Daqui a uns anos, e se vingar no futebol profissional do Sporting, esta será uma das histórias mais curiosas em termos de rendimento desportivo que a nossa Academia nos poderá fornecer. Porque tinha tudo para falhar, mas começa a dar frutos.

Mama Baldé fez grande parte da sua formação no Sintrense, sendo contratado pelo Sporting para actuar nos seus últimos anos de junior. Chegou à equipa sub-19 para suprimir uma falha que já na altura tínhamos, e que se estende a toda a formação em Portugal: a falta de um avançado centro.

E tudo correu bem a Baldé na primeira temporada, a de 2013/14 (isto daqui a uns anos vai ser confuso com tanto Baldé). Foram 22 jogos e 11 golos, que lhe valeram uma promoção à equipa B enquanto ainda decorria a época. Era díficil prever se ia dar jogador. Não se tratava de um caso de talento inegável, daqueles que ainda em juvenil podemos afirmar com certezas que vai chegar à equipa principal do Sporting. Aliás, seriam mais os olhares de desconfiança do que de fé nos pés daquele rapaz.

Chegou a primeira época de sénior e Baldé teve mais dificuldades que os outros. Pela equipa B cumpriu apenas dois jogos, sendo depois emprestado ao Benfica de Castelo Branco e marcando apenas um golo em nove partidas. Estava traçado o seu destino e o mesmo seria longe do Sporting.

Foi então que um louco (algum de nós se lembraria disto?) decidiu que era tempo de adaptar um nove de raiz a… lateral direito. E foi assim que Baldé foi entrando e entrando, até acabar a época com nada mais nada menos do que 38 jogos na equipa B do Sporting.

É verdade que a necessidade é que agouçou o engenho de João de Deus. O nosso capitão, e uma das maiores promessas leoninas, sofreu uma lesão dolorosa que o iria afastar das contas. As opções não existiam e nenhum dos nossos centrais parecia apresentar a velocidade necessária para ser ajuda no ataque, como tem de ser um lateral de uma grande equipa. E João de Deus viu naquele jovem de 19 anos as potencialidade de ser útil à equipa. E foi, como tem sido.

Estes primeiros jogos de preparação mostram um jogador ainda mais evoluído naquela posição, a melhorar os movimentos defensivos, com uma componente física que lhe permite ganhar os duelos e com a vontade de ir lá para a frente. Riquicho não terá a vida facilitada durante todo o ano, isso é certo, porque Mama Baldé tem uma disponibilidade fora do normal.

Se há uns anos me dissessem que aquele rapaz ainda jogaria no Sporting, a lateral direito, tinha-me rido. Mas é por isso que não sou eu a treinar a juventude de Alcochete, um espaço onde apenas quando todas as opções estão esgotadas é que se desiste de um jogador.

De uma assentada, e com a recuperação de Mauro Riquicho, o Sporting tem agora razões para sorrir e não ter de gastar dinheiro naquela posição por alguns anos.

 

 

*às terças, a Maria Ribeiro revela os seus apontamentos sobre as novas gerações que evoluem na melhor Academia do mundo (à excepção do Dubai)