«Não sei o que acontecerá até ao final do campeonato, mas queria pedir-vos para não deixarem de acreditar. E para não deixarem de apoiar a nossa equipa». Escrevi isto na crónica que se seguiu à vitória sobre a Académica, há uma semana. Depois surgiu a derrota do benfica e esta visita a Arouca, em vésperas de dérbi em Alvalade, transformou-se num jogo ainda mais importante.

Havia preocupações com o estado do relvado, havia a ausência de Nani e de Jefferson, bem como de Slimani, há um ano precioso na reviravolta do marcador em pleno batatal. A tudo isto, bem como às dúvidas sobre como entraria a equipa em jogo, se respondeu com a vontade de pegar no jogo desde o início. O canto, logo ao primeiro minuto, era indício disso mesmo, seguindo-se um remate cruzado de Montero que o redes desviou. A equipa tentava jogar de pé para pé, aproveitando o tempo em que o relvado estaria aceitável. Montero descia, alternando de posição com Mané e pedindo a João Mário que surgisse mais na ala. Era a tentativa de desmontar o esquema defensivo arouquense, que no contra-ataque criava perigo com um remate forte sobre a barra de Patrício. Na resposta, Jonathan inspira-se em Jefferson e cruza redondinha para a cabeça de Adrien. Grita-se golo, mas a bola passa a centímetros do poste.

Pouco passava do quarto de hora de jogo e a partida entrava no pior período para a equipa leonina. Primeiro Kayembe a reclamar penalti em lance com Cédric (aposto que Montero tinha visto amarelo se tivesse feito aquela figura), depois o início das interrupções motivadas por jogadores do Arouca misteriosamente caídos no relvado, quebrando completamente o ritmo ao jogo. Cereja no topo do bolo, remate à queima, Tobias vira a cara e tanta recolher o braço, mas, obviamente, o árbitro marca penalti. 1-0 para a equipa da casa e dificuldades acrescidas. Sem perder a cabeça, o Sporting manteve o seu plano de jogo. Mané, pouco interventivo, lança Montero na esquerda e este não hesita no remate. Golo! A igualdade estava reposta poucos minutos volvidos, mas a equipa não soube capitalizar esse golo a seu favor. Os jogadores bem trocavam de posição na frente, mas sem conseguirem criar jogadas de efectivo perigo. Do outro lado, Pedro Emanuel berrava coisas imperceptíveis aos seus jogadores, que, com a conivência do árbitro (já agora, alguém contou a quantidade de livres marcados junto à nossa área?) de dois em dois minutos estavam estatelados no batatal. No final, diria que o Arouca foi uma equipa ambiciosa, o que espelha bem o quão pequena é a mentalidade que domina este nosso futebol.

Abre a segunda parte e todos de mãos na cabeça. Como era possível Adrien ter falhado um golo de baliza aberta, após assistência de Mané?!? A equipa sentiu esse falhanço, como que facada no plano de entrar e marcar. Carrillo começava a aparecer, mas era curto. Havia vontade, havia garra, faltava inspiração. Ou estrelinha, que é coisa sem a qual dificilmente se chega às conquistas. De uma bola que bate no árbitro, nasceria a jogada do nosso segundo golo: Carrillo arranca em diagonal, da esquerda para a direita, mete em João Mário, este tem a leitura perfeita e deixa a bola correr ainda mais para o flanco, onde está Mané; novamente decisivo, o jovem Leão cruza rasteiro onde Carrillo, como mandam os manuais, finaliza a jogada que ele mesmo começou. Festa, festa enorme (caramba, nem um jornal com a foto do festejo de Marco Silva e Bruno de Carvalho?!?) e o sentimento de justiça. Logo a seguir, Pedro Emanuel volta a fazer uma expressão que o coloca ao nível da Belinha, da Rua Sésamo, e berra “penalti”! Pois que não foi, não senhor, mas podia ter sido, porque o lance suscita dúvidas. Aliás, ao contrário do que o treinador do Arouca afirmou, o árbitro não teve foi coragem de marcar dois penaltis inexisentes contra o Sporting. Jonathan corta primeiro a bola para fora e é impossível, no seguimento do movimento, não tocar no jogador do Arouca.

E como nestas coisas do futebol o karma parece ser ainda mais lixado do que na vida real, toma lá o terceiro. Canto bem marcado por Carrillo, exemplar cabeçada de Tobias Figueiredo. O jogo ficava resolvido e só foi pena André Martins, entretanto colocado em campo (entrou muito bem), não ter feito o quarto. Ou não ter entrado aquele remate cruzado de Tanaka, que seria um golaço. O jogo não terminaria sem arraial, junto ao banco do Arouca, depois de uma falta sobre Jonathan à qual o argentino respondeu com um movimento de pernas que lhe valeria o segundo amarelo. Inácio também seria expulso, no meio da confusão, fazendo com que o jogo terminasse como o Arouca sempre desejou: quezilento e cheio de interrupções. Tiveram foi o azar de encontrar pela frente uma equipa que, uma vez mais, mostrou estar unida e que, com alguns lampejos de classe, fez do esforço, da dedicação e da devoção os argumentos que lhe dão direito a, no próximo domingo, continuar em busca da glória.