Decorria o jogo em Braga e eram muitos os sportinguistas que ainda acalentavam aquela fugaz e remota esperança que se desse o milgare mais que merecido. Nas bancadas, o público ia vibrando com os golos (quando não tinha de sacudir os adeptos do Braga que gritavam os golos do Benfica) e empurravam a equipa para mais uma grande vitória. Mas o espetáculo colorido da bancada e de futebol dentro das quatro linhas, foi tão ou mais bonito ao que se assistia no banco de suplentes do Sporting Clube de Portugal.

Jorge Jesus controlava os adeptos enfurecidos, dizendo-lhe que era altura de mostrar a superioridade de ser Sporting. O treinador esbracejava, confortava, pedia atitude e motivação, ao mesmo tempo que de olhar distante contemplava as cadeiras vestidas de verde e se ia apercebendo que o campeonato estava perdido.
Azbe Jug, um jogador que mal vimos esta temporada e que não nos mostrou o suficiente para sabermos sequer pronunciar o seu nome, estava de pé. Batia palmas aos companheiros, abraçava Esgaio, comemorava os golos com os punhos cerrados e com um sorriso nervoso pedia novidades sobre o que se passava por Lisboa. Ricardo Esgaio, esse, não parou. Saltou da sua cadeira dezenas de vezes, falava com todos, com Jorge Jesus, e voltava-se a sentar.

Barcos estava como podia. Pequenos pulos no banco, vontade de entrar lá para dentro. Mas foi Mané quem mais me tocou em todos aqueles momentos de nervos e tristeza. Cabeça baixa, com as mãos sobre a cara, lágrimas que tentava disfarçar e ar de desespero. Foi nele que vi o que eu sentia e que todos os sportinguistas queriam expressar. O verdadeiro sentimento do que é aquele clube, que é o nosso desde o dia que nascemos e que será até ao dia que nos formos. Mané foi um de nós lá embaixo, porque ele é o menino do Sporting que teve a sorte de vir a jogar na equipa que aprendeu a amar. Ele é o menino que tinha o sonho de comemorar a noite toda no Marquês porque como jogador era campeão e como sportinguista também.

E, depois, Schelotto. Chegou apenas há uns meses mas mostrou sentir como poucos a nossa camisola. Se estava triste, muito bem disfarçou em campo com aquela forma desajeitada mas louca de fazer a ala. Uma e outra e outra vez, até que lhe falte o pulmão. Foi quando terminou a partida que o pudemos ver a encontrar consolo nos seus colegas e a agradecer à bancada, entre lágrimas.

Tudo isto para dizer que o orgulho que temos neste grupo também passa pelas constantes demonstrações de compromisso para connosco. Não poderíamos pedir um grupo de jogadores que mais acreditasse no nosso projecto, que mais respeitasse a voz dos adeptos e que mais agradecimentos nos dirigissem. Não foram campeões mas mostraram todos os jogos ser superiores e, se por vezes faltou qualidade, nunca faltou a vontade de inverter mais resultados nem a raça e entrega que se pede a quem veste Sporting.

Hoje, o presente não nos parece risonho, mas não me lembro nunca de ver um plantel tão determinado, com tanta qualidade e que sentisse tanto as dores de ser Sporting. O meu obrigado, sentido e sincero, e a esperança que todos eles ensinem a quem chegar o que é preciso para usar a camisola mais bonita do mundo e o respeito por quem canta o nosso nome por todo o mundo.

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa