Quem nunca jogou um simulador de manager de futebol, tem grandes  probabilidades de se ter embebedado mais, ter apanhado mais escaldões na praia e sobretudo ter tido muito mais tempo para trabalhar os glúteos (com posterior lucro nas noites quentes das discotecas algarvias). Mas existe o reverso da medalha. Não é lá grande coisa comparativamente, mas existe. Quem nunca se dedicou a “brincar” aos treinadores durante centenas de horas em frente a 17 polegadas de pseudo-realidade também nunca aprendeu conceitos básicos de gestão de um clube de futebol (estou claramente a excluir os que o fizeram na vida real). Sim, os simuladores servem para alguma coisa. Aprende-se alguma coisa…por incrível que pareça os programadores e estrategas de jogo passaram milhares de horas a tentar recriar os problemas e as dificuldades do dia-a-dia de um clube de futebol. E isso está.

Calma…não estou a dizer que tu que pegaste no Andorinhas FC e ganhaste a Champions na 3ª época darás um bom treinador na vida real, aliás, tens até enormes probabilidades de nem servires para bom roupeiro. Mas pelo menos já deste por ti a pensar em coisas que muitos adeptos simplesmente ignoram e que penso deveriam fazer parte de uma formação obrigatória dada pelos clubes de futebol aos que se propõe a sócios. Como estou efectivamente “fartinho” de ouvir estas barbaridades vezes sem conta, cá vai uma shortlist das 10 maiores ilusões da malta da bola, a que vou dar o nome sugestivo de: As 10 maiores ilusões da malta da bola

1/ “Vão buscar o Jogador X(sendo que “x” pode equivaler ao nome de qualquer titular de uma boa selecção ou de um clube de topo da tabela dos big 5 europeus)
Vamos lá ver se nos entendemos. Um jogador que ganha acima de 1.5 milhões de euros líquidos por época (sim porque também temos das cargas fiscais mais elevadas para futebolistas mundiais) está fora do alcance dos clubes portugueses.* Além do mais também dá jeito recordar que para quem joga, só como exemplo, na liga Alemã, vir para Portugal só pode significar uma de 4 coisas: foi um flop e tem de fazer restart num nível inferior de competição; tem as rótulas num estado pré-Mantorriano; gosta mais de praia e copos que propriamente jogar à bola ou então foi metido num esquema com um empresário em que tem de servir de moeda de troca num favor ou pagamento de favor a um clube.* A Liga portuguesa não tem interesse para atletas já com nome feito na alta roda europeia. Ponto final.*

2/ “Contratem um treinador que valorize a formação e que ganhe títulos”
Experimentem sentar o Mourinho, Van Gaal, Hiddink e Capello na mesma mesa e propor-lhes o seguinte: “Pago 500 milhões de euros por época a qualquer um de vocês que aceite treinar a minha equipa. Só tenho uma condição, quero ganhar o campeonato com uma equipa essencialmente composta por jovens que foram formados no clube…vá lá, dou-vos 15 milhões para contratarem jogadores mais experientes.” Não se apoquentem a tentar imaginar qual é que aceitaria primeiro, pois nenhum o faria. Das duas uma, ou o clube escolhe um treinador que quer crescer com uma equipa, ou escolhe outro que queira comprar uma. É possível valorizar jogadores conquistando títulos, o que é muito mais difícil é fazê-lo com iniciantes ou pouco mais experientes que isso. Tão difícil desde a Lei Bosman, que nenhum o fez até agora. Não me venham com a história do Ajax, pois cada vez mais o clube de Amesterdão tem passado para segundo plano e já não coloca sequer 2/3 do 11 titular com jogadores da formação. *

3/ “Aquilo era mandar os que não prestam todos embora”
Se um jogador não rende no nosso clube, existem grandes hipóteses de não ter mercado nenhum em outros clubes que paguem melhor. E se isto não acontece, porque raio iria um jogador querer “ir embora” prescindindo de um melhor salário e quantas vezes ainda menos visibilidade. “Mandar” embora um jogador às vezes custa tanto ou mais que contratá-lo. Houve tempos em que um “campeão” qualquer disse ter uma vassoura e cheques para resolver magicamente este tipo de problemas. Sorte para ele que os cheques não foram debitados na sua conta e azar para o seu clube que a vassoura só varreu o “lixo” que estava à vista. Ainda andamos a pagar as vassouradas mágicas desse senhor.*

4/ “O jogador y não está a jogar nada, tirem-no da equipa”
Se um jogador saísse da base de um 11, cada vez que faz uma ou duas partidas abaixo do seu potencial, os plantéis teriam de ter provavelmente 140 jogadores. Alguém que entenda que existem muitas rotinas de jogo que são criadas precisamente porque se tem aquele tipo de jogador. Tirar um jogador da titularidade e colocar outro no seu lugar é muitas vezes mexer com toda a movimentação da equipa. Além disso se é o titular é porque provou em centenas ou milhares de horas de treino e jogo que possui mais capacidade que os restantes. Nada garante que mudar só por mudar vai trazer melhorias. Mais, se estamos a falar de um atleta ainda jovem, numa fase de crescimento e maturação, mandá-lo para o banco pode ser tudo o que não precise para voltar às boas exibições. O que acontece muito menos vezes do que as pessoas pensam é um suplente tirar o lugar ao titular. Fá-lo pontualmente (Lopetegui tapas os ouvidos) mas sobretudo como “descanso” ou “refoco” e raramente ultrapassando a ordem nas preferências de um treinador. Os chamados “saltos de confiança” são oportunidades  que acontecem 1 ou 2 vezes numa carreira.*

5/ “Estes jogadores querem é mamar o salário. Estão-se a cagar para o clube”
Dizer isto de um futebolista tem tanta relevância como dizer que um canalizador se está a cagar para a nossa banheira entupida e que só quer é “mamar “ o dinheiro. Os jogadores, principalmente os que pertencem ao plantel profissional de um grande emblema, não são a Madre Teresa. Estão ali para ganhar dinheiro, muito dinheiro. Esqueçam o “amor à camisola”. Não têm na maior parte tempo sequer para conhecer os restaurantes das redondezas do estádio, quanto mais para “ganhar amor” a um clube, seja qual for. Mas isso não significa que estejam alheados do que se passa no emblema em que jogam. As suas carreiras também são afectadas pela instabilidade da entidade patronal. Se quiserem entender melhor isto, pensem em vocês mesmos. Será que têm amor à camisola de quem vos paga os salários? Será que passam noites sem dormir a pensar nos problemas que o vosso patrão tem para resolver?*

6/ “O que falta a esta equipa é um avançado que faça 20 e tal golos por época”
Todos os bons jogadores ajudam, mas achar que um objectivo de uma equipa não foi alcançado pela ausência de um tipo de jogador é insultar o trabalho dos outros e imaginar uma equipa como um puzzle em que ao encaixar uma peça pode fazer com que todas as outras pareçam muito melhores. Acontece pouco e quando acontece não estaremos a falar de uma unidade qualquer, o que nos leva de volta ao Ponto 1.*

7/ “Não sei o que viram naquele gajo, é um flop”
Quem nunca comprou uma peça de roupa ou mobiliário, que parecia linda de morrer na montra e em casa pensou “mas merda é que eu fui fazer?” que atire a primeira pedra. Quem nunca teve um relacionamento que tenha chegado bem cedo à trágica interrogação “o que é que eu vi neste coirão” que atire duas. O scouting pode e deve ser o melhor possível, mas erros de casting podem sempre surgir. Às vezes nem sequer é o jogador errado no clube certo, é mesmo o jogador certo, mas no clube errado. Existem milhares destes exemplos e variáveis para qualquer coisa poder não encaixar são muitas para enumerar, sendo que a principal é mesmo a relatividade de…uma coisa num tempo e num espaço determinado não é igual noutro tempo e noutro espaço qualquer.*

8/ “Devíamos fazer como o clube x e também fazer y”
A teoria anterior, serve na perfeição para desmistificar esta. Cada clube, pessoa, grupo ou empresa tem uma identidade própria, um contexto especifico. O que resulta para uns pode ser um desastre para outros. E se o MacDonald´s decidisse colocar os empregados de patins? E se os dentistas fossem ao domicilio? E se os sapatos tivessem garantia de 2 anos? Adoptar boas práticas sim, mas têm de fazer sentido. Têm de encaixar na estratégia e identidade do clube.

9/ “Era proibir os jornalistas de entrar no estádio”
Parecendo que não “ser notícia” só é totalmente mau quando todas as notícias são más. Existe um factor chamado notoriedade. Pode ser positiva ou negativa e isso depende da isenção da imprensa (o que em Portugal é um problema sério) e da boa gestão do clube. Dou de barato que me apeteceria cumprir o desejo expresso no título desta alínea, muitas vezes, mas também sei que deixar de ser notícia é pertencer ao éter, ao vazio, à inexistência. Hoje vivemos sobre a égide “é notícia, logo existe” e somos todos consumidores ávidos de informação. Pensem bem no que sentiríamos se um belo dia, não tivéssemos nenhuma (zero) notícias do Sporting. É isso que queremos ou é que falem “melhor de nós”? Eu não tenho dúvidas qual é a que todos responderiam certa e também sei que proibir o acesso à informação resolverá apenas a nossa vontade de vingança no momento. A luta por igualdade de tratamento com os nossos rivais na imprensa irá ser tão longa com os espaços entre os troféus que vencermos.*

10/ “Somos os melhores adeptos do mundo”
…mas também convém fazer qualquer coisa para ir alimentando esta verdade. Não ir ao estádio, não ser sócio, não assinar o jornal, não ter contacto ou relação alguma com o clube durante meses não é a melhor prova de qualidade que eu conheço. “Ah e tal, mas sofro muito com o clube e nunca deixo de gostar do Sporting”…se todos nos justificássemos desta forma para não participar na vida do clube, o estádio estava sempre às moscas e os cofres do mesmo vazios. O clube fechava e muitos teriam de passar a dizer “Ah e tal, tenho tantas saudades de poder inventar desculpas para não fazer nada pelo meu clube”*

*argumento que pode ser inválido no caso de ter como amigo Jorge Mendes, escolher árbitros, ter muitos compadres mafiosos e servir de bandeira à actividade da Doyen

 

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca