Rui, a primeira vez que me deu para chorar durante um jogo de futebol, decorria o México 86. Portugal defrontava Marrocos e a baliza estava entregue ao enorme Vítor Damas, que tinha avançado para a titularidade em função da lesão de Bento. O resultado final, uma derrota por 3-1, teve tanto de patético como os 4-0 sofridos frente à Alemanha, há dois dias. E teve, imagina tu, outra curiosidade: certos iluminados quiseram fazer passar a ideia de que o Damas poda ter feito mais do que fez no primeiro golo, tal como, passados 28 anos, outros iluminados querem atirar-te as culpas da vergonhosa goleada.

Desta vez, ao contrário daquele dia, não chorei revoltado com o apontar de dedo ao guarda-redes do meu Sporting. Mas tem-me custado a digerir esta inacreditável campanha contra ti, que já dura há alguns meses. É vergonhoso que, depois de um apuramento paupérrimo, depois dos mil e um equívocos tácticos, depois de um leque de convocados por todos questionado e depois de uma derrota onde jogaste como se não houvesse meio-campo nem defesa à tua frente, se tente implementar a teoria de que a culpa foi do Patrício.

Sabes, Rui, não sei se jogaste lesionado, como já ouvi e li várias vezes, mas ainda bem que a baliza vai ser entregue a outro. A tua ausência será menos um motivo para desculpar a inabilidade e incapacidade de determinadas pessoas. E, quem sabe, o facto de não arrancares para brutais exibições no Mundial, poderá significar que continuas a ser o guarda-redes do Sporting. Não me entendas mal, pois longe de mim achar que não tens direito a querer jogar no campeonato inglês ou no espanhol, por exemplo (embora continue a achar que mereces mais do que, por exemplo, ires parar a um Mónaco desta vida). Mas, muito sinceramente, gostava que ficasses. Para o ano, para o outro e para o outro. No fundo, que fosses uma espécie de Ryan Giggs de verde e branco. Fazem-me falta um ou dois Giggs no Sporting. Ou um Francesco Totti. Sempre fizeram. A mim, porque é o transportar para a realidade do meu sonho de menino – fazer toda uma carreira de Leão ao peito – e ao próprio Sporting, pois ao contrário do que algumas pessoas defendem, creio que um clube é tão maior quanto os atletas-referência que consegue ter.

Estou-me borrifando para o que dizem os outros. Para mim, tu estás entre os cinco melhores guarda-redes do mundo, com o extra de estares a construir uma carreira assente, precisamente, em críticas e desconfianças constantes que começaram naquela que apelidaste como sendo a tua casa. O Sporting. E o Estádio José Alvalade. «Esta é a minha casa e para sempre assim será», disseste tu, no final de Setembro do ano passado. Por mim, Rui, se tu quiseres, continuará a sê-lo por muitos e bons anos!