O dia já ia longo, entre cartazes na segunda circular, pedidos de esclarecimento da CMVM e o anúncio de um negócio capaz de deixar metade do país à beira do choro compulsivo. Faltava a cereja no topo do bolo e a turma de Alvalade soube colocá-la com requinte, trocando a cereja cristalizada por uma cereja fresca e carnuda.

Como que revigorados pelo banho de multidão do passado sábado, os jogadores leoninos entraram em campo dispostos a resolver a partida o mais cedo possível. Impulsionados por um Adrien a viver as emoções de uma segunda paternidade (que enormidade de primeira parte fez o capitão, estando em todo o lado e mostrando cada vez mais acerto na hora de experimentar a meia distância para atirar à baliza), os Leões encostaram os pacenses lá atrás e só um ressalto de bola, à passagem dos 20 minutos, permitiu aos castores chegarem com perigo à baliza de Boeck que, em cima do intervalo, resolveu envolver-se no espírito natalício e oferecer o golo do empate ao adversário. No restante tempo da primeira parte, total superioridade do Sporting, capaz de marcar cedo (que pedrada de Aquilani, cada vez melhor fisicamente e cada vez mais influente, nomeadamente na forma como sabe aparecer em zonas de finalização) e de gerir os ritmos de jogo a seu belo prazer. André Martins (seja bem aparecido), na cara do golo, desperdiçava um fantástico passe de Matheus, um dos melhores em campo (como cresce este miúdo cheio de futebol). O mesmo Matheus mostraria toda a sua classe e magnetismo quem tem pela baliza (por favor, nunca lhe castrem esta vontade de atirar a contar), ao estar pressionado por três defesas e, ainda assim, ser capaz de rematar cruzado para defesa do redes. Era um Sporting seguro de si, crescendo como equipa de jogo para jogo e entusiasmando cada vez mais os seus adeptos.

E foi com esta segurança que o Leão regressou para o segundo tempo, como que olhando o golo pacense como uma mosca incomodativa que desapareceria ao sacudir da juba. Adrien tinha ficado no balneário, guardando energia para sábado, e João Mário surgia no seu lugar. E se as ligações entre o meio-campo e o ataque já estavam fortes, com a entrada de João Mário as entrelinhas do Paços esfarelaram-se. Com Gelson e Matheus cada vez mais fortes em cada uma das alas, sabendo quando ir à linha ou quando flectir para dentro e explorar aquele espaço entre os centrais e os laterais, era uma questão de tempo até o Leão voltar a abocanhar a presa. Montero ameaçou primeiro, André Martins imitou-o, Gelson marcou um golaço, num remate pleno de força e de técnica.

Agora, era uma questão de não voltar a dar brindes. O Sporting baixou o ritmo, manteve totalmente o controlo da partida e guardou o melhor para os últimos 20 minutos. Já com Ruiz em campo, a nota artística foi subindo, atingindo o ponto alto na picadinha do costa riquenho que resultou no 3-1. Gelson dinamitava, Matheus tentava um golaço de fora da área e ia servindo Slimani com meios golos. Por duas vezes a outra metade embateu no poste, em verdadeiros momentos de ponta de lança que mereciam melhor sorte e que tornariam ainda mais saborosa uma vitória inquestionável que o treinador do Paços ainda tentou disfarçar com alusões patéticas a critérios de arbitragem. Nada de novo ou, se preferirem, apenas mais uma voz aziada no dia em que o Sporting brindou os seus adeptos com conquistas dentro e fora de campo e mostrou que podemos e devemos acreditar que viveremos o próximo ano à imagem de como soubemos terminar o actual: à Leão!