Quando, aos primeiros segundos de jogo, Slimani aproveitou uma bola solta para quase inaugurar o marcador, confirmou-se tudo aquilo que os adeptos leoninos já esperavam: esta equipa faria tudo o que dependesse dela para poder conquistar o tão desejado título. E não o faria apenas com esforço, mas acrescentando futebol de alto nível.

O bailado de Bryan Ruiz logo a seguir, passando dois e depois mais dois adversários, seria claro sinal dessa nota artística que Gelson, menos colado à linha do que habitualmente para dar mais espaço às arrancadas de Schelotto, ia tentando replicar do outro lado. O 60 veria o seu remate ser afastado quando se dirigia para a baliza deserta e acompanharia toda a belíssima jogada que resultaria no primeiro golo: João Mário pega na batuta e dá redondinha para a entrada de Ruiz, o costa riquenho faz aquilo que tantas vezes fez esta época, cruzando milimetricamente para o coração da grande área. A diferença é que em vez de aparecer Slimani apareceu Teo, de rompante, a fuzilar as redes adversárias.

Estava feito o primeiro e o Sporting, já com Paulo Oliveira no lugar de Coates, continuava a sua cavalgada rumo à área adversária. Ruiz sai da esquerda para o meio e vê a corrida de William Carvalho; o passe sair perfeito, uma vez mais, e aquele que envergou a braçadeira na ausência de Adrien é derrubado no limite da entrada da área. Cartão vermelho para o defesa bracarense e o acentuar do domínio leonino, agora frente a um adversário que abdicava de um homem da frente para tentar equilibrar-se lá atrás. Tentativa vã, até porque pouco demorou a que Bruno César arrancasse campo fora e fizesse um cruzamento a regra e esquadro para a cabeça de Slimani. 2-0, jogo resolvido e uma primeira parte esmagadora como foram tantas partes ao longo deste campeonato: mais de 70% de posse de bola para o Sporting e várias oportunidades de golo criadas, em função de um futebol empolgante. Do lado do adversário, a nota de maior destaque iria, mesmo, para a pequenez dos adeptos, festejando vitórias alheias e confirmando que essa coisa de ter dimensão não é para todos.

Tal como não é para todos saber que o campeonato está perdido e, ainda assim, continuar a jogar e continuar a procurar futebol de alto quilate. Foi o que o Sporting, este grande Sporting fez ao longo de toda a segunda parte. Ruiz, homem que está nos quatro golos da equipa, marcaria o terceiro e o quarto e chamaria a si o papel de melhor em campo, bem secundado por William Carvalho e por Schelotto. Mas todos, jogando ou não na partida que colocou o ponto final no campeonato, mereceram o esmagador apoio que, desde o primeiro segundo de jogo, veio da bancada e que confirmou que, dentro e fora de campo, a turma de Alvalade foi quem mais encantou ao longo dos últimos nove meses. Não chegou, mas deixou a base para, no meio da desilusão, acreditar que, continuando a trabalhar da mesma forma, o futuro mais próximo será pintado com as nossas cores.