Gostaria hoje de vos escrever sobre o difícil jogo que hoje nos espera na Alemanha. Gostava de fazer previsões do onze, destacar jogadores que podem ser importantes, rezar mais um pouco aos Deuses Nani e Rui. Mas, infelizmente, as previsões técnicas ou tácticas leoninas terão de ficar para o resto do dia. O nosso cozinhado de hoje vem azedo, podre e com um cheiro imundo, que não pode nem ser disfarçado com o belo perfume dos nossos rapazes em campo.

Luís Duque é o seu nome. Duque, para os amigos. Um homem de peso grande, engravatado (quase sempre gravata verde) e dedicado a “gerir”. Sim, o Luís é um gestor. Um daqueles que não se sabe como chegou a ser apontado para qualquer cargo que seja importante, mas lá chegou, todo distinto e bom falante. Um favorzinho aqui, um suborno ali, um almoço, um jantar e um hotel. Passo a passo o grande Duque foi fazendo carreira e chegou, diz ele, ao topo quando aceitou ser o Director Desportivo do Sporting Clube de Portugal.
O clube leonino passava uma daquelas secas gritantes, 18 anos sem vencer um campeonato. Chega Luís Duque, um gestor sem jeito para fazer contas de subtrair, investe bem e muito bem, aposta em Augusto Inácio e voilá, os leões foram para a rua outra vez. Foi depois disso que começa todo o cheiro a podre do enorme Duque. Despede Augusto Inácio, contrata Mourinho. Sem Mourinho ser treinador apresentado, despede-o também e, pasme-se, ainda pede ao Inácio para ir dar uns treinos enquanto não existia treinador. Veio-se a saber também, que aquele “custo zero” de João Pinto, tinha custado afinal 10 milhões de euros em…coisas. Foi a tribunal, indiciado por corrupção. Safou-se, claro.

Quantos “custos zero” chegaram depois deste. Quantos jogadores vieram para o Sporting em situações absolutamente desastrosas, cavando ainda mais o fosso que era disfarçado pelos escassos títulos que iam sendo conquistados. Afinal, o Sporting era competitivo. Ganhava taças, dois campeonatos, tinha nome europeu. Cada vitória eram mais dois milhões no passivo, cada estrela mais um ano de seca no futuro. Por cada super-jogador contratado por Luís Duque, cada ordenado ficava por se pagar depois. Luís Duque acabaria por ser afastado do Sporting, mas manteve-se amigo dos homens de bem, também de gravata verde, amigo do BES e dos investidores. Amigo de todos os que continuaram a cavar um fosso que já tinha o seu nome escrito a letras berrantes. Voltaria uns anos mais tarde. O número dois da Direcção de Godinho Lopes, um homem que simplesmente não estava destinado aquele cargo, mas a quem o ofereceram também.

Aí o grande Luís brincava com dinheiro como se fosse água. Seis milhões? Oito milhões? Ordenados na ordem dos 2 ou 3? Vamos a isso rapaziada, gritava Duque. Um Elias aqui, um Bolo de Arroz ali, um Labyad para animar a coisa e, claro, um Pranjic para estoirar dinheiro só. Jeffren e Rodriguez, dois jogadores que, temos de admitir, nos alegraram quando vieram para o nosso clube. Mas, talvez, a nossa alegria tivesse sido controlada se soubéssemos que assinaram sem testes médicos. Até levantámos o sobrolho quando o Luís Filipe Vieira lhe gritou “tu não me faças falar, eu dou com a boca no trombone”. Mas, bem, o Orelhas não falou o Luís riu-se apenas e, afinal, era um dos nossos, bolas! Jamais o Orelhas poderia ofender um dos nossos. Até podemos ter acreditado, mas muito secretamente.

Pelo meio, Luís Duque viria a estar ligado ao caso BPN, esse conto de princesas para os “gestores” em Portugal. Tinha uns trocados de parte no BES, normal. Convivia com o Salgado e, imagino, até se riam das falcatruas que ambos conseguiam. Aí o Luís estava mais contido, nada batia as manhas do seu amigo Ricardo, mas aprendia, tal qual aluno da primeira classe. Para este homem chegou o esperado. O Sporting descobriu o que se passava no seu tempo, foi altura de avançar com uma acção judicial, o mês passado. Afinal, não poderia ser inocente no meio de tanta incompetência!

E não é que, apenas um mês depois, Luís Duque está muito perto de ser tornar o Presidente na nossa Liga de Clubes. Este mesmo, este que descrevi nesta posta de pescada. Uma afronta, uma vergonha, um escândalo em que um clube sai mais prejudicado do que qualquer outro: o Sporting.
Bruno de Carvalho pediu mudança, denunciou o nojo que existia no nosso futebol, nos corredores do poder. Podem não adorar o estilo de guerrilha, mas nada proferido por Bruno é mentira. Absolutamente nada. Ele sabia que ao fazê-lo, o Sporting seria alvo a abater. Sabia e avisou sportinguistas desse desfecho. Muito cedo avisou que existia uma parceria FC Porto – Benfica pela bipolarização do futebol português. É maluco, disseram muitos. Afinal, meses mais tarde, é tão maluco que assiste, na Alemanha, a este teatro surreal.

Bruno não apresentou uma lista da sua confiança, não depositou, publicamente, o seu voto num homem. Porque para ele existem rostos que não têm de mudar, apenas algumas práticas. Sabia que apoiar alguém era colar essa pessoa a si. Sabia que a sua queda era a queda desse homem. Mas, caro Presidente, sem rostos não existe política de mudança. O senhor é a prova viva disso mesmo. Sem um rosto do nosso lado, foi muito fácil levar aqueles clubes a estar perto do Porto e Benfica. Eles até têm algumas cláusulas de preferência sobre alguns jogadores, até pagam valores estranhos por jogadores medíocres, ganham mais títulos que nós e por isso controlam o poder.
Fight & Resist nunca esteve tão vivo desde que BdC entrou no nosso clube e virou do avesso o futebol português. Caros leões, o que se passa hoje é a maior afronta ao nosso clube em anos. Unam-se carneirada e croquetes, lagartos e sportinguistas, seguidistas, acéfalos, pregadores da desgraça, histéricos, calmos, passivos, activos, adeptos e sócios. O Sporting, quer queiram ou não, é nosso outra vez!

 

*às terças, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa