Deve ter-se tornado no tweet mais repetido desde o final do dia de ontem: Kevin Prince Boateng deixa o Schalke e reforça o Sporting. As capas dos desportivos de hoje, como não poderia deixar de ser, reforçam a teoria e o dia poderá ficar marcado, precisamente, pela imagem de Bruno de Carvalho e de Boateng em pleno bacalhau.

Desportivamente, será preciso ser um enorme má vontade para afirmar que o alemão não tem tudo para ser um reforço de peso e que não entra directamente para o top dos melhores jogadores deste campeonato. Sim, falo em teoria, nomeadamente pela fraca prestação na época 2014-15, onde, inclusivamente, pisou o relvado de Alvalade para fazer parte de uma das nossas melhores noites na época passada. Mas também ninguém me apaga da memória o tempo que passei a ver vídeos deste gajo, quando estava no Milan. Técnica, força, poder de remate, num médio que foi subindo no terreno e que, quando regressou à Alemanha, para vestir a camisola do 04, se fixou como um dos homens da frente. Aliás, eu olho para este rumor quase certeza e vejo-nos a fechar o ataque. Slim, Montero, Teo, Prince, dois goleadores e dois gajos que marcam e que fazem jogar. Tanaka vai à sua vida, o grego Mitro esbate-se em exigência de ordem financeira.

Mas se o meu lado de puto com tendência para gostar de gajos que jogam à bola e que até têm fama de bad boys me faz sorrir, o lado de adepto crescido que tem enraizada uma cultura de clube, faz-me sentir uma estranha sensação no estômago. E se Prince não chegar para fechar o ataque, antes como reforço para o meio-campo? Chamem-me palerma, mas não estou preparado para começar a ver saltar do onze os nossos putos.
E quanto é que Prince vem ganhar? Um gajo que recebe tanto quanto Nani, 5 milhões por ano, aceita vir receber dois milhões? Eu sei que vestir a camisola do Sporting é um sonho que encontra expressão ao redor de todo o globo, mas… sim, faz-me confusão num primeiro embate e não sei até que ponto não causará complicações a nível de balneário. Uma coisa é, como afirmou Bruno de Carvalho em entrevista, ter Patrício e Adrien com ordenados nessa ordem, pelo peso que lhes é reconhecido no balneário; outra, bem diferente, é chegar um gajo a receber isso, numa altura em que quase perdíamos Teo pela intransigência em subir os valores acima do 1,2 milhões época, em que temos a renovação de Carrillo emperrada e em que mandámos o Wolfswinkel caçar pardais para Norwich. Por outro lado, quererá isto dizer que os dossiers Capel, Labyad e Viola,  só para citar alguns, ficarão resolvidos e a folha salarial respirará como se o Duque tivesse saído de cima dela?
Por último, a fama de gajo complicado. Eu sei que o Jesus está farto de lidar com egos enormes e que o seu próprio ego lhe permite ser mais forte que tudo, eu sei que o Octávio é gajo para mandar uma mangueirada nas pernas de um gajo de quase dois metros, mas também sei que não é fácil segurar balneário. Sim, o nosso é forte e temos a sorte do núcleo central não abanar muito, precisamente por ser formado por pessoal que é prata da casa. Mas, a confirmar-se, já será o segundo gajo que chega com fama de gajo complicado.

Se calhar sou eu quem está a fazer uma tempestade num copo de água, admirado por esta capacidade de reforçarmos a equipa. Sim, sei que temos trabalhado financeiramente para termos oportunidade de, hoje, conseguir oferecer ao treinador um plantel recheado de opções (e, não, não temos cometido loucuras, ao contrário do que muito boa gente tem vindo afirmar para os jornais), mas, mesmo face ao lançamento de Gelson, à cada vez mais eminente explosão de Mané, à possibilidade de Semedo recambiar o centralão francês ou às imagens de Palhinha a treinar “com os crescidos”, sinto sempre algum desconforto quando vejo o plantel cada vez mais apetrechado de estrangeiros. O que é curioso, pois há duas coisas que sempre defendi: um treinador experiente e jogadores mais velhos, de inegável qualidade, capazes de ajudar a crescer as nossas pérolas. Agora, face ao que continuo a achar ser uma espécie de “vai ou racha”, este aperto no estômago. É capaz de ser estupidez minha.