É com enorme prazer que estreamos, hoje, a tão desejada rubrica dedicada à nossa formação. Quem vai cozinhar? Saboreia até ao fim e já ficas a saber.

Existe uma espécie de dado adquirido entre treinadores de bancada, nos quais me incluou com toda a distinção, de que um jogador tem o futuro delineado tendo em conta a força física e altura que apresenta. Porque nem todos podem ser o Messi ou Aguero, isto é uma capacidade técnica fora do normal, e porque assim não sendo será sempre complicado jogar ao mais alto nível numa equipa de cariz europeu.

Muitos de nós baseamos estas apreciações em casos recentes no nosso clube, como André Martins, mas esquecemo-nos que o jogador poderá não ter tido a evolução técnica ou táctica que lhe permita corresponder à expectativa.
André Martins não deixou de ser opção por causa da sua altura, mas sim porque encontrámos dentro de portas uma opção naturalmente mais talentosa, e porque nunca o Sporting teve um sistema que se pudesse adaptar às suas características. André deve jogar solto, livre, deve pensar apenas o jogo não cumprir um papel como o Adrien. E esta falta de regularidade em torno da sua carreira nunca lhe permitiu dar o salto, apesar de ser o mesmo que contra o Bilbau maravilhou o nosso relvado.
Muitos de nós olhamos para Rafa Silva como um grande jogador, que nos escapou há três anos quando assinou pelo Braga. Rafa não é alto, nunca será o Aguero, mas é um jogador incrível que faria a diferença no Sporting.
Dentro de portas, um jogador com características de Rafa cresce a olhos vistos a cada jogo que faz na equipa B. Seu nome é Daniel Podence e pela finta curta, raça, agressividade, capacidade de remate e dribble tem tudo para ser o Rafa que não nos escapou.

E como ele existem Francisco Geraldes, Chaby, Rafael Barbosa, Ryan Gauld e Elói, jogadores potencialmente de ataque, que maravilham com o seu talento, com golo no pé e capacidade de construção, mas que o futebol moderno se apressou a qualificar de “muito pequenos” ou que rapidamente assumimos que teriam dificuldades em assumir-se na equipa principal.
Nada mais errado. O Sporting, como clube português, forma jogadores portugueses com as características que este povo nos deu. Os jogadores citados podem não ter a evolução esperada e nunca serem titulares da equipa principal, mas isso nada terá que ver que a altura que apresentam, ou a massa corporal.

O futebol moderno é cada vez mais a ocupação de espaços, cada vez mais a estratégia e conhecimento táctico. Cada vez mais defendido à zona e menos no homem. Cada vez mais capacidade de pressão e de impedir o adversário de construir, cada vez menos um jogo de lama, cada vez mais cerebral. Os jogadores ditos “pequenos”, de técnica aprumada e visão de jogo, têm espaço no futebol moderno e têm espaço num futebol português em que metade dos jogos são passados a atacar sem parar, em que é preciso furar o autocarro seja de que forma for e onde existem cada vez menos jovens com potencial de construção. Formamos muitos médios mas poucos mágicos, porque existe uma obsessão pelo equilibrio táctico, pelo espaço que equipa ocupa e para não permitir contra-ataque.

Todos os jovens citados têm todo o potencial para chegar à equipa principal do Sporting, o que não significa que não sejam um projecto falhado dentro do clube. Não existem nenhum médio na nossa equipa com as características de Chaby ou Francisco Geraldes, rapazes capazes de transformar um lance normal e lance de golo, pela visão de jogo e passe que apresentam, mas que também se habituaram a jogar em zonas do terreno adiantadas, quase como falsos números 10.

A visão de que a altura pode ser impeditiva para o sucesso em qualquer um dos nossos jovens é redutora e não se compadece com o futebol actual. O Barcelona construiu o seu sucesso com uma base semalhante, porque sendo um clube espanhol também não conseguem formar só alemães. Sei que Xavi, Iniesta, Jordi Alba ou Messi não serão comparáveis aos nomes que cito, mas olhemos primeiro que tudo à escala. Não vamos lutar para ser campeões europeus todos os anos, mas continuamos a ser uma das melhores escolas da Europa.

*às terças, a Maria Ribeiro revela os seus apontamentos sobre as novas gerações que evoluem na melhor Academia do mundo (à excepção do Dubai)