O dia 6 de Agosto de 2003 foi especial para todos nós, não fosse este o dia em que o nosso estádio José Alvalade foi inaugurado. Mas para mim foi ainda mais especial, pois foi o dia em que assumi um compromisso com o clube: passei a ter um lugar em Alvalade, uma cadeira na bancada A e que ainda hoje me orgulho de dizer… é a minha cadeira! O meu cantinho em Alvalade!

Do antigo estádio guardo poucas memórias e que se resumem para ai a uma dúzia de jogos. Pela idade que tinha e fase da vida em que me encontrava, foram poucas as vezes em que consegui fazer os 220 km que me separam de Alvalade. Confesso que sempre senti alguma “inveja” das pessoas que estão próximas de Alvalade e que conseguem ir ver o Sporting sempre que querem… era o que eu faria se estivesse ali ao lado! Mas, como sou (e sempre serei) uma pessoa optimista e que gosta de ver o “copo meio cheio”, diria que tenho a sorte de esta próximo o suficiente para poder ir algumas vezes durante a época. E felizmente que a vida me tem dado saúde e permitido despender algum tempo e dinheiro para alimentar este grande prazer da minha vida.

Por isso, durante esta última década, sempre que pude, arranjei desculpas para ir à bola: seja um fim-de-semana com a família estrategicamente marcado para uma jornada em que o Sporting jogava em casa ou seja por ter conseguido arrastar alguns amigos para se juntarem a mim numa viagem até Alvalade. Mas, por não ter próximo de mim familiares Sportinguistas, ou por, no grupo de amigos, serem poucos os que gostam ou podem ir ver a bola, na maior parte das vezes as minhas idas a Alvalade acabaram por ser um “ritual solitário”. Chegar ao estádio já próximo da hora do jogo, dar uma voltinha e sentar-me no meu lugar para vibrar durante 90 minutos, mas não ter ao lado pessoas amigas a quem dar um abraço quando festejamos um golo, com quem desabafar quando falhamos aquela oportunidade de baliza aberta ou até para mandar vir com o árbitro… parece que fica sempre a faltar alguma coisa. Penso que todos vocês concordarão comigo: isto com boa companhia faz muito mais sentido!

Algures 2013 descobri um blog chamado “O Cacifo do Paulinho” o qual, apesar de não acompanhar com muita regularidade, me despertava a atenção em dias de jogo por causa de um post chamado “ O Bloco de Notas do Gabriel Alves”. Não me recordo bem o motivo pelo qual o fiz, mas, a certa altura, tornei-me um leitor assíduo do blog. Terão sido certamente os textos inspiradores do Cherba ou os comentários muito pertinentes de alguns dos participantes… não sei bem. Ainda assim, apesar de andar sempre atento, era um dos que optava por se esconder lá num cantinho e sem grande coragem para mandar um bitaite. Foi já nos últimos tempos do Cacifo que passei a participar com regularidade e, algum tempo depois, com a passagem para a Tasca, recordo-me de ter agarrado numa cadeira e em dois copos e, juntamente com muitos outros, ter ajudado na mudança da mobília para este novo espaço de convívio leonino.

Mas faltava alguma coisa… isto de escrever e trocar ideias com pessoas que não se conhece não tem assim tanta piada! Bom mesmo era conhecer as pessoas por detrás do nick, pensava eu de vez em quando… Num certo jogo, estava eu sentado no meu lugar, quando o Mário Schmeichel me descobre, vem ter comigo e pergunta: “tú é que és o Jorge Lagarto?!?” Foi esse o último jogo que vi sozinho em Alvalade! Dai em diante, passei a ver os jogos no mesmo sector, mas umas quantas filas mais atrás, acompanhado de pessoas das quais apenas conhecia o nick, mas que passaram a ser bons amigos e companheiros de bancada.

É engraçado como, muito tempo depois, vim a descobrir que, no jogo de inauguração do estádio, eu e o Mário Schmeichel vimos o jogo na mesma fila e separados por apenas três lugares! Tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe… A partir daqui, foi tudo muito rápido e, quando dei por ela, já o meu ritual de “ir à bola” tinha mudado por completo! Passei a chegar mais cedo a Alvalade e, em vez de ir para o meu lugar, passei a ir directo para as roulottes, naquele que é o ponto de encontro dos tasqueiros e onde, entre uma cerveja e uma bifana, encontramos sempre aquelas caras conhecidas que nos acompanham durante a semana no espaço virtual e com as quais gostamos de trocar ideias.

Ver pessoas que chegam vindas de outras partes do mundo e que, mesmo não conhecendo ninguém pessoalmente, são recebidas como se de velhos amigos se tratassem é algo que não tem explicação. É realmente um prazer poder conviver com estas pessoas que, tal como eu, partilham da mesma paixão pelo Sporting e com as quais nos habituamos a partilhar ideias. Cada um com a sua forma de estar, mas todos unidos à volta do Sporting e com um espírito de amizade e solidariedade. É isso que nos faz acreditar que, mais do que as vitórias ou derrotas, ser do Sporting é realmente diferente!

Com esta minha experiência que vos relatei, queria apenas destacar uma das muitas virtudes que a Tasca do Cherba tem e que faz com que este blog seja provavelmente a maior referência da blogosfera leonina. O papel activo que tem em unir os Sportinguistas e os juntar em torno de um ideal, seja num jogo de futebol, numa causa solidária ou num qualquer almoço, é algo que tem muito valor e que devemos saber estimar e valorizar. Porque, tal como em tudo na vida, as coisas fazem muito mais sentido quando estamos em boa companhia!

 

ESCRITO POR Jorge Lagarto

*às quartas, a cozinha da Tasca abre-se a todos os que a frequentam. Para te candidatares a servir estes Leões, basta estares preparado para as palmas ou para as cuspidelas. E enviares um e-mail com o teu texto para [email protected]