Sempre imaginei como seria quando te visse vestir a nossa camisola pela primeira vez. Estive tentado a comprar-te uma várias vezes, mas preferi esperar. Esperar que fosses tu a decidir quando era o momento certo, sem desistências de última hora para irmos a qualquer outro lado que, no teu mundo, se revelava mais importante.

Mas, desta vez, comprar a camisola do Sporting era a coisa mais importante. Acordaste a pensar nisso. Tomaste o pequeno-almoço a perguntar, «depois vamos comprar a camisola?». E apressaste-me uma meia dúzia de vezes, na ânsia de sairmos de casa. «Quero a das riscas, está bem, papá?», perguntavas pelo caminho. «Não quero a laranja nem a roxa!». Eu sorri, enquanto te disse que sim e continuei a sorrir enquanto me puxavas pela mão, já em redor do Estádio. «Eu levo! Eu levo!», gritavas tu, a caminho do provador, tentando arrumar três bolas que decidiste tirar do sítio. «Ulalá! Fica mesmo bem, pai!», exclamaste a olhar para o espelho, com um sorriso que era teu e era meu, perdido em pensamentos vagos de pai babado. Não sei se o «estás linda!» que te disse soou diferente dos que tantas vezes te digo, mas, caraças, ficas mesmo bem de verde e branco e de Rampante ao peito.

«Quero levar vestida, papá!». Claro que levas, boneca, raio da resposta tão lenta para a velocidade com que sais do provador para mostrar ao mundo o teu orgulho de palmo e meio que me deixa sem palavras, ignorando a tarefa de ter que tirar uma etiqueta com alarme e pagar o que se compra. «Estou mesmo igual a ti, pai!», dizes-me na rua, mão na minha e olhos postos em quem connosco se cruza, exibindo, vaidosa, a tua camisola. Fitas-me num misto de vergonha e emoção, quando se cruzam contigo e te elogiam por seres do Sporting. Uma, outra, tantas vezes, perto e longe do estádio, mostrando-te que somos muito mais do que os «mil e quarenta e setenta» que já são um número do cacete.

Dás uma corrida e eu limito-me a observar os teus cabelos que, caminhando em direcção à cintura, convidam o sol para uma dança sobre as riscas verdes e brancas. E na tua orgulhosa felicidade que não depende de vitórias nem de derrotas, explicas ao mundo o que é vestir essa camisola. A camisola que une milhões, independentemente do número de quilómetros que nos separe. A camisola que se veste uma vez e que jamais se despe.