Faltam quase três dias, mas é impossível deixar de pensar no dérbi. Sempre foi assim, desde que me lembro, exceptuando dois ou três anos negros em que o “nervosinho miúdo” só se fazia sentir com o aproximar do apito inicial.

As primeiras memórias datam de 83/84 e são associadas a dois nomes: Manuel Fernandes e Rui Jordão. O primeiro era, aliás, uma espécie de garantia de golos aos lampiões. Os dois, juntos, permitiam-nos encarar um dérbi cheios de confiança, mesmo tendo um Bela Katzirz na baliza. Felizmente chegou Damas, um Oceano lavrava o meio-campo e um tal de Ralph Meade despertava o encanto por nomes estrangeiros (sim, já tinha havido Meszaros). Veio o monumental 7-1, escutado através de um pequeno rádio verde e preto, e juntei mais um nome com os quais ia fazendo a minha história dos dérbis: Mário Jorge.

Do meio do fumo das tochas surgiu uma bomba de Balakov, o mesmo que haveria de fazer um brilhante chapéu a Michel Preud’homme. Iordanov, o eterno mochilas, muito “féliz” por ter marcado “primér gol contra Benfica”. Pedro Barbosa, de cabeça, em Alvalade, cheio de classe, na luz, em duas vitórias por 1-3. Amunike, tão pequeno e com tanto talento, no que restava de uma equipa brilhante impedida de chegar à glória na maldita noite dos 3-6. Os golos de Beto, festejados de camisola nas mãos. Sá Pinto, a mexer nas orelhas enquanto festeja o golo e a gesticular de ganas virado para o topo onde estavam as claques. Acosta, enorme Acosta, primeiro numa eliminatória da Taça, depois em Alvalade, a abrir um 3-0 onde, no banco, Manuel Fernandes podia ter repetido a chapa sete (agora como treinador). O golpe de teatro assinado pelo pai, João Pinto, e pelo filho, Jardel. A cavalgada de Paíto, com cueca a Luisão, num fantástico jogo para a Taça. A revienga de Pereirinha ao David Luiz, com centro precioso para o golo de Liedson. Liedson, sim, ele, o pesadelo dos lampiões, o carrasco de Luisão, o dedo espetado em frente à foca e a outra mão na orelha, depois de bisar na luz (mas, no caso de Liedson, são tantos os momentos…). Uma equipa, cheia de putos, e os adeptos, unidos na raiva de uma histórica reviravolta à chuva e de um 5-3 inesquecível (e eu, empoleirado na rede, a sentir que o cérebro ia explodir a qualquer momento). Os malditos falhanços de Elias. A fantástica jogada entre André Martins e Montero.

É, rapazes, vocês já fazem parte desta história dos dérbis. Mas, mais do que isso, já fazem parte da história do meu, do nosso Sporting! É convosco que estamos a virar a página mais negra de uma vida que ultrapassa um século. São vocês que, nos últimos meses, têm encarnado palavras como esforço, dedicação e devoção. É, “apenas”, isso que vos peço que repitam no sábado à noite. É por isso que, independentemente do desfecho do jogo, vos deixo um sincero “obrigado, rapazes!”.