O problema já tem barbas. Sempre que um jogador (e essencialmente o seu empresário) sente que tem mercado e o clube o tem como precioso para atingir metas desportivas gera-se um ambiente estranho para com a direção do clube.

Os jogadores mais conscientes juntamente com os representantes mais profissionais resolvem as diferenças existentes com reuniões, diálogo, compromissos e cedências de parte a parte. Os atletas mais “apressados” quando representados por agentes “vale tudo” recorrem ao diálogo…mas com a imprensa, com fugas de informação contraditórias, confissões de “estados de alma”, ameaças veladas, é um vasto leque de golpes baixos que visa acima de tudo criar atrito, exasperação e reação emocional por parte da entidade empregadora. Como disse antes, este “bailado” de esquemas já é sobejamente conhecido e por exemplo Bruno de Carvalho já viu os suficientes para entender que o tempo e o silêncio são o melhor antídoto.

Desenganem-se os que defendem que a melhor solução é castigar, obrigar, invocar o contrato assinado. Esse é o efeito desejado por parte dos representantes dos jogadores. Parece estranho, mas estas guerras não são para ser ganhas nos tribunais de trabalho (e muito menos na imprensa), mas sim na ruptura da capacidade de diálogo. Aos empresários que usam destes expedientes o “ouro” reside no momento em que se firma uma incompatibilidade entre jogador e clube, pois normalmente acarreta uma agressividade hostil por parte dos adeptos, logo, gerando o clima perfeito onde uma gestão é “obrigada” a tomar uma decisão contrária à que desejaria no início do processo.

O dilema é sempre escolher entre um atleta “contrariado” (supostamente a fazer decrescer a sua mais valia desportiva e financeira) ou uma venda deficitária (quando todo o imbróglio é iniciado existe sempre um ou mais clubes que asseguram uma má proposta ao clube e excelente ao jogador). Novidades? Zero. É sempre o mesmo truque, os passos são, mais ou menos, sempre os mesmos e os desfechos variam conforme a experiência do clube em manter-se calmo e cínico e a estupidez do atleta em fazer “all in” na birra.

Slimani é só o caso mais recente de um suposto braço de ferro, o caso mais óbvio de um processo em que um clube deseja o argelino, mas que não o valoriza o suficiente para investir o que o Sporting entende ser o seu valor de transferência. Penso ser da mais evidente oportunidade recordar que são ínfimos os casos em que um jogador decide hipotecar duas ou mais épocas (Slimani tem 28 anos) para “castigar” uma não cedência negocial de transferência. Mas mesmo assim, o que o Sporting deve fazer é o que qualquer pai faz quando um filho explode numa birra: espera o mais calmo possível…deixa esvaziar o balão de histeria e depois sim, com uma frieza e firmeza clínica põe os pontos na menor quantidade de “i´s” possível.

O que tem de passar para o lado do jogador é a imagem de um clube que o valoriza e que sempre se interessou por manter esse caminho útil para ele próprio enquanto activo do clube. Nem mais, nem menos. Os estados de alma têm de ser chutados para fora, pois no melodrama o indivíduo supera sempre a instituição.

Não sei se teremos novela de Verão com Slimani ou qualquer outro atleta, acho estranho que um jogador repita “birras”, mas no futebol acontece de tudo e como tal é preciso uma abordagem para tudo. Sobretudo para as manhas e os dilemas que elas provocam. Um Sporting que valoriza imenso atletas é uma organização que tem de ter gente capaz de entender como natural (e até indicador positivo) estes problemas. Estas sim são “dores de crescimento” que vale a pena ter, mas que por não serem novidade há que racionalizar e diminuir os impactos ou mesmo desincentivar à sua origem.

Um clube grande (que não está no lote da frente europeia a nível financeiro) terá sempre muitos Slimanis em cada janela de mercado e para cada problema tem de existir uma solução, e muito mais importante que isso…uma acção preventiva em que nos anteriores 364 dias do ano se trabalhou para impedir que em apenas 1 resulte uma tomada de posição diferente da que mais beneficia o clube. Ao fim e ao cabo, o que se chama vulgarmente como “gestão desportiva”. A que horas um atleta toma o pequeno almoço, qual os laços familiares mais importantes para ele, em que loja compra gomas… hoje em dia ter jogadores que possam valer 30 milhões de euros não pode ser acompanhado de um acompanhamento distante e genérico. Estamos em 2016 e a Sporting SAD tem de ser capaz de adivinhar o que Slimani vai querer para o almoço, quanto mais onde quererá jogar nas próximas épocas.
“Knowledge is Power”.

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca