Nos últimos tempos, a avaliação ao trabalho de Marco Silva no Sporting tem provocado entre os adeptos de uma casa normalmente dividida, uma enorme, verdadeira, unanimidade. Ou seja, mesmo aqueles que defendem para a próxima época a continuidade do treinador, não conseguem deixar de lhe apontar erros grosseiros e começarem a sua defesa por “Apesar de nem tudo ter feito bem…”. Ainda assim, a maioria dos sportinguistas – parece-me – deseja a sua continuidade. Porquê?

Embora eu não me inclua na tendência, acho que vale a pena analisar a sua razão de ser, pois ela brota de um sentimento profundo, logo, legítimo:
1) Um clube que assenta a sua estratégia na formação (fala-se em ADN), é um clube que tem uma visão de médio e longo prazo, e que acredita nos resultados futuros de um trabalho continuado. De resto, esta política tem o apoio da esmagadora maioria dos adeptos, e é até, em meu entender, a principal razão porque o Sporting consegue angariar tantos jovens adeptos mesmo prosseguindo anos, décadas, de seca de títulos (outra razão, terá que ver, julgo, com a sua postura ética claramente contrastante com a dos rivais directos). Tanto é assim, que mesmo durante sucessivas direcções por demais incompetentes, a política da formação se manteve uma trave-mestra da casa.
Porque não então, prosseguir uma política semelhante na contratação do treinador? Porque não dar continuidade ao seu trabalho? Porquê mudar todos os anos – e várias vezes ao ano – com tão pobres resultados?
A verdade é que já foi tentado. Da última vez com Paulo Bento com os resultados conhecidos. E Marco Silva começa a revelar alguns traços de personalidade semelhantes. A continuidade por si só, não garante o sucesso.
Mas o raciocínio é lógico, e era por certo o que ía na cabeça de Bruno de Carvalho quando assinou com Marco Silva um contrato por 4 épocas. As razões que serviram de base a esse contrato, levam-nos ao ponto seguinte.

2) Os sócios – nomeadamente aqueles que votaram em Bruno de Carvalho, e aqueles que não votaram mas posteriormente o passaram a apoiar – não imaginavam nem desejavam, ver o seu presidente assinar contrato com pelo menos 3 treinadores durante o seu 1º mandato. O próprio também não, com certeza. E essa multiplicação de contratos parece contrária ao espírito com que Bruno de Carvalho foi eleito, contrária à mudança que esta direcção preconizava.
Desde Dezembro, procurou-se dividir os adeptos do Sporting entre os que estavam com o presidente e os que estavam com o treinador. Essa divisão é artificial, não existe. Foi cavalgada pela CS numa lógica de aproveitamento da crise entretanto aberta no meio de um cenário de grande hostilidade para com a direcção do Sporting.
Mas não é ou o presidente ou o treinador. Os dois estão no mesmo barco. Uma nova mudança de treinador representará um enorme revés para o presidente. Por isso, muitos dos adeptos e sócios que estão com Bruno de Carvalho, não desejam que ele tome essa decisão.
Não a tomará de ânimo leve. Duvido até que a tenha já tomado – quero crer que a cara com que o vimos no banco durante o jogo contra o Paços, era a cara de quem ainda não se decidiu. É até agora, a decisão mais difícil do seu mandato. Irá marcar o mandato. E irá marcar a pessoa.

3) A terceira razão é mais prosaica, é quase difícil escrevê-la sem rir – mas alguns sportinguistas receiam ver Marco Silva nos nossos rivais. Eu gostaria de o ver já e não daqui a 3 anos, quando a passagem pelo Sporting o tiver tornado um treinador mais experiente, maduro, quiçá um treinador bastante razoável até.

Estas são quanto a mim, as razões de um apoio que às vezes parece cego (e muito irritante para quem não o partilha) a um treinador que não deu grandes provas da sua competência.

Quanto à sua continuidade, sinceramente, por que não sermos pragmáticos e aplicarmos os mesmos critérios que aplicamos aos jogadores? Se o fazemos com o André Martins (que eu gostaria que continuasse – também terei as minhas razões afectivas), porque não com o treinador? Há melhor? Venha! Não há, ficamos com este.
A continuar, Marco Silva terá muito que corrigir. E rápido. A sua 2ª época será ainda mais complicada do que a 1ª, pois partirá de numa posição de grande fragilidade e a pressão para a conquista do título aumentará – mesmo que desta vez ninguém reclame a pole position, o facto é que faltam apenas dois anos para o fim do 1º mandato do presidente que quer e precisa apresentar resultados desportivos. Despedir Marco Silva no final ou a meio da próxima época, seria o mais desastroso cenário. Porque não fazê-lo já? Seria a forma de garantir duas épocas de verdadeira estabilidade ao próximo treinador do Sporting.

 

 

ESCRITO POR William Shakespeare

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