Não, isto não é uma rubrica espiritual. Mas podia ser. A verdade é que temos a mania de “endeusar” todo e qualquer jogador que saiba dar um pontapé de jeito numa bola. Mas, por outro lado, há “endeusamentos” que fazem todo o sentido, como por exemplo, Diego Maradona. E Fabián Rinaudo, claro. O nosso Fito.

Podiam passar anos sem saber da existência de Rinaudo. Mas, tal como uma verdadeira jornada espiritual, um dia vi a Sua luz. E que luz é essa? É umaluz tão simples, tão pura…que só pode ser divina. Estamos perante um jogador que encara a profissão com uma dedicação e uma paixão tais que é impossível ficar indiferente. O seu amor pelo jogo, pela equipa que representa e pelos seus companheiros é de tal forma contagiante que acabou por nos conquistar numa altura em que era difícil algum jogador conquistar o mais optimista dos adeptos. Porquê? Para mim é simples. Porque encarna prfeitamente o lema do nosso clube. Fito já era sportinguista sem o saber. Passar por Alvalade era simplesmente uma questão de tempo.

Já nessa altura, a da sua chegada, maravilhou-me. Cheguei a dizer que se o Messi era o Deus do drible, Fito era o Deus do desarme. Nunca vi ninguém recuperar tantas bolas por jogo como ele. E como todos os génios, Fito tem de ser compreendido pela sua genialidade. Nenhum de nós quer ver o Messi a recuperar bolas, a ir ao choque ou a fazer transições defensivas. Da mesma forma que será difícil vermos Fito atingir a perfeição na saída de bola, a intervir nos lances ofensivos, a manter equilíbrios. Mas quando o adversário tem a bola, uma coisa eu sei. Se passar pela zona de Fito, vai ficar sem ela. Se não passar pela zona de Fito, Fito vai lhe roubar a bola noutra zona qualquer.

Gosto de Rinaudo. Sempre gostei. O seu jeito de veterano, com calções metidos no peito e meias em baixo, a sua semi-careca a comprovar os milhares de duelos ganhos na terra das Pampas, o seu discurso claro, altruísta, comprometido. Se pudéssemos clonar uma personalidade, Fito seria o modelo perfeito para aplicar em todos os talentos que aparecessem no futuro.

Fito não é um craque. É a luz que faz os craques brilharem. É aquele gajo que é capaz de matar e morrer por ti dentro de campo. É aquele gajo que percebe que William vai ser um predestinado e envida esforços no seu crescimento. É aquele gajo que percebe o caminho e leva toda a gente com ele. Rinaudo vê sempre “the big picture”. E nessa “big picture”, não cabem coisas terrenas como “jogar” ou “não jogar”. Cabe apenas o altruísmo, a generosidade, a preservação do grupo. Não há lugar para Mundiais, não há lugar para “outros voos”,não há lugar para negociar merda nenhuma, não há empresários ou comissões. Só há lugar para o Sporting. E por isso é que Rinaudo é Deus. Porque tem uma visão global daquilo que é importante. Porque percebe tudo. Omnisciência.

A minha pergunta: Quantos pontos vale isto? Como medimos a influência que um homem como o Rinaudo tem no grupo?

A minha resposta: Não sei. Mas eu não prescindo dele. Não me perguntem porquê, porque não saberei responder. Quando no fim da época levantarmos um caneco, talvez consiga responder. E mesmo nessa altura, provavelmente só conseguirei dizer: “É a luz divina”. Ou, se quiserem, “a luz de Fito”. E todos vocês perceberão o que eu quis dizer.

* todas as sextas, directamente de Angola, Sá abandona o seu lugar cativo à mesa da Tasca e toma conta da cozinha!