“Somos pasión, somos alegría y si toca sufrir, sufrimos […] Cuando la mente y el corazón están unidos todo es posible”
As frases pertencem a Diego Simeone, o timoneiro que recuperou o título de campeão para o Atlético de Madrid. Quando se deixa ficar no banco, observando o extravasar de felicidade dos seus jogadores, em pleno Camp Nou, esboça um sorriso. Olho para a sua expressão e tento imaginar o que lhe vai no interior. E este pequeno exercício diz muito sobre a conquista alcançada: existe uma identificação plena entre El Cholo e o Atléti. E essa paixão, que é a mesma, estende-se a jogadores e adeptos. Sim, isso, este campeão é um campeão apaixonado e apaixonante, é um campeão de esforço, é um campeão de crença no trabalho face aos milhões de Barça e de Madrid.

Por tudo isto, não admira que tantos Sportinguistas gostem do Atético de Madrid. Tal como gostam do Dortmund ou do Liverpool. Esta vontade de fazer história de forma romanceada, está-nos no sangue. E quando vejo Simeone, imagino qual seria a expressão de Leonardo Jardim, caso tivéssemos sido campeões. Não me custa visualizá-lo, sentado no banco, sorrindo enquanto observa a festa dos rapazes. Mas agora que o vejo partir, assalta-me a dúvida sobre o que representa para ele a paixão. É verdade que, ao contrário de Diego Simeone na história do clube espanhol, Leonardo não foi um dos jogadores mais acarinhados da história do Sporting (numa comparação rápida, diria que “esse papel de Simeone” poderia ser desempenhado por Oceano, Sá Pinto ou Balakov). Mas Leonardo chegou até nós como o homem que vem completar o sonho de uma criança que, de olhos postos na televisão, afirmou “um dia vou treinar aquele clube”. E esse clube é o Sporting.

A verdade é que, no final de uma época em que foi um dos principais obreiros no revitalizar da paixão leonina, Leonardo mete esse sonho de criança na mala e ruma a outras paragens. Ele conhecerá melhor os motivos que o levaram a tomar esta decisão, ainda o Sporting lutava pelo título. Podemos especular sobre se é um questão de dinheiro, sobre se é uma questão de autonomia e poder, sobre se é uma questão de achar que não tem as condições que considera incontornáveis para atingir determinados objectivos. Mas só Leonardo saberá o que, entre o final de janeiro e o arranque de fevereiro, o levou a tomar a decisão de que não pretendia continuar. E, assim sendo, é louvável a capacidade que treinador e direcção tiveram de, até final, manterem o profissionalismo e serem capazes de atingir um objectivo que, face à época anterior, poucos arriscariam.

Em jeito de despedida, tenho, obviamente, que agradecer a Leonardo Jardim pelo trabalho efectuado e tantas vezes minado por arbitragens que ajudaram a decidir campeonatos e taças. Irrita-me, claro que irrita, ter que passar por todo este processo de escolha de treinador, por estas novelas em capas de jornais, por este sentimento de recomeçar. Parte do trabalho perde-se – a identificação de personalidade entre o treinador e o grupo, por exemplo, bem como o conhecimento de ambos sobre métodos de trabalho e sistema de jogo – mas algum dele fica feito. Hoje, os jogadores do Sporting são jogadores muito mais confiantes e capazes de honrar o Leão Rampante onde quer que seja. E o clube também oferece condições de estabilidade completamente diferentes a quem vem ocupar o lugar de treinador.

E é, também, em jeito de despedida, que deixo uma espécie de conselho a Leonardo Jardim: tens que aprender a lidar melhor com a paixão, Leo. Se ela é boa enquanto motor que nos faz abraçar diferentes relações e conhecer diferentes pessoas, torna-se bem melhor quando conjugada com um amor estável. Esta ideia faz-me voltar a Simeone e a um artigo de Luís Pedro Ferreira, escrito ainda antes do Atlético se sagrar campeão, «O Atlético é líder em Espanha, mas não por ter melhores jogadores que os rivais, é finalista na Champions, mas não por apresentar o melhor futebol da Europa. É tudo isto porque tem maior desejo que os outros, tem mais fome. Tem mais paixão. Porque tem um treinador que entende o clube desde o guarda-redes ao ponta de lança. Desde a bancada atrás da baliza até Neptuno. Porque, como é lema no Atleti, é ele que sonha acordado enquanto os rivais dormem». 

Basicamente, Leonardo, era um lugar assim que podias ter ocupado. Talvez te tenha faltado (e continue a faltar, decididamente), esse pequeno pormenor de ter mais paixão. E de conseguires transformá-la num amor seguro. Aí, estarás mais perto de poder proferir uma frase ao nível de uma das mais belas que escutei até hoje: «Escuchen bien. Quiero contarles por qué ganaron estos chicos el partido de ayer. Porque jugaron con el corazón de todos ustedes!»