Podia ter sido uma semana de merda, mas uma besta escandinava resolveu sair do bolo imaginário em que gente parva acha que o coloca, para marcar dia golos num minuto e deixar o Sporting cada vez mais perto do título

Começou com uma viagem a Londres, despropositada, fora de tempo, desvalorizada pela direcção e pelo treinador. Continuou com uma conferência de imprensa que resulta na palavra “perdido”, coisa que deixou a nação leonina incrédula. Estava prestes a terminar com um jogo fraco, fraquíssimo, repleto de equívocos por alguém que pareceu perder-se, também, na preparação do jogo e na escolha do onze que subiria ao relvado do dragão.

Com Gyokeres tocado, Paulinho era a referência ofensiva, e até aí tudo bem, mas, depois, vinha um conjunto de invenções onde Gonçalo Inácio era defesa esquerdo, Diomande voltava a jogar à esquerda do trio de centrais, e St Juste era um híbrido entre central à direita e polícia de Galeno.

Ora, é verdade que tanto Galeno como Chico Conceição foram anulados naquilo que de mais perigoso fazem, isto se não levarmos em linha de conta as vezes que berram e se atiram para o chão, até porque foi assim que o primeiro sacou um amarelo ridículo para St Juste, o mesmo amarelo que se ignora olimpicamente para poder dizer que o holandês escapou à segunda cartolina, a abrir a segunda parte.

Escrevia eu, que é verdade que tanto Galeno como Chico Conceição foram anulados naquilo que de mais perigoso fazem, mas essa preocupação matou o Sporting em termos de rotinas de circulação de bola, de movimentos que abrem espaço nas alas e nas costas das defesa. Pote sentiu sempre a falta de um Nuno Santos ou de um Matheus Reis, pois Inácio estava sempre desconfortável nesse papel de correr ala fora, procurando sempre o interior, o que obrigava Pote a ser ele a procurar a linha. Perdeu-se tudo o que de bom acontece nesses movimentos, e quando saía cruzamento era sempre uma verdadeira merda.

Para piorar as coisas, Israel, que tem reflexos felinos e faz defesas incríveis como aquela que fez em cima do intervalo, evitando o 3-0, continua a alternar esses momentos com disparates como aquele que resultou no primeiro golo adversário, ainda antes dos dez minutos: com tempo de sobra, fez um passe aos trambolhões para Diomande que tarda em recuperar da CAN e do ramadão; o adversário recuperou a bola e com a defesa completamente descompassada, Evanilson fez o 1-0.

Palminhas para Pinto da Costa, palmilhas para Vilas Boas, que isto de festejar com dois presidentes tem que se lhe diga, e o Sporting naquele marasmo de onde apenas saía quando Daniel Bragança borrifava de perfume uma exibição quase tão escura quanto o equipamento negro usado (contrastando com a maravilha do listado com que entrámos, em homenagem a Manuel Fernandes, em dias complicado face à doença).

O 2-0 viria na sequência de uma arrancada de um tal Martim, que na estreia aos 18 anos ia aproveitando o brinde de Amorim de livrá-lo do vendaval que costuma ser a ala canhota dos Leões, que viu Hjulmand escorregar como se estivesse com sapatinho de sintético em relva natural (aconteceu o mesmo a Bragança no lance que quase dava o 3, vejam lá que raio de chutarias estão a usar), e depois abriu-se uma autoestrada para a entrada de Pepê, que foi por ali fora e bujardou o desamparado Franco.

Ora, Amorim parecia apostado em fazer linha numa semana repleta de acções estúpidas, e ao intervalo tirou aquele que estava a ser o mais esclarecido jogador dos Leões. Bragança saiu, Gyokeres entrou, Pote recuou para o lado de Hjulmand, o sueco junta-se a Paulinho e a Trincão na frente. Pouco ou nada mudou.

Até que o mister lá se lembrou que o problema estava onde todos já tinham visto: Morita e Nuno Santos lá para dentro, Diomande e Paulinho para a duche, e finalmente o Sporting voltava a ter condições para ser a equipa que costuma ser, restava saber o que poderia fazer na meia hora que faltava para o final.

Os cruzamentos, quase sempre pela esquerda, passaram a representar perigo, mas o FCP ia abdicando cada vez mais de tentar sair, tapando todos os caminhos para a baliza do regressado Diogo Costa. O tempo passava, ria-se aos 85, quando Edwards entrou para o lugar do desinspirado Pote.

Coates, capitão, meteu teleguiado na subida de Nuno Santos, e o camisola 11 cruzou a régua e esquadro para o salto de Gyokeres, para o ataque à bola perfeito, para a cabeçada à deus do trovão! Bola ao meio, Nico faz um passe manhoso, Geny acredita e intercepta, Gyokeres recebe de primeira na molhada e deixa em Edwards, e quando Edwards se aproxima da área com a bola colada ao pé há sempre esperança de qualquer coisa boa. Vem um cruzamento, com a redonda a passar por entre as pernas de dois adversários, e nós já só pedimos que nada a impeça de chegar ao Viktor, que espera por ela como se espera por quem se ama na plataforma da linha de comboio.

O resto, é futebol. É gritaria, é o mundo às cambalhotas divertidas (e raismapartam se nós não merecemos todas estas cambalhotas), é o Edwards a ser expulso não fosse acontecer a reviravolta completa, é um sueco revolucionário a sair do bolso imaginário, a acenar bem alto para que quiser escutá-lo: está quase, camaradas!

I’m broke, but I’m happy
I’m poor, but I’m kind
I’m short, but I’m healthy, yeah

I’m high, but I’m grounded

I’m sane, but I’m overwhelmed
I’m lost, but I’m hopeful, baby

And what it all comes down to
Is that everything’s gonna be fine, fine, fine
‘Cause I’ve got one hand in my pocket
And the other one is giving a: High five!