Costuma dizer-se que há jogos que valem mais do que três pontos e este clássico foi um desses. Desde logo, e para o Sporting, pela motivação extra que pode representar até ao final da época, com a conquista da entrada directa na Champions cada vez mais perto. Depois, pelo rombo que provoca o fcp, obrigado a repensar um abordagem a esta época repleta de erros, que só não é mais questionada devido à ligação entre os adeptos e o presidente.

Tinha sugerido, ontem, que Leonardo Jardim passasse a música “Amor Combate” antes de os jogadores entrarem em campo, e o que se passou no relvado foi, efectivamente, um jogo para gente crescida. Na maioria do tempo mal jogado, quezilento, com pouco espaço e várias bolas perdidas, com duas equipas encaixadas à espera que os vituosos desatassem os nós. Quaresma foi quem mais perto esteve de fazê-lo, na primeira parte (enorme defesa de Patrício, na primeira jogada, surpreendido ou displiciente? no remate à barra), sedo que, do nosso lado, os extremos Mané e Capel não conseguiam entrar no jogo. André Martins parecia perdido e todas as despesas iam passando pelos pés de William (já não há palavras), bem auxiliado por Adrien e por um intratável Slimani, ontem capaz de recuar, segurar, chocar, desgastar e ajudar a fazer jogar. Lá atrás, Rojo e Eric formavam uma dupla para não colocar defeito.

No fundo, intensidade não nos faltava. Faltava, isso sim, acrescentar arte à luta, algo que William, André Martins e Slimani, depois da cabeçada despertadora de Mané, viriam a fazer (e é nestes momento que vemos como o futebol é curioso, pois, por mim e por mais não sei quantos milhares, o número 8 e, muito provavelmente Capel, teriam ficado no banho, ao intervalo). Uma enorme jogada (a bola metida por William é incrível) que, infelizmente, encontra um momento intermédio em que Martins está em fora de jogo. A verdade é que, no estádio, não houve quem tivesse visto e não houve quem tivesse reclamado, algo que, ao que li, aconteceu posteriormente numa versão alienada em que se acrescentam penaltis e expulsões (parece-me um desespero maior que o dos dois centrais azuis e brancos que batiam em tudo o que mexia). Ainda assim, fica o convite: estão descontentes com o estado do futebol português? Manifestem-se!

Entretanto, Capel tinha acordado e começava a fazer piscinas naquele seu jeito que levanta bancadas. Jeffersson tinha trocado de pulmões e parecia capaz de estar nas duas bandeirolas de canto em simultâneo. Cédric tinha percebido como se defende um jogador como Quaresma e aproveitava para vingar-se. André Martins pedia para sair e Slimani faria o mesmo, depois de aguentar uma lesão durante dez minutos. Montero juntava-se à festa, cortava para dentro com a parte de fora do pé e, em jeito, colocava à prova os reflexos de Fabiano, entretanto entrado para o lugar do lesionado Helton. O momento fica como uma valente lambada de luva branca, com os adeptos do Sporting a aplaudirem e a incentivarem o guarda-redes brasileiro.

Na outra baliza, Eric cortava, de forma épica, a última baforada do dragão, e Alvalade unia-se em cânticos para todos os gostos. Carrillo segurava a bola, escondendo-a do passar dos minutos, e William mostrava-a ao mundo, no meio de um, de dois, de três, de quatro, sempre em movimento, sempre para a frente. Tal como a equipa, que subiu outro degrau no seu processo de crescimento.