Chegaram ao fim dois dias intensos, repletos de novidades e de movimentações de mercado que mexeram com o espírito de todos nós. E uma das principais razões para essa inquietude chama-se equipa B ou, se preferirem, chama-se aposta na formação.

Como se esperava, até pela chuva que tem caído, demorou pouco a que pequenas tolas de cogumelos começassem a brotar um pouco por todo o lado, procurando minar o espírito de união e a crença na actual direcção com a ideia «afinal, a aposta era na formação e agora chega uma carrada de estrangeiros!».
Vejamos, então, que carrada de estrangeiros é esta.

Shik é um número dez, fantasista, verdadeira pop star egípcia. Vem para uma posição onde, há muito, sentimos falta de alguém (confesso que cheguei a pensar, várias vezes, o que faria Matías Fernandez integrado nesta equipa e sob a batuta de Leonardo). Chegaria a custo zero (que se transformou em 500 mil euros que, ao que já circula, terão sido uma exigência resultante de uma caldeirada à moda do dragão) e com uma enorme vontade de relançar uma carreira, de conquistar títulos e de comprovar o estatuto de craque ao invés do de bad boy.
A pergunta que se coloca: temos, na nossa formação, algum jogador que possa entrar de caras na A, jogando a 10? Iuri Medeiros? Chaby? Minha opinião pessoal: acho que estaríamos a queimar etapas ao invés de deixá-los solidificar o seu futebol.

Matías Perez é uma das maiores promessas sul-americanas. Um central intratável no jogo aéreo, forte na marcação, com uma margem de progressão tremenda. Chega com um empréstimo de época e meia, podendo o contrato ser prolongado até 2019.
As pergunta que se fazem:
foda-se, então o Dier, o Semedo e o Tobias não são bons?!? Precisamos deste, para quê? Eu diria que precisamos deste para completar o leque de centrais para a próxima época. Acreditando que Rojo será vendido após o campeonato do mundo, ficamos com Maurício, Dier, Semedo e Matías.
e o Nuno Reis não presta? O Nuno Reis é um excelente profissional, digno de envergar a camisola do Sporting, mas não me parece que queira limitar-se  ser uma referência no balneário da B aspirando a uma possível chamada para um jogo ou dois por ano. E, permitam-me dizer a alguns de vós: depois dos impropérios que vi, li e ouvi serem dirigidos ao Carriço, é preciso uma falta de vergonha na cara para virem fazer de advogados de defesa do Nuno Reis. Na peida (vossa), pá!
E o Tobias Figueiredo, hum, que merda é essa de emprestar o gajo a uns espanhóis de segunda? Chama-se fazer dele um homenzinho. Há por aqui quem esteja mais por dentro da formação do que eu, mas Tobias precisava de um choque destes para abrir os olhos e repensar no que queria para a vida. Voltará, por certo, mais maduro, assumindo-se como esteio no centro da defesa da B e como opção para qualquer eventualidade, na equipa principal.

Heldon é um jogador bem conhecido por todos nós e uma das figuras da primeira metade do campeonato (aproveito já para dizer que não sou nada fã de Sami. Cheira-me a Douala com mais dez centímetros de altura, mas espero estar redondamente enganado. Já agora, é brutal a resposta ao “ridículo” proferido pelo presidente do Marítimo, a quem peço já para usar parte da verba para incentivar os seus jogadores para a partida de hoje e a quem aproveito para dizer que ridículo é mandar o Bruno Paixão fazer o servicinho em Barcelos como se nós fôssemos todos parvos). Bem, voltemos a Heldon. Um extremo acutilante e rematador, que faz golos. Chega para uma posição onde Carrillo e Capel têm sido demasiado intermitentes (e nada garante que por cá continuem para o ano), onde Wilson Eduardo desenrasca mas onde não se sente totalmente confortável, onde Mané vai aproveitando as oportunidades para crescer.
E o Esgaio, não faria sentido dar uma oportunidade ao Esgaio? Sim, eu acho que Esgaio já merecia uma oportunidade na equipa principal. Mas, parece-me, o facto de não ter sido emprestado significa que quem gere o nosso futebol considera que ele está pronto. Duvido, tanto, mas tanto, que não faça parte da equipa principal no próximo ano.

Dramé é mais uma aposta de futuro. Chega para a B, a custo zero, com experiência de futebol italiano e a precisar de estabilizar o seu futebol. Parece-me uma contratação ao jeito da de Cissé, mais até do que a de Enoh, que terá um percurso mais longo a percorrer em termos de afinação futebolística (ou não, ou não…).
Mas faz sentido estarmos a colocar este gajo na B, retirando espaço ao Podence ou ao Manafá? Se calhar não. Ou, se calhar, a presença de um jogador com outro andamento até pode ajudá-los a crescer. Temos que esperar para ver e acreditar que Dramé não vem fazer figura de Weldon (até pelo facto do francês ter sido contratado e o brasileiro ter vindo por empréstimo, o que diz muito sobre o que se espera de um e de outro).

Então e não podíamos ter ficado com o Betinho e com o João Mário? E andamos a ir buscar um gigante chamado Enoh quando tínhamos o Alexandre Guedes?
Vamos lá. Parece-me que o empréstimo ao Vitória de Setúbal foi dizer-lhes, “meus amigos, chegaram ao estágio final da vossa formação. Aproveitem-no bem que, na próxima época, as portas da equipa principal estão totalmente abertas para vocês”. É dar mais um passo em frente, coisa que não aconteceria se estivessem na B.
Quanto a Alexandre Guedes, foi ele quem escolheu o seu destino. Nenhuma vontade em renovar e a ideia de que é um craque, conduziram a um adeus anunciado. É pena, pois é, até porque é raro formarmos pontas-de-lança com aquela estampa física e aquelas características. Pode ser que cresça e, dentro de dois ou três anos, voltemos a ouvir falar nele (e a lucrar, pois temos direito a 40% de futuras transferências).

No meio de tudo isto, conseguimos resolver os casos Labyad, há mais tempo, e Jeffren. Ficamos com a batata quente Elias, entretanto inscrito, mas que poderá saltar da panela nos próximos dias. Ah, e, coisa pouca, acabámos com os patéticos rumores de que Montero não era nosso.

Em jeito de resumo, diria que, mais do que reforçar a equipa para o que falta desta época (e, sim, Heldon e Shik são reforços), começámos a arrumar a casa tendo em vista a próxima.
Talvez exista quem preferisse ver capas de jornais como as de hoje, atirando fumo de pneu queimado para os olhos de uns e outros. Talvez exista quem preferisse poder gritar que era o clube que mais tinha facturado na reabertura de mercado, ignorando que lhe estão a meter o dedo no cu para os fazer esquecer que, por não ter um tostão, venderam o melhor jogador por metade da cláusula e que estes milhões que agora chegam (chegam, Roberto?), mais não são do que uma forma de tentar compensar os 50% do passe de um Pizzi, os 80% do passe de um Funes Mori, os passes de Fariña e Lisandro Lopez e as contas associadas aos “craques” que são pagos para treinar (desculpem a achega, mas enerva-me este jornalismo).

Eu, confesso, prefiro assim. Algumas questões, algumas dúvidas, mas o sentimento de que estamos a trabalhar bem e que temos pessoas que, mais do que fazer barulho e barafunda, procuram ser competentes e mostram saber o que querem para o futuro do Sporting.