A soberba. Há quem diga que é o lado mais estúpido do sucesso. É muitas vezes difícil ao ser humano resistir à vaidade, à certeza que está sentado no pico mais alto e que todos os outros se encontram mais abaixo, sem as condições para, naquele exacto momento, conseguir rivalizar com o seu estatuto.

A vaidade gera edonismo. Edonismo gera estagnação. E estagnação gera maus resultados desportivos. Sejamos honestos com o que vimos…o Sporting perdeu tantos pontos para a vaidade como os que perdeu no prejuízo das prestações dos árbitros. Assim se explica como acabámos por desperdiçar em jogos frente ao União, Boavista, Rio Ave e Tondela e nenhum frente a Porto, Carnide, Braga, Marítmo ou Guimarães. É quando a equipa sente mais vantagem, que se coloca a jeito para ser surpreendida.

É também verdade que o modelo táctico de JJ tende a emperrar frente a blocos mais baixos, com equipas que protegem bem os espaços nas linhas e não permitem grandes passeatas na zona entre os laterais e centrais opositores. Mas essencialmente a equipa, mesmo nesses jogos cria sempre oportunidades de golo, portanto voltemos ao assunto, ou seja ao principal problema: a falta de humildade. JJ não nasceu como treinador no Sporting, tem uma longa história de sucesso atrás de si e nessas narrativas é verificável que muitas vezes as suas equipas pecam por um excesso de convicção nas suas capacidades, que invariavelmente geram resultados surpresas mais vezes do que seria expectável. Também é notório que há um historial (mais recente) de capacidade de inverter esses “acidentes” e superar continuamente os seus adversários. O Sporting precisará nas próximas partidas de revelar toda a sua humildade e respeito pelos seus opositores dentro de campo. Como?

Se há coisa que um Sportinguista não está habituado é ver o adversário empenhar-se mais e melhor dentro das 4 linhas. Um adepto leão respeita uma tarde/noite mais desinspirada, um jogo mal conseguido, erros fulcrais em fases decisivas do jogo, o que ele (e eu) não entende é olhar para um conjunto de jogadores vestidos com as nossas cores “reservar” esforço ou trabalho “para mais tarde”, especialmente quando as partidas não estão ainda decididas a nosso favor. Cada clube tem a sua identidade e deve ser ensinado aos jogadores do Sporting, que nunca, mas mesmo nunca, devem empenhar-se menos que o seu adversário. Estão no nosso lema as palavras “esforço, dedicação e devoção” e não é por acaso que a “glória” está no último lugar. Querer sentir a glória durante os 90 minutos de jogo é um equívoco tão grande como achar que só um bocadinho de esforço, dedicação quanto baste e devoção ao salário mensal vão trazer as ferramentas necessárias para ganhar partidas como a de ontem. Isso choca-nos a nós adeptos mais que o mau resultado em si.

Os jogadores que defrontaram o Portimonense fizeram o melhor que sabiam? Não. Tinham realmente presente no seu espírito competitivo que o adversário poderia vencer a partida? Não. Empenharam-se tanto ou mais que o adversário em cada lance do jogo? Não. A soberba entrou em campo de leão rampante vestida e podemos em muitas jogadas daquela partida observar muitos movimentos (ou a falta deles) não naturais nos desenhos do Sporting. A equipa não estava rotinada? Muitos jogadores não tinham ritmo? Alguns não apresentam bons níveis de confiança? Pois aceito tudo como verdade, mas não deixa de ser curioso que estas 3 “desculpas” seriam a razão mais óbvia para terem depositado o dobro da humildade e trabalho em campo….precisamente para cobrir esses handicaps. Não foi isso que aconteceu e apenas a espaços e sempre com os mesmos jogadores o Sporting deu a sensação de ter tudo para continuar nesta prova.

Rui Patricio, J.Pereira, Jefferson, Naldo, Adrien, J.Mário, Gelson, Slimani, Ruiz descansaram. É o único facto positivo do resultado de ontem. Isso choca-me. Não culpo, como muitos, a tendência para JJ desvalorizar algumas provas…já que sei que os treinadores mais argutos têm sempre 2 discursos, um para dentro do balneário e o outro para fora, que se gere em função do que o rodeia. Dificilmente o treinador disse ontem aos jogadores “vá, vão lá com calma, que os algarvios não estão à vossa altura e vamos ganhar isto sem gastar uma gota do nosso valioso suor”. Dificilmente o treinador esperava que Teo e Mané fizessem tão pouco. Dificilmente contou com a apatia de William. Dificilmente antecipou as falhas de posicionamento de Schelotto e Marvin. Dificilmente adivinhava bolas ao poste ou pénaltis falhados. Deixemo-nos de hipocrisias. O treinador é sempre responsável, mas será nas partidas mal conseguidas com uma equipa muito inferior…que o será menos. Como diria o Damaiense, “quem já jogou à bola sabe que” uma equipa com menos valia não supera a outra…a menos que ela o permita e essa permissão é dada com o avançar do relógio e a continua falta de comparência do talento e da garra. Isso faz acreditar qualquer “underdog” e é responsável por 97% das surpresas no futebol.

E venho de muito longe só para deixar um recado. A atitude é o bem mais precioso de uma equipa que quer ganhar. A humildade é o garante de muitos troféus. O talento vale zero quando é doseado. “Nos acreditamos em vocês” é uma das frases de guerra mais sentida pelos adeptos leoninos esta época…mas se prevalecermos nesta rota de “somos a melhor equipa” ou “somos os que jogamos mais à bola” e mesmo o “temos grandes jogadores e o melhor treinador”…vamos direitinho para a longa lista de “devíamos”, “podíamos”, “tínhamos”, recordações vagas de brilhos ocasionais e efémeros. Espero obviamente um Sporting de cara lavada na próxima partida, mas não demasiado lavada, nada perfumada e sem cremes, perfumes ou hidratantes. É para suar, quanto mais “cavalo” melhor, quero ver nódoas negras, arranhões e muita lama entranhada no cabelo com bocados de relva a ser escorrido por litros de suor. Só isso. Mais nada.

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca