O ódio é um sentimento inútil. Canalizar energia para alimentar esse tipo de relação com algo ou alguém é, além de pouco produtivo para a nossa felicidade, dar uma importância absurda a algo ou alguém com o qual não sentimos qualquer tipo de empatia ou mesmo simpatia. A vida é curta, o pouco tempo que temos deve ser bem gerido, há milhões de coisas interessantes para ver, ler, fazer. Há milhões de sítios diferentes para conhecer e outras tantas pessoas para conhecer. O mundo é cada vez mais pequeno, mas contínua a ser um lugar suficientemente grande para que tenhamos de andar aos encontrões com quem não desejamos.

Esta época a rivalidade com o Benfica acentuou-se. Bastante mesmo. Há um bom sintoma nesta contenda: o Sporting finalmente reune forças para colocar em causa toda a fanfarronice e dissimulada vontade de assentar os alicerces da muito anunciada “hegemonia”. Esta postura provocou as agendas e as artes da propaganda encarnada. Começou há dois anos, atinge níveis históricos durante esta época. Sim, é verdade, a aposta em JJ agitou ainda mais as destiladoras de azia e o Sporting saltou para a frente de JJ, colocando-se no meio do recreio a defender a sua milionária aposta no treinador que colocou o clube rival a jogar futebol.

Pinto da Costa deve ter gostado. Sempre apreciou uma boa briga entre os rivais de Lisboa e esperou pacientemente o desgaste dos “mouros” como o fez tantas outras vezes no passado, esperando ultrapassá-los sem que estes dessem por isso. Azar dos azares, já não estamos nos anos 80. A luta dos rivais da capital já não os tolda o suficiente para irem pedir a “ajudinha” do Papa do Norte. Além disso sabe-se da admiração mútua entre Vieira e PdC, pupilo e mestre fazem os possíveis e impossíveis para deixarem os cães lutar sem nunca ferir a posição de cada um à frente do clube. Só quem não presta atenção a nada é capaz de passar ao lado da especificidade das farpas vermelhas a dragões nunca envolverem as acções e posição de Pinto da Costa.

Felizmente que o Sporting entendeu de vez que a sua aliança com algum dos rivais só o enfraquece. Primeiro porque é anti-natura. Segundo porque os motivos que geram as aproximações são por norma um sintoma de má estratégia, que segue à risca a maquiavélica regra de “inimigo do meu inimigo, meu amigo é”. O nosso caro Nicolau nasceu antes de existir futebol em Portugal, mas se fosse vivo, tenho a certeza que mudaria todo este capítulo do “Principe”. Aliás todas as sinergias do desporto-rei nacional davam para vários volumes de conselhos (e provavelmente não daria para aprender com nenhum). Para o Sporting, qualquer tipo de aliança ou simpatia significa, neste momento, perda de espaço de acção. Acima de tudo porque se afirma como um Challenger do sistema actual e isso deverá ser, com todo o meu acordo e apoio, um património do qual não deverá abdicar até que algo mais transparente e assente no mérito desportivo governe as instituições e emblemas do país desportivo.

Ao contrário dos nossos rivais, ao Sporting não chega ganhar. O ADN do nosso clube não é esse e só as almas muito pobres assentam a razão dessa cultura na numérica prova de que ganhamos menos que os outros. Não, não é isso. Não teria problema nenhum em admitir que essa foi uma causa, mas o efeito da mesma enraizou-se de forma definitiva. Mesmo que o queiramos, não conseguiremos nunca mover o peso bruto da nossa massa adepta para seguir estratégias de “tudo ou nada” ou pactos assumidos de “dividir para reinar”. Sabemos e queremos assumir a nossa diferença, sem querer ser paladinos de nada, sem quer apregoar moralidades baratas que possam ferir o orgulho de outras afiliações.

Para mim o Sporting deveria resistir à tentação de odiar os seus rivais, nunca lhes dando essa importância, assumindo a rivalidade e a paridade…mas nunca a condição subalterna de odiar Benfica e/ou Porto. Esse seria um estado que sendo atingido dentro de pouco tempo iria trazer muito mais harmonia ao nosso próprio caminho, muito mais foco à nossa estratégia, muito mais energia para dar os passos que faltam rumo à identidade de um Grande clube europeu. Essa ascensão e recusa à mixórdia de polémicas começa no que o Presidente diz e acaba no que as claques cantam. Começa num dia e nunca mais terminará…porque esse também é um problema das “modas” verdes e brancas: raramente levamos algo de bom até ao fim. Devemos ser um dos emblemas que mais luta sem passar de nível. E meus amigos, o nosso próximo nível é deixar o Benfica e Porto a falarem sozinhos…quem sabe não acabam por se morder e trocar venenos no meio do processo.

Não se entenda que opino a favor da retirada na luta por voz e influência positiva dentro das instituições, aí sim é para arregaçar as mangas e encher o peito e dizer o que for preciso. Nunca receberemos o respeito de ninguém vestindo a pele de borregos mudos e virgens ofendidas, não dizendo, criticando ou apontando soluções diferentes das que vão cozendo e rompendo o nosso futebol todos os dias.

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca