Sim, é verdade o Sporting está dividido. Às vezes pergunto-me se alguma esteve ou estará “unido”. Será uma utopia, ter uma instituição com milhões de interessados e ultra-interessados todos a “remar para o mesmo lado”? Será um comportamento déspota, tentá-lo?
Nestas duas perguntas resumem-se as minha dúvidas quanto a dois factos que mudaram os ciclos dos dois maiores clubes de Lisboa. Os dois maiores rivais desportivos de Portugal.

A saída de Marco Silva e a entrada de Jorge Jesus são cada um por si emblemáticos e juntos um case study de como mudar o curso de um clube de futebol (sim, eu sei, mas esta reflexão só é válida para o futebol). Vamos começar pela saída.
Marco Silva foi, é, talvez seja ainda por mais alguns tempos bastante apreciado no Sporting. Desprezar as razões da identificação dos adeptos leoninos para com este treinador é meio caminho para falhar muito mais vezes no futuro e ter de “remendar” atitudes com comunicados e…cheques avultados. As qualidades deste técnico podem até ser apenas, ou por agora, apenas vislumbres de aptidão. Mas o que é certo é que os Sportinguistas partilharam muito estes vislumbres. Um treinador jovem, promissor, qualificado, ponderado, metódico, de fala articulada e decididamente ambicioso, faz-vos lembrar algum estigma lusitano? Pois é, não fácil para um Sportinguista escapar ao enamoramento por um bom Sebastião, um facto singular que acerte no nosso tendencioso fado de precaução e esperança. Porque é de cautelas, muita esperança e muita paciência que temos vestido o nosso amor pelo clube. Marco Silva encaixou que nem uma luva neste “estado” e, parece-me a mim, também na estratégia coerente anunciada por BdC vezes sem conta de “Contenção com Ambição”.

Romper esta ligação umbilical, temos de dizer, criada pelos “comunicadores” oficiais do Sporting não é fácil…ninguém consegue andar a dizer que uma coisa faz sentido durante 1 ano e em dias desconstruir internamente ou externamente essa coerência. Ao “expulsar” Marco Silva a primeira coisa que BdC manda às couves, é a coerência. Eu juro que estou há muitos dias a forçar-me a entender a lista infindável da casuística contra Marco Silva, mas sinceramente o meu feeling volta sempre ao mesmo ponto de partida. O que quer que se tenha passado terá um enquadramento muito mais pessoal do que profissional. Simplesmente os santinhos do treinador e do presidente não cruzaram. Especialmente os santos presidenciais. Mas deviam. Apesar de parte de mim querer à força acreditar que o Marco Silva era uma espécie de mártir suicida de Carnide infiltrado no seio da nossa pura e imaculada “estrutura” leonina, já tenho idade suficiente para cheirar uma boa caçada às bruxas e, salvo revelações que sejam verdadeiramente objectivas quanto a esta desobediência institucional entre as partes (uma reserva que muitos prescindiram por meia-dúzia de explicações sumárias e não oficiais), continuarei a pensar que a principal explicação para a purga do nosso Sebastião, foi fruto de incompatibilidades que nunca deviam ter tido espaço para surgir ou evoluir.

Mas não sou dos que saltaram para a “trincheira” anti. O meu Sportinguismo nunca me permitiu confundir erros de pessoas com pessoas erradas. BdC não deixa de fazer sentido e tudo o que fez ou fará não deixa de contar com o meu apoio. BdC ficará nesta questão Marco Silva inocente até prova em contrário, sendo que existem provas muito contundentes que me levam (falo apenas por mim) a pensar (e desejar) que será salvo pelo capítulo seguinte da história.

Entrada. Sim o “bronco” do Jesus. Inacreditável. Sempre achei que estava como peixe na água no nosso vizinho da 2ª circular. São incontáveis as horas de “escárnio e maldizer” que o Jota me deu. Jorge Jesus é o verdadeiro “cromo da bola”, a coisa genuína, o produto tradicional sem adubo ou pesticida, é o copo na tasca mal lavado e a transbordar de “pomada”. Sempre se falou que um dia treinaria o Sporting, sempre se falou que é Sportinguista, sempre me narraram “histórias” do fervor leonino do Chiclas (lendas que aumentaram 400 vezes nos últimos dias) mas eu nunca imaginei referir-me ao JorJasus como o “meu” treinador.

Inegavelmente foi um “all in” de BdC. Um “all in” na sua competência de treinador. Um “all in” no impacto mediático, um “all in” num Sporting menos paciente e mais exigente. Espero que ele próprio tenha entendido que entrou numa espécie de jogo dentro do jogo nos próximos 3 anos. É bom que se esmere a dar a JJ tudo o que o clube pode racionalmente dar a um treinador, sendo que isso, na minha opinião passa e muito pelas palavras “confiança”, “espaço” e “ponderação” e menos por “euros” ou “jogadores”. A partir de agora o desafio do nosso presidente é duplo. Tem de vencer no campo e tem de vencer fora dele, mostrando aos Sportinguistas que os nossos rivais não têm razão quando apontam o fraco de BdC como as relações que desenvolve com os treinadores, passando sempre por cima destes, esmagando-os com um protagonismo desequilibrado, constante e sufocante. Jorge Jesus é uma espécie de “teste de fogo”, já que não conheço treinador que se incompatibilize tanto com esta descrição que é feita pelos críticos do nosso presidente.

Muito se jogará nesta época. Há muito Sporting “em cima da mesa” e por mais que todos imaginem as cartas como decisivas, eu cá vou achando que serão os egos a decidir a nossa sorte. Egos alinhados, venceremos e muito. Qualquer outra realidade e…bom, a verdade é que não existe outra hipótese. Só há mais uma bala no revólver do futebol e é bom que todos nos agarremos a ela sem sequer aproximar o dedo do gatilho….na verdade, esta tem mesmo o nosso nome escrito. Mais ou menos divididos, mais ou menos déspotas, vai ter de nascer um novo Sporting em mês e meio. Vamos ter de “perdoar” a BdC as estratégias/erros, vamos ter vestir o “inimigo” de 6 anos com a verde e branca e eu só conheço um clube capaz de montar esta operação milagrosa nesse tempo record: somos nós.

 

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca