Terminado o jogo da Madeira, há duas constatações óbvias e rápidas: o resultado final é de uma injustiça tremenda; para esse desfecho em muito contribuiu o facto de termos sido incompetentes na hora de atirar à baliza e no momento em que, pela única vez, fomos obrigados a manter a concentração defensiva em níveis mais altos.

Acaba, por isso, por ser simples contar a história deste jogo que foi um verdadeiro presente de Natal envenenado para a nação leonina. Foi um jogo de sentido único, com uma equipa, o União, a baixar as linhas até onde podia, e outra, o Sporting, à procura de um golo que esteve iminente inúmeras vezes, mas que resultou numa espécie de “tiro ao boneco” que teve início logo ao minutos e meio de jogo, quando Gelson, em boa posição, atirou por cima. Jefferson viria a ameaçar de livre directo (ora aqui está um pormenor que urge resolver: a ausência de alguém que faça a diferença nas bolas paradas), mas seria aos 28 minutos que surgiria aquele que, para mim, é o lance do encontro: belíssima arrancada de Adrien com passe a condizer para Slimani; o remate do argelino é feito como mandam as regras, mas a bola sai a lamber o poste. Esse era o golo que devia ter entrado, esse foi o lance em que mais competência mostrámos numa situação de golo claro.

Sei que virão falar-me das defesas de um guarda-redes que ninguém conhecia e que continuará a ser só mais um nos próximos meses, mas a sensação que me fica é que muito do seu brilho se deveu ao nosso desperdício. Vejamos: quando, aos 44, depois de ter ensaiado uma bomba de fora da área, Adrien (continuem a falar mal dele que eu gosto) arranca e lança Gelson, o cruzamento do jovem extremo encontra Montero. A recepção do colombiano é fantástica e tira um defesa da frente com esse movimento de peito, mas, depois, o remate é feito direitinho para onde está o guarda-redes. O mesmo Montero tentatia um golo cruzado, logo a abrir a segunda parte e viria Ruiz, embalado e com tudo para fazer melhor, cabecear despropositadamente ao lado. Pior faria Paulo Oliveira, dois minutos depois (57′), no seguimento de um canto: totalmente sozinho no coração da área atira ao lado. Ruiz voltaria a cabecear mal, a cruzamento de Esgaio; Slimani iria imitá-lo após assistência de Gelson e o próprio Gelson faria uma diagonal que terminaria com um remate forte mas à figura (lá está). Depois, sim, aos 88, o tal redes faz uma defesa por instinto, após livre de Jefferson que bate no chão e ganha efeito caprichoso. E, em cima dos 90, Slimani tem grande movimento de ponta-de-lança e, aproveitando o cruzamento de Tanaka, antecipa-se ao defesa, ganha posição e com a baliza totalmente escancarada remata sem olhar: resultado, bola no raio de acção do redes que defende, sim, mas que jamais iria buscá-la com um pouco mais de competência e sangue frio na hora de finalizar.

Pelo meio, o golo insular, numa sucessão de erros e de desconcentrações defensivas capazes de tirar anos de vida ao Sportinguista mais tranquilo. E uma estranha gestão do jogo e do resultado por parte de Jorge Jesus: porque raio nunca chegámos a ter Gelson e Matheus em campo, dando à equipa dois verdadeiros extremos e testando Ruiz numa posição mais central? Esta é uma pergunta que não me sai da cabeça desde ontem, até porque trocar João Mário por Aquilani pouco ou nada trouxe de novo na tentativa de emendar um resultado injusto, volto a repetir, mas também resultante de demasiados erros próprios que nos fazem perder o primeiro lugar frente a uma equipa que dificilmente não passará a época a lutar para fugir ao último.

Com tudo isto e como seria de esperar, a depressão apoderou-se de larga franja da nação verde e branca (ainda por cima foi um domingo horroroso em várias frentes). Há quem ache que a época terminou ontem, há quem grite que os jogadores são todos uma merda, há quem queira trocar o Jesus pelo Mourinho, só falta haver pessoal a pedir eleições antecipadas. A todos estes Sportinguistas, e aconselho que peçam duas ou três caixas de Prozac ao Pai Natal. Enfrasquem-se em antidepressivos durante esta quadra, mas quando entrarem no novo ano façam-no guardado um desejo especial para as doze badaladas: deixar de ser bipolar e de fazer figuras tristes, quando nada o justifica. Ah e , se possível, peçam para ter no sapatinho um bilhete para dia 2 de Janeiro, para poderem estar em Alvalade a apoiar a nossa equipa frente ao fcp. Mas façam-no de forma convicta, acreditando em quem até ontem estava etiquetado de bestial e hoje é uma besta e que nesse dia, com o nosso apoio, terá oportunidade de regressar à liderança do campeonato.