Por mais que saibamos que ainda é pré-época, por mais que saibamos que temos semanas pela frente até ao primeiro jogo oficial, por mais que saibamos que cinco dos pilares da equipa estiveram ausentes (os quatro Aurélios mais o Slimani, que praticamente apenas esteve a ganhar ritmo depois do ramadão), é impossível não ficar mal disposto com as goleadas sofridas ao longo do estágio na Suíça. Mal disposto e, porque não dizê-lo, com dúvidas em relação à composição do plantel.

Antes de me debruçar sobre questões técnicas, queria deixar uma palavra a todos os adeptos, na sua maioria emigrantes, que não regatearam um forte e constante apoio à nossa equipa. O entusiasmo de poder ver o Sporting foi sempre maior do que a desilusão por não ver a equipa ganhar e os banhos de multidão no final de cada jogo são uma fantástica demonstração de paixão clubística que merecia outros resultados.

E já que falamos em pontos positivos, aproveito para sublinhar o nome dos dois jogadores que, quanto a mim, melhor aproveitaram o estágio para marcar pontos positivos nos apontamentos do treinador: Gelson e Podence. O primeiro, quando jogou, foi sempre o jogador mais da equipa e o desequilibrador da equipa. Depois de um ano de trabalho e de crescimento, Gelson surgiu como um jogador mais maduro e capaz de tomar as opções mais acertadas. Quem também fez questão de confirmar tudo o que de bom se vinha dizendo e escrevendo a seu respeito foi Podence. Obviamente que ainda existe um longo caminho a percorrer, mas o jovem avançado fez questão de mostrar que merece um lugar na equipa principal e que traz soluções diferentes para a zona de terreno que ocupa.

Ora “soluções” é, precisamente, a palavra que nos provoca algumas dúvidas quando olhamos de novo para os jogos disputados. É verdade que um 11 como o de ontem, por exemplo, apenas seria utilizado numa eliminatória sem história da Taça de Portugal ou em jogos da Taça da Liga, mas atentando nestes quatro jogos é complicado não questionar se os dois jovens que actuaram na baliza, Jug e Stojkovic, estarão preparados para ocupar o lugar em caso de ausência do melhor da Europa? Mais, não precisará Rui Patrício de uma concorrência mais forte? A questão parece-me pertinente e faz-me lembrar que, ainda recentemente, Beto dava uma entrevista onde dizia que gostava de voltar ao Sporting.

À frente do guarda-redes creio que estamos muito bem servidos. Coates, Semedo, Oliveira, Naldo e Ewerton, este último novamente lesionado e, creio, cada vez mais perto da porta de saída (pese as inegáveis qualidades futebolísticas). À direita, Schelotto já nos mostrou do que é capaz e conseguiu convencer os mais cépticos, e João Pereira parece-me uma alternativa plenamente válida. À esquerda, novas dúvidas. Zeegelaar parece não ser capaz de libertar-se do peso da camisola e está longe de ser a locomotiva que prometia; Jefferson tem os prós e os contras que todos lhe reconhecemos.
Agora, o que não devemos é comprar a ideia que tem sido passada: que a defesa é uma merda e mete água por todo o lado. A defesa jogou sem um dos seus pilares, Patrício, e levou com quatro jogos sem um meio-campo capaz de protegê-la.

Nesse meio-campo… faltou o meio-campo. William, Adrien, João Mário, o que fez com que Bryan Ruiz jogasse sempre fora de posição e lhe fosse pedido para cumprir tarefas defensivas para as quais não está talhado. Parece-me cedo para crucificar Petrovic (embora olhando para as suas características ache questionável Slavchev nunca ter tido oportunidade de jogar na posição onde mais rende, a seis) e no meio do descalabro Palhinha acaba por correr o risco de passar uma imagem de ser menos jogador do que realmente é e, com a chegada de William, voltar a ser emprestado. O mesmo poderá acontecer a Iuri Medeiros, que mesmo sem ter tido oportunidade de fazer um jogo junto dos “titulares” será rapidamente etiquetado de não preparado para a responsabilidade de envergar a verde e branca.

Mas a dor de cabeça maior, quando olhamos para o miolo, é sentir que falta alguém para jogar quando Adrien não estiver. É verdade que Lucas Silva seria esse jogador, mas não é. É verdade que Esgaio chegou a ser ensaiado no meio-campo, no final da época passada, mas a ida aos Jogos Olímpicos deixa-me a pensar se sequer continuará integrado no plantel. Ryan Gauld é claramente uma carta fora do baralho (nem sei porque foi para estágio) e, sinceramente, tenho dúvidas que Aquilani esteja totalmente focado no Sporting. Assim sendo… ou vamos ao mercado ao assumimos que João Mário fará de Adrien sempre que for necessário.

Necessário é bem capaz de ser repensar a frente de ataque. Slimani é indiscutível, mas tudo o resto é um mar de dúvidas. Não que Spalvis não tenha qualidade, mas a possível gravidade da lesão contraída faz soar as sirenes. E o som torna-se mais estridente quando se percebe que Teo está na porta de saída. É verdade que Alan Ruiz deixou muito boas indicações, mas será que ele e Podence são os parceiros ideais para Slim? E será Barcos homem para substituir o argelino, ainda para mais numa época em que este estará ao serviço da selecção?

Por tudo isto, quer-me parecer que o plantel está longe de estar fechado. Aos 29 que foram para a Suíça juntar-se-ão os quatro campeões europeus, o que faz com que pelo menos oito jogadores venham a ser emprestados/negociados. E duvido que não existam mais contratações.

Tem a palavra Jesus, ele que preferiu um estágio a doer em vez de uma sequência de jogos com equipas de terceira. Fomos à Suíça comer chocolate amargo, mas acredito que essa foi uma opção totalmente pensada e que, muito provavelmente, o técnico quis tirar dúvidas que pudesse ter. Dúvidas que, agora, também os adeptos têm, não por não acreditar que temos matéria prima suficiente para voltar a fazer um enorme campeonato, antes por sermos levados a pensar se esta matéria prima é suficiente para não voltar a apostar apenas no campeonato e na Taça.