[…] que eu saiba o Sporting é o primeiro, temos os rivais a cinco e a dois pontos. Não vamos aqui inverter isto e dar notícias como se isto estivesse tudo ao contrário. Sabemos como vai ser a segunda volta? Não sabemos. Sabemos o que o Sporting fez na primeira volta? Sabemos. Sabemos que só perdeu um jogo e empatou dois? Sabemos. Portanto, não vamos branquear isto. Aquilo que é factual, é factual, o Sporting merece o primeiro lugar»

O recado tinha ficado dado na conferência de imprensa, com Jorge Jesus a fartar-se das perguntas de merda e a colocar os pontos nos i. Ainda assim e porque a mente humana é das coisas mais fascinantes que existem, eram vários os Sportinguistas a temer que os dois últimos resultados menos conseguidos fossem o início de uma segunda volta capaz de inverter tudo o que de bom vinha sido feito. Havia quem lembrasse que o Sporting só havia vencido sete dos 17 jogos disputados na Mata Real e havia quem desligasse o acesso às redes sociais quando as viu invadidas pela bazófia dos vizinhos que quando acharam que a cadeira do primeiro lugar já tinha arrefecido e que se podiam lá sentar, perceberam que só em sonhos deixou de estar ocupada. Portanto, em causa estava saber se o Leão sabia lidar com a pressão e a resposta não podia ter sido mais clara (aliás, a resposta já foi dada tantas vezes desde Agosto que até faz confusão tantas dúvidas).

Desde o primeiro minuto que o jogo só teve um sentido: a baliza do Paços de Ferreira. Já chorei duas vezes a rir ao ouvir o treinador pacense dizer que o problema da sua equipa foi estar obcecada com o controlo do jogo, como que ignorando que o seu problema foi ter um adversário que pressionou de uma forma avassaladora, não deixado que os castores saíssem a jogar (na primeira parte contam-se pelos dedos de uma mão as vezes que passaram do meio-campo). Aliás, fruto dessa pressão, o Sporting engoliu, literalmente, o adversário. A defesa concentrada e perfeitamente articulada (por muita classe que Ewerton tenha, esta é a dupla de centrais), com João Pereira a ser uma das figuras do jogo pela exactidão com que desempenhou todos os papéis que um lateral deve desempenhar. William a limpar toda a sua área de acção e a ter tempo para lançamentos longos teleguiados e para se rir de um tal de Pelé que, um dia, foi apontado como sendo superior ao nosso Sir (deve ser um problema dos pelés). Adrien a dar-me vontade de escrever outro “je suis” e a ter tempo para o momento Maradona da partida, quando pregou uma cueca junto à linha final. Ruiz, Bruno César e João Mário a darem cor a um carrossel de investidas cheias de classe e profundidade. Slimani a jogar por ele e por nós, mostrando pormenores inesperados pormenores técnicos que o transformam num ponta de lança de eleição.

Faltava o golo, o tão merecido golo (aquele lance sobre Ruiz, quase em cima da linha, não faz lembrar o penalti que se marcou contra nós, em Alvalade, frente a este mesmo Paços?), capaz de apaziguar espíritos mais inquietos e de colocar justiça num marcador que, face ao caudal ofensivo leonino, começou a funcionar demasiado tarde. Faltavam cinco minutos para o intervalo, Jefferson pensou mais rápidos que todos os outros, Slimani acompanhou-o e ainda teve tempo para colar um defesa ao relvado e assistir primorosamente Bruno César que, acompanhando toda a jogada, fez um movimento perfeito. Faltavam cinco minutos para o intervalo e os momentos que se seguiram quase trouxeram o k.o. ao Paços, encostado às cordas por um Leão faminto. João Mário desenhou um dos golos do ano, mas a trave devolveria aquele fantástico arco pantufa. “Já vais ver o que te faço”, conseguiu-se ler no semblante do jovem rampante, que serviria a vingança rumo à baliza contrária, com dois movimentos de eleição: o passe a rasgar, que isola Slimani para o segundo golo, e a classe com que limpa quatro defesas para voltar a oferecer o golo ao bombardeiro argelino (um minuto depois do Paços marcar um golo caído do céu, no único remate à baliza), são momentos para ver, rever e sorrir. Sorrir muito, que é isso que este carrossel verde e branco teima em oferecer-nos. Venha de lá mais pressão, venha de lá mais carvão, venham de lá mais jogos para, um pouco por todo o mundo, cantarmos, a uma só voz, “eu quero o Sporting campeão!”