhinha e de Matheus Nunes. O gajo faz-se notar em campo, raramente faz um passe disparatado, pede a bola a toda a hora, tem um belíssimo tempo de desarme, vai ao choque com quem tiver que ser, até porque não é propriamente pequeno. Depois, ainda tem aquela pinta de atleta que usa fita no cabelo louro, coisa que há umas duas décadas valeu a Alain Sutter uma legião de fãs, para não recuarmos outras duas e dizermos olá a Bjorn Borg.

Ao seu lado, umas vezes mais adiantado, outras a ficar em compensação, está Morita, o japonês bronzeado que joga tanto à bola que muito boa gente nem dá por ele. Quase sempre mais envolvido sobre a interior esquerda, fazendo girar o carrossel por onde dispara Nuno Santos, Morita foi o mestre que pegou na batuta, a fazer jogar e a impedir de jogar. Que grande partida fez o camisola 5, que haveria de terminar num papel mais recuado, quando Daniel Bragança passou a ser o seu parceiro.

Com estes dois, cada vez mais o Sporting está sólido, depois de encontrar uma dupla que faça a diferença bem no miolo, coisa que aconteceu com Palhinha e João Mário ou com Palhinha/Ugarte e Matheus Nunes. Isso permite aos Leões enjaularem os adversários nos últimos 40 metros de terrenos, dando liberdade à equipa para partir em vagas sucessivas rumo à baliza.

O segundo golo, uma pincelada de classe de Edwards, resulta precisamente de uma recuperação de bola bem alta, a que o inglês deu seguimento como se construir uma jogada entre 3 ou 4 adversários fosse a coisa mais básica do mundo. Seja bem aparecido, caro Marcus, que à sexta jornada lá resolveu espreguiçar-se e começar a partir a louça, dinamitando as entre linhas vilacondenses.

Antes, Paulinho, um Paulinho a respirar confiança e a beber da poção trazida por Gyokeres, tinha aberto o marcador, numa bela jogada onde Edwards e Morita também participaram, e com tudo isso o Sporting, aos 25 minutos, tinha o jogo no bolso, só não o fechando porque Pote, por duas vezes, uma delas negada pela barra, não conseguiu concretizar, já depois de Nuno Santos também ter colocado o redes à prova.

Foi uma belíssima primeira parte, o suficiente para a segunda assentar na gestão, com um susto logo a abrir, quando um livre cruzado para a área permitiu ao Rio Ave marcar, num golo anulado pelo VAR. Foi momento único ao longo de um jogo que, nos segundos 45 minutos, chegou a ser chato e a fazer chegar o sono. Ainda se falharam mais golos, claro que sim, mas o que mais importava estava feito e bem feito, muito por culpa da atitude com que os Leões, sem o craque Gyo, entraram em campo, somando mais três pontos em vésperas de um Benfica vs Porto e de uma ida a Faro.