“O que raio se passa com a equipa B?” Esta é a pergunta que todos os sportinguistas fazem neste momento. Talvez seja porque a equipa A teve o primeiro grande revés da época e, instintivamente, é lá que muitos de nós tentam procurar soluções. Talvez seja um erro de concepção. Pessoalmente, acho que são ambos. Ou melhor, acho que um é consequência do outro. Como aquilo está mal feito desde o início, hoje precisamos das soluções e não as conseguimos encontrar.

Saltando já  para a concepção, convém definir rápido aquilo que queremos que a equipa B seja. Ou um sítio para “inadaptados” ganharem ritmo ou o patamar final dos jovens da formação até chegarem à equipa principal. Já se viu que não pode ser um mix de ambos. Os primeiros desmotivam porque não é ali que querem estar e os segundos desmotivam porque lhes estão a dificultar o salto final. Não ter existido compreensão disto desde o início é puro amadorismo e, a meu ver, o primeiro grande erro da direcção de Bruno de Carvalho. Trata-se de um erro tão evidente que até no campo ele se manifesta. E fico-me por aqui para não ferir susceptibilidades.

Na verdade, consigo compreender a frustração de todos os jogadores. Podia dizer que “eles têm é que trabalhar nos limites, estar sempre motivados e esperar a sua oportunidade”. Mas isso seria esconder o verdadeiro problema. E o verdadeiro problema é, fazendo uma analogia de Marketing, não estamos a satisfazer as necessidades do cliente. Não estamos a pensar nos jogadores e naquilo que eles querem ou precisam. E o que é que eles precisam? De jogar na equipa principal. Ou, pelo menos, terem expectativas reais de que isso acontecerá num prazo razoável se o seu trabalho for bem feito. Claro que muita gente pode dizer: “Porra! Mas tu não tens visto os jogos da B? Achas que alguém merece dar o salto?” E têm toda a razão. Se calhar, hoje ninguém merece. A questão é que, na minha opinião, as exibições miseráveis que vemos hoje são consequência dos tais erros já referidos. E como estamos a falar de pessoas e dos seus rendimentos, temos de perceber que para esse rendimento ser aceitável, há demasiadas variáveis que não podem ser descuradas. Como, por exemplo, os incentivos e a motivação. Será que é dito aos jogadores quanto tempo é que tem de estar em alta para subirem? Será que as expectativas que eles criam são adequadas àquilo que lhes é dito? Será que lhes é dito, sequer, alguma coisa? O que fez, por exemplo, Carlos Mané para a sua ascensão ter sido tão rápida? O que é que não fez o Iuri para que a sua ascensão esteja a ser tão lenta? Será que o empréstimo é bom para todos ou cada caso é um caso? Tudo isto são dúvidas que eu, como adepto tenho. Agora imaginem os jogadores. É da vida deles que estamos a falar.

Tentando arranjar soluções, acho que a equipa B devia servir apenas para os jogadores vindos da formação ou contratados em idade de formação. E isto choca muito com a política de contratações. Rabia, Slavchev, Gauld, Sacko, etc…foram contratados para acabarem a sua formação no Sporting ou para servirem a equipa principal? Se for a primeira, então a estratégia da equipa B está certa mas a política de contratações errada. Se for a segunda, é a política de contratações que faz sentido mas é a estratégia da equipa B que está mal feita. Acho que Slavchev, Rabia e Gauld são jogadores que já têm um percurso assinalável, um histórico nas selecções e nos campeonatos dos seus países interessante e alguma experiência internacional e, por isso, deviam estar a trabalhar sempre com a equipa principal até chegarem à forma ideal.

Em relação aos jovens que já lá estavam, acho que Wallyson, Tobias, Iuri e Esgaio já fizeram o suficiente para: a) um empréstimo “à João Mário” ou b) um salto definitivo. E como nada disto aconteceu, desmotivaram e baixaram os seus rendimentos. Ou seja, como disse lá em cima, o que vemos não é um problema de hoje, é consequência de uma estratégia errada. Errada, sobretudo, nana meritocracia, onde quem trabalhou bem no ano passado não foi recompensado. Pior, não só não foi recompensado como ainda perdeu o seu lugar no ano seguinte. Para mim, isto é inadmissível e vai contra tudo aquilo que eu acredito na nossa cultura formadora. Que, basicamente, é: Todos têm uma oportunidade justa desde que tenham qualidade e trabalhem para isso. É isto que fazia com que os jovens optassem por nós em vez dos rivais e é isso que eu tenho receio que desapareça.

Num clube qualquer, podíamos ver esta situação sob o prisma do “eu quero é ganhar”. Como somos o Sporting e temos uma responsabilidade no futebol que mais ninguém quer assumir, temos de zelar pelo futuro destes miúdos. A nossa prorrogativa continua a ser ganhar. Mas como nós somos o Sporting e escolhemos o caminho mais difícil, a prorrogativa passou a ser ganhar “com o que temos”. O tal fazer mais com menos. E por isso, dar um futuro a estes miúdos também tem de ser uma preocupação do clube. Se possível, dentro do Sporting.

Enquanto não houver definição sobre esta matéria, vamos continuar a ver humilhações como a que vimos contra o Atlético. Neste momento, está cada um por si. Cada jogador está a fazer o que pode para que alguém repare nele. A equipa é o menos importante, desde que se brilhe e se chame à atenção da estrutura. Alguém os pode censurar? Eu não consigo.

 

* todas as sextas, directamente de Angola, Sá abandona o seu lugar cativo à mesa da Tasca e toma conta da cozinha!