Escrevo à medida que a frustração se apodera de mim. Não é apenas por sermos a melhor equipa, por termos os melhores e mais comprometidos profissionais, não é apenas pelo futebol jogado ou pelos jogos de bastidores (que tanto inclinaram este campeonato). Penso sim no que está reservado a cada sportinguista. Qual a medida de desilusão que um adepto pode sofrer? Quando é que o copo transborda no que balança a o desalento e a alegria? Quantas mais pedras no caminho temos nós de suportar até podermos, por um simples dia, ser verdadeiramente felizes?

E tudo isto porque assisto, semana após semana, a uma corrente humana emocionante, a um querer e uma força na bancada que me arrepia, porque vejo ano após ano um clube especial, com pessoas especiais, que dão espetáculo sempre que o grande amor entra em campo. Para nós não existem limites, não existe nada que não podemos suportar, não existe o momento em que desistimos.

Há quem me pergunte: achas que o Sporting merece esse sofrimento todo? Aguardo uns segundos. Coço a cabeça e respondo: não, não merece. Porque não existe nada nem ninguém que mereça de cada um de nós uma dedicação desmedida, um seguidismo cego e um amor maior que o próprio.

Mas o Sporting não é uma pessoa, não é uma identidade fria ou distante, o Sporting não é uma sombra de quem somos. Sporting é infância, quando as escadas do velho Alvalade pareciam intermináveis e as pessoas iguais aos gigantes dos filmes. Sporting é o cachecol na mochila depois de vencer um clássico, é chorar porque não se pode ser o Pedro Barbosa na peladinha do recreio. Sporting é pedir uma camisola verde e branca para se poder usar na escola, só de vez em quando, e nos fins-de-semana de Verão.

Depois é adolescência. É amizades entre bancadas, é as primeiras cervejas às escondidas, é aprender as primeiras asneiras e descobrir que se as dissermos alto o suficiente podemos descarregar todas as incertezas de uma idade incerta. É combinar encontros na escadaria, mesmo por cima da casinha da JuveLeo, os primeiros insultos, os primeiros ódios e é perceber o que é ganhar e o que é perder.

E por fim, a vida adulta. Quando o Sporting já se instalou em nós de forma definitiva, quando vamos trabalhar com um sorriso apenas porque vencemos no domingo. Quando fazemos uma pausa para ver se existem contratações de Verão, ou o que se diz pela Tasca, ou para nos rirmos com as melhores piadas, enquanto a mostramos ao colega sportinguista. E o sportinguismo adulto tem ainda uma missão, a mais sagrada e importante: passar o que é este sentimento até aos mais novos, através dos quais vivemos todas as fases do passado e nos revigoramos sempre que sai um Spooooorting bem alto.

Mas mais que tudo isto, quando usamos o verde e branco, quando assumimos o nosso sportinguismo, pertencemos a uma família. Desde a nossa, que nos acompanha e nos faz leões, até à que decidimos acolher quando abraçamos um desconhecido na bancada, quando gritamos lado a lado de quem nunca vimos e quando sorrimos a um leão de garras assanhadas num qualquer café.

Por isso hoje escrevo com frustração não apenas por mim, que lá me aguentarei mais um aninho, mas sim pela minha família. Aquela de 3 milhões de pessoas que como eu estão tristes, aquela que aqui temos neste pequeno tasco online e por aquela que tenho em casa e que para mim também representa Sporting.

Há quem me pergunte: achas que o Sporting merece esse sofrimento todo? Não. Mas os meus irmãos e primos sim. E o meu avô e o meu pai. Os meus amigos, os meus colegas e os meus tios. E os tasqueiros e as claques, todos os sportinguistas. O Sporting pode não merecer, mas a família sim. E a nossa família é sagrada.

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa